sexta-feira, setembro 30, 2011

7 memórias queer (6)

No contexto do festival Queer Lisboa João Lopes, crítico de cinema e co-autor do blogue Sound + Vision, escreve para O Sétimo Continente "7 memórias queer". Muito obrigado por esta valiosa colaboração.

1993 – M. BUTTERFLY, de David Cronenberg

A legenda talvez pudesse ser: “Mas afinal qual é o meu sexo?...”. Eis a questão: Song Liling (John Lone) é uma cantora da ópera de Pequim. Com a especificidade de, na tradição da ópera chinesa, todas as personagens serem interpretadas por homens. Quando o diplomata francês René Gallimard (Jeremy Irons) se apaixona por Song, que vê ele? O homem que faz de mulher? A Butterfly que é um homem? Ou a mulher que, sendo um homem, vive no interior do artifício codificado do espectáculo? Porque a história, qualquer história, passa por aí: o código dá prazer. E talvez que René (personagem verídica!), ignorando a duplicidade de Song, seja apenas esse amante trágico, anterior ao código, adorando na sua Butterfly um tempo primitivo, alheio à diferença sexual, envolvido numa totalidade maternal onde, a certa altura, se torna difícil respirar. Cronenberg, hélas!, não tem passado a vida a filmar outra coisa: chamemos-lhe a irrisão de qualquer diferença sexual. E que faz René? Perante o cruel vazio do desejo, assume, ele próprio, a personagem de Butterfly – é uma coisa sublime, quer dizer, próxima da nitidez da morte. Tenham medo. 

João Lopes

quinta-feira, setembro 29, 2011

7 memórias queer (5)

No contexto do festival Queer Lisboa João Lopes, crítico de cinema e co-autor do blogue Sound + Vision, escreve para O Sétimo Continente "7 memórias queer". Muito obrigado por esta valiosa colaboração.


1982 – VICTOR/VICTORIA, de Blake Edwards


Julie Andrews não interpreta exactamente uma mulher (Victoria) que se disfarça de homem (Victor). Na verdade, ela assume a identidade de um homem que finge ser uma mulher... Confuso? Sim, sem dúvida, e também devastadoramente divertido. No limite, Blake Edwards consegue colocar em cena, não apenas as fronteiras instáveis do bilhete de identidade sexual de cada um, como as suas permanentes ambivalências. Ou seja: Victoria não é tanto uma coisa ou outra... mas a sua peculiar acumulação. E neste exercício hiper-elegante, o cineasta é o primeiro a saber que o facto de Victoria (aliás, Victor, aliás, Victoria...) ser interpretada por Julie Andrews não é alheio à energia simbólica do filme e também ao seu subtil envolvimento emocional. Afinal de contas, ela foi durante muitos anos a imagem de marca de uma candura (também sexual) consagrada através de filmes como Mary Poppins (1964) e Música no Coração (1965). Mais ainda, estamos a falar de um casal: Blake e Julie eram casados desde 1969.

João Lopes

7 memórias queer (4)

No contexto do festival Queer Lisboa João Lopes, crítico de cinema e co-autor do blogue Sound + Vision, escreve para O Sétimo Continente "7 memórias queer". Muito obrigado por esta valiosa colaboração.


1971 – MORTE EM VENEZA, de Luchino Visconti

A história dos filmes, sobretudo dos mais “antigos”, pode e deve fazer-se também através das reacções e ideias que suscitaram no momento do seu lançamento: assim, hoje não temos medo do primeiro comboio filmado pelos Lumière, mas importa não esquecer que alguns dos espectadores de 1895 se desviaram nas cadeiras, receando ser atingidos pelo objecto “em movimento”. Algo de semelhante se pode dizer do filme de Visconti inspirado na novela de Thomas Mann (e, da parte do cineasta, na personalidade de Gustav Mahler): no momento da sua estreia, Morte em Veneza foi discutido menos como um ensaio sobre as ambivalências sexuais e mais como um exercício sobre a utopia de uma beleza radical – a de Tadzio (Björn Andresen), sob o olhar de Gustav (Dirk Bogarde). E talvez seja essa expressão, sob o olhar de, que, mais do que nunca, importa valorizar. Porque a visão de Gustav nunca é indiferente, muito menos assexuada; ao mesmo tempo, porém, há nela uma violência paradoxal que visa um tempo anterior a qualquer gesto sexual, uma espécie de neutralidade feliz de todas as formas de sexualidade. Bem sabemos que Gustav morre nessa contemplação, mas qualquer utopia tem um preço. 

João Lopes

segunda-feira, setembro 26, 2011

Queer Lisboa 2011 (7-9): O pai, as crianças e o par de botas

Este texto inclui a adaptação de dois textos publicados no Diário de Notícias - Brasileiros vencem 15.º Queer Lisboa (25/Setembro/2011) e Queer Lisboa 15 acaba hoje (25/Setembro/2011).

“Foi uma decisão muito difícil”, começou o júri por admitir, em comunicado oficial, que ontem à noite anunciou “Rosa Morena” (crítica aqui) como vencedor do prémio para melhor filme de ficção do Queer Lisboa 15. Primeira longa-metragem de Carlos Oliveira, a história acompanha Thomas, um arquitecto bem-sucedido dinamarquês que, após lhe ter sido negada a adopção de uma criança no seu país por ser homossexual, viaja para o Brasil com o intuito de comprar a gravidez de Maria, uma jovem das favelas de São Paulo. “Rosa Morena” conta com interpretações de caras conhecidas da televisão brasileira, como Vivianne Pasmanter. 

“Acabámos por decidir reconhecer o filme que mais nos desafiou e que levantou o maior número de complexas questões morais”, declarou o júri composto pelos actores Albano Jerónimo e Beatriz Batarda e pelo editor da revista de cinema Little Joe, Sam Ashby.

Os jurados atribuíram ainda, para o chileno Roberto Faria, o prémio de menção para melhor actor (pela sua interpretação como pugilista em “Mi Último Round”, crítica), e, para a alemã Corinna Harfouch (que protagonizou “Auf der Suche”, crítica), o prémio para melhor actriz. 

Por sua vez, “I Am” (crítica) foi o grande vencedor da secção competitiva para melhor documentário, que recebeu três mil euros da RTP2. Segundo as palavras do júri, composto pelo realizador de “José e PilarMiguel Gonçalves Mendes, Claudia Mauti e Franck Finance-Madureira, este é um “filme forte e ao mesmo tocante” que segue a crónica de viagem da realizadora Sonali Gulati que, no seu regresso à Índia, filma uma carta póstuma de amor à sua mãe a quem nunca se assumiu como lésbica, acompanhando várias famílias com filhos homossexuais. 

A ficção brasileira “Eu Não Quero Voltar Sozinho” (primeira foto), realizada por Daniel Ribeiro, e que versa a simples, bela e comovente história de amor entre um miúdo cego e o seu colega de escola, foi a escolha (justa) do público para a melhor curta-metragem. 

O Queer Lisboa projectou, durante nove dias, mais de 80 filmes (entre os quais se destaca o belo “Stadt Land Fluss” - crítica - que, aliás, foi, segundo o quadro de notas dos jornalistas afixado na área de imprensa do Cinema São Jorge, o favorito de quem votou) e encerrou ontem o seu 15.º aniversário celebrando o tema da transgressão com “Taxi Zum Klo” (1980, foto em cima), longa-metragem alemã de Frank Ripploh que, para além de a ter realizado, foi produtor, argumentista e interpretou o papel de protagonista. O filme, que é uma referência da cinematografia queer, é um acompanhamento agridoce das aventuras sexuais de Ripploh, descurando o papel do amor na sua vida. Apesar de relevante, ficámos com a sensação de que “Taxi Zum Klo” não foi a escolha mais acertada para encerrar o festival (ou qualquer outro). 

O último dia do Queer Lisboa 15 foi também assinalado pelo signo da família e das múltiplas possibilidades e formas do amor. E foi “Miss Kicki” (fora de competição, foto em baixo), projectado na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge pelas 17.00 horas, quem fez as honras de abrir o programa. 

Assinado por Håkon Liu (que esteve presente na sessão), o filme retrata a ida a Taipei (em Taiwan) de Kicki, uma mulher sueca, na companhia de Viktor, o filho de 16 anos que mal viu crescer. Quando este se apercebe da verdadeira motivação da mãe (surpreender Mr. Chang, o seu namorado virtual e um homem de negócios que só conhece do que viu no ecrã do seu computador), a viagem atinge contornos inesperados.

Filme sobre o reaprender do amor (entre Kicki e Viktor), o seu desmoronamento (Kicki e Mr. Chang) e também a sua descoberta (Viktor e Didi, um jovem taiwanês), “Miss Kicki” vale sobretudo pela direcção artística absolutamente extraordinária (da responsabilidade de Chin Shih-wei e Liao Bing-yi) e pela notável interpretação de Pernilla August, a protagonista. De ressaltar, muito para além disso, a proximidade dos cenários com o próprio realizador, que em “Miss Kicki” se estreia no campo das longas-metragens (encontrando-se a preparar agora um segundo fime, “Kill me, Fuck me, Hug me”). Filho de uma norueguesa e de um chinês, Håkon Liu cresceu em Taiwan e estudou em Oslo, sendo actualmente professor de representação para cinema em Gotemburgo (Suécia). Numa edição anterior, o Queer Lisboa apresentou já “Lucky Blue” (2007), uma curta-metragem do mesmo realizador. 

Após um segundo programa de curtas-metragens inserido na secção “Queer Art” (às 17h00, na sala 3) e de “William S. Burroughs: A Man Within” (às 19.30 na sala 3), um documentário sobre o escritor de “O Festim Nú”, da autoria de Yoni Leyser, o festival gay e lésbico de Lisboa apresentou, às 18h00 e na sala 2, o terceiro episódio do “Queer Pop”, que dedicou as atenções ao cantor David Bowie e à sua androginia invulgar e característica, numa retrospectiva comentada pelos autores do blogue Sound + Vision de telediscos produzidos entre 1972 e 1999. 

Nos últimos três dias do Queer Lisboa importa destacar, de igual modo, a repetição de “Die Jungs vom Bahnhof Zoo”, documentário sobre prostitutos em Berlim que, apesar da sua importância social e política, não deixa de transparecer um fraco tratamento das imagens e dos factos; a projecção (antecedida por um teledisco que tudo tem de gratuito – “Revolving Door – New Fuck New York”) do extraordinário documentário “The Advocate for Fagdom”, que realiza uma retrospectiva comentada e bem montada da obra de Bruce LaBruce; e a exibição de “Contracorriente”, longa-metragem latino-americana que peca pelo seu sentimentalismo, interpretações e narrativa romântica e formatada, como se estivéssemos diante de uma absoluta telenovela. 

Relativamente às curtas-metragens, ressaltamos “Uniformadas”, filme espanhol de Irene Zoe Alameda sobre a solidão e a descoberta da sexualidade em tempos de infância com uma direcção artística e fotografia espantosas. Já “Vibratum Vitae” (foto em cima), escrito e realizado por Pedro Barão, deixou-nos com a impressão, não obstante de se encontrarem presentes algumas ideias cinematográficas fortes, de que o filme resultaria se não fosse o carácter hermético dos diálogos ou a tentativa de situar a dramaturgia em finais do século XIX (com uma fotografia e uma direcção artística que se anulavam entre si). 

O momento maior do Queer Lisboa 15 foi, no entanto, “The Life and Death of Celso Junior”, fundador do festival que fez uma apresentação inesquecível de si mesmo (foto em baixo) após a projecção do documentário grego de Panayotis Evangelidis, e pondo-nos a questionar sobre aquele que, afinal, é um dos grandes problemas do homem e que a maior parte dos filmes do festival tratou – a identidade.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Queer pop (16/30): George Michael

 
“Outside” (1998), de George Michael 
Realização de Vaughan Arnell 

Um teledisco como resposta? É de certa forma uma ideia que pode fazer sentido através das imagens que vemos neste teledisco. Editado como single em 1998 (integrado depois no alinhamento da antologia Ladies and Gentlemen: The Best Of George Michael), Outside evoca o caso que envolveu o músico, quando foi surpreendido por um agente à paisana numa casa de banho de Los Angeles. 

O teledisco, assinado por Vaughan Arnell, começa por mostrar uma sequência que parece saída de um filme porno dos anos 70. Um corte abrupto leva-nos a uma acção policial (talvez semelhante à que envolveu o cantor), daí a câmara partindo para uma viagem voyeurística pelos espaços da cidade, cruzando esses planos com outros, captados numa casa de banho entretanto transformada em discoteca. E com George Michael de uniforme...

Queer Lisboa 2011 (6): O amor em tempo de colheita

No sexto dia do festival de cinema Queer Lisboa 15 viajamos para a Alemanha que não é nem urbana ou berlinense. Muito pelo contrário, a primeira incursão de Benjamin Cantu (nascido em 1978 na Hungria) nas longas-metragens de ficção é um olhar íntimo sobre uma quinta no vale de Nuthe-Urstrom, a 60 quilómetros de distância da capital, e que serve em Harvest (título original: Stadt Land Fluss, que remete, com mais ou menos ironia, para o nome alemão e categorias – cidade, país, rio – do jogo infantil “stop!”) de paisagem para a improvável história de afectos que se desenvolve. Observando, com tom impressionista e contemplativo, um grupo de jovens estagiários que ambicionam receber o título de agricultores, a narrativa acaba por se focar nos sentimentos que natural e progressivamente os solitários Jacob (Kai-Michael Müller) e Marko (Lukas Steltner) vão nutrindo um pelo outro em época de colheita. Adequando-se à placidez do campo, é através de um ritmo sereno que Benjamin Cantu, que praticamente filmou sem actores profissionais, constrói este drama sedutor sobre o amadurecimento e a descoberta do amor. Sem dúvida a maior revelação, na área das longas-metragens de ficção, da 15.ª edição do festival gay e lésbico de Lisboa, Harvest foi exibido ontem, às 22h00, na sala 1 do Cinema São Jorge, contando hoje com repetição, às 17h00. 

De Florent: Queen of the Meat Market, sobre um restaurante que desempenhou um papel relevante no activismo pelos direitos da comunidade LGBT, não encontrámos nem cinema nem uma forma apelativa de documentar uma realidade passada, parecendo apenas que o realizador (David Sigal) filmou, com pouco talento, Florent (que fechou em 2008) para reforçar a nostalgia de quem o frequentava. Já do documentário Island, só podemos falar bem: Ryan Sullivan constrói a narrativa da sua vida, contando-nos como o irmão foi expulso de casa por ser gay e como Sullivan, sete anos depois, viaja até o mundo da pornografia da Treasure Island Media. 

Do primeiro programa de curtas-metragens, temos apenas a destacar “Chasse à L’Homme” (Stéphane Olijnyk), sobre a perigosa ligação de desejo entre um terrorista e um agente da Unidade de Intervenções Especiais, e “Spring” (Hong Khaou), que explora o fetiche próximo da morte.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Queer Lisboa 2011 (5):
Mostrar o não-normativo com o não-normativo

O quinto dia da 15.ª edição do Queer Lisboa começou com uma curiosa e íntima carta de amor e de arrependimento, “I am” – i am Sonali Gulati (a realizadora), ou i am a lesbian, que, muito essencialmente, é o tema central deste documentário invulgar e, em dados momentos, comovente. Crónica social e política, o filme acompanha não só a viagem realizadora à Índia após a morte da mãe (a quem nunca se assumiu) como também retratos de várias famílias com filhos gays e de lésbicas. 

Apesar do dia ter sido preenchido com produção cinematográfica menos mainstream, a estreia de “Romeos”, filme sobre um jovem transgénero na sua fase de descoberta sexual, mostrou como a narrativa consegue ligar um lado pedagógico e, ao mesmo tempo, com a pretensão de se dirigir para o grande público. Apesar da realização e argumento de Sabine Bernardi não ter grande mérito (há um exagero melodramático que roça, demasiadas vezes, uma pulsão meramente televisiva – para não dizermos própria de uma telenovela), reconhecemos como excepcional a prestação de Rick Okon, que interpreta a personagem de Lukas. 

Pelo contrário, “In the Woods” (título original grego: Mesa Sto Dasos) fica na memória como a surpresa mais desagradável do Queer Lisboa 15. A sessão decorreu às 22h00 maior sala do São Jorge (Manoel de Oliveira) e, durante a hora e meia de filme, mais de oitenta pessoas (!) saíram a meio da projecção, havendo ainda lugar para uma estranha declaração de um espectador frustrado, que, antes de pedir desculpas, afirmou que “o atrasado mental que seleccionou isto deve estar a gozar connosco”. 

Comecemos por ignorar, antes de tudo, as considerações sobre o filme e a indignação do público para denunciar aquilo que é, muito simplesmente, um erro de programação. “Mesa Sto Dasos” não tem qualquer ponta de dramaturgia (salvo uma breve ligação que podemos fazer nos últimos momentos), clássica ou não convencional, apresentando-se apenas como uma obra experimental, digamos um exercício de estilo (de Angelos Frantzis), que segue a relação de desejo e afectos de três jovens, e que acabam por se relacionar sexualmente uns com os outros. O facto é que “Mesa Sto Dasos” (sendo bom ou mau, isto para agora não interessa), não tendo narrativa não tem o único requisito necessário para estar presente na competição para uma longa-metragem de ficção (por que não a secção Queer Art ou uma sessão especial?). Seleccioná-lo, por isso, para a sala e para o horário mais concorridos demonstra não apenas incongruência como também uma opção que é anti-público (ou, pelo menos, “grande público”). 

Por sua vez, “Meso Sto Dasos”, considerado meramente como objecto de expressão artística, tem um impacto surpreendente e interessante, sobretudo nas partes iniciais e finais (ressaltemos o papel da fotografia, que foi, também, da responsabilidade do realizador). No entanto, o deslumbre meramente estético não salva, nem de longe, nem de perto, a longa-metragem, que é constituída por um conteúdo profundamente intrincado, fechado em si mesmo (sem saber como comunicar para o espectador) e emproado.

terça-feira, setembro 20, 2011

7 memórias queer (3)

Durante o festival Queer Lisboa João Lopes, crítico de cinema e co-autor do blogue Sound + Vision, escreve para O Sétimo Continente "7 memórias queer". Muito obrigado por esta valiosa colaboração.

1959 – BEN-HUR, de William Wyler 

A relação entre o judeu Ben-Hur (Charlton Heston) e o romano Messala (Stephen Boyd) entrou para a história da cinefilia queer como um caso que envolve, de uma só vez, a sugestão erótica e a ambivalência figurativa. O escritor Gore Vidal, um dos argumentistas (não creditado no genérico), recordou a situação no documentário The Celluloid Closet, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman [video]. Não se tratou de criar um aparato panfletário (em boa verdade, temática e esteticamente inconcebível em Hollywood de finais dos anos 50), mas sim de jogar com as convenções da superprodução épica (e bíblica!) para introduzir algumas nuances que contaminam o essencial. A saber: os corpos e os olhares dos actores. Olhando agora para estas imagens, deparamos com uma subtil perturbação dos códigos masculinos dominantes na época que talvez não possa ser separada de toda uma reconversão da(s) sexualidade(s) que que os filmes também começavam a integrar. Veja-se, nos nossos dias, a admirável memória crítica dessa mesma época que é a série Mad Men

João Lopes


Queer Lisboa 2011 (4): Um confronto com o passado e o presente

O Queer mostrou ontem não ser apenas um espaço de divulgação meramente cultural. Num dos dias em que não apresentou “noites hard”, principiou-se a projecção de filmes no âmbito da intersexualidade e respectiva representação visual. Documentário profundamente panfletário, “Working on it”, apesar do seu lado pedagógico, é preguiçoso na forma como comunica com o espectador, limitando-se a ligar a câmara e apontá-la para as declarações e convívio dos seus 15 protagonistas. Pior ainda (e levando a ideia de cabeças falantes ao extremo) só mesmo a curta-metragem que se seguiu, “Gender Trouble” (Roz Mortimer), que retrata alguns casos que (ultra)passam problemas de identidade e de género, sobrepondo-os a um mosaico inconsequente de imagens e padrões variados. 

Por sua vez, o documentário australiano que antecedeu esta sessão, “Shut up Little Man! An Audio Misadventure” (Matthew Bate, foto), dá uma lição de cinema documental – preenchido com ritmo consistente e ponderado, sem deixar de ser elucidativo, rigoroso e reflectir as consequências de um caso passado na contemporaneidade. Essencialmente, “Shut up Little Man!” acompanha a divulgação e partilha viral de cassetes com a gravação das discussões tidas por um dois homens consumidos pelo álcool (um deles homofóbico), na era pré-Internet. 

A noite terminou com a longa-metragem “Fjellet” (internacionalmente divulgada como “The Mountain”), seguida da curta experimental “Exercício n.º 3”, vinda da Escola Superior de Teatro e Cinema e assinada por Isabel d’Escragnolle-Taunay (que, apesar de uma presença convincente de Susana Chaby-Lara, nos deixou a impressão de que o mote da confusão emocional deixou transparecer um resultado que nada mais é que confuso). Por sua vez, “Fjellet” acabou por demonstrar, apesar do seu olhar belo e contemplativo (de Ole Giæver), uma dramaturgia pobre, básica e pouco convincente (fruto, da mesma maneira, das interpretações de Ellen Dorrit Petersen e Marte Magnusdotter Solem).

Queer Pop (15/30): Rosin Murphy


Movie Star (2007), de Roisin Murphy 
Realização de Simon Henwood 

Há telediscos que nos dizem que gostam de cinema. The Universal, dos Blur, gosta de Kubrick. Já This Is Hardcore, dos Pulp, gosta das memórias dos filmes clássicos de gansters mas, também, da cor do cinema de Douglas Sirk... Movie Star, teledisco assinado por Simon Henwood, gosta de John Waters. E coloca em cena, em volta da figura de Roisin Murphy, uma pequena multidão de figuras que poderiam ter saído dos filmes deste realizador, não faltando quem evoque a memória de Divine. 

Movie Star foi um dos singles extraídos do alinhamento do álbum Overpowered, o segundo a solo na obra de Roisin Murphy (em tempos a voz dos Moloko). A canção junta uma alma pop a uma pujança dançável que dela faz um dos momentos ainda hoje vibrantes do alinhamento desse disco de 2007.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Queer Lisboa 2011 (3): Sob o signo da descoberta

Estamos no meio do festival e começámos com os autores de Sound + Vision, João Lopes e Nuno Galopim, a comentar, às 18h00, um panorama dos telediscos do último ano (apresentaram-se, a título de exemplo, nomes tão diversos como Lady Gaga, James Blake e Patrick Wolf). 

Na hora seguinte, confrontamo-nos com a revelação mais surpreendente, até o dia de hoje, do festival, no que respeita a área dos documentários. Miwa, a Japanese Icon foi assinado por Pascal-Alex Vincent e apresenta-nos, de forma despretensiosa, concisa e lúdica, a vida e obra de Akihiro Miwa, que começou como um jovem cantor com feições invulgarmente andróginas e, após o sucesso da sua interpretação em Black Lizard (1968) e a ousadia em admitir a sua homossexualidade, acabou por ser internacionalmente reconhecido. 

Do outro lado do mundo, viajámos para o Brasil e para um “simpático” (para o bem e para o mal) melodrama chamado “Rosa Morena”. Sobre um arquitecto europeu homossexual que, por desejar obcecadamente ser pai, compra um filho a uma pobre jovem de 21 anos, estamos diante de um filme tão sensível quanto político e filosófico. Isto porque existe, nesta pertinente co-produção entre a Dinamarca e o Brasil, algo que faz, com mais ou menos talento, com que questionemos os limites éticos da adopção monoparental e os constrangimentos legais sobre os casais constituídos por pessoas do mesmo sexo. O filme repete no dia 20, às 17h00. 

Pouco tempo depois, esperávamos ansiosos a curta-metragem com François Sagat, Plan Cul, que desiludiu por um Olivier Nicklaus (autor e protagonista) sem qualquer piada. Em paralelo, a longa-metragem que se seguiu (Auf Der Suche, de Jan Krüger), sobre uma mãe em busca do seu filho com o seu ex-namorado, seria melhor caso fosse apenas uma curta. Em vez disso, a narrativa parece não ir a lado nenhum, expandido aquilo que não é interessante nem em termos visuais ou dramatúrgicos. 

A noite terminou com três curtas-metragens hard. A mais interessante foi uma animação subversiva, contextualizada durante a vida de Jesus Cristo, sobre como Judas traiu o seu mestre (não se entendeu foi a selecção para um festival como o Queer Lisboa). Já o israelita The Wanker, de Yair Hochner, mostrou-se ser como um grande nada, tal como o português 10 Dias (Sem Bater), de Luís Assis. Tal como foi opinado na sessão de perguntas e respostas que procedeu a projecção dos filmes, “10 Dias” é, em boa verdade, uma impressionante obra que tem tudo de anti-cinematográfico. Carecendo de um bom sentido de mise-en-scène (os enquadramentos são, não raras vezes, intrusivos e descuidados), o filme mistura, aparentemente, o documentário (fruto de problemas de produção) e a ficção. Contudo, “10 Dias” não deixa de transparecer uma falsidade e artificialidade perversas.

7 memórias queer (2)


Durante o festival Queer Lisboa João Lopes, crítico de cinema e co-autor do blogue Sound + Vision, escreve para O Sétimo Continente "7 memórias queer". Muito obrigado por esta valiosa colaboração.

1953 – OS HOMENS PREFEREM AS LOURAS, de Howard Hawks 

A loura era Marilyn Monroe, como sabemos (e como Madonna, hélas!, nos recordou, através do incontornável teledisco de Material Girl, lançado em 1985). Mas importa não esquecer a morena, Jane Russell, afinal a personagem realista desta vertiginosa comédia dos sexos. Que sexos? Pois bem: o “masculino”, o “feminino” e... os outros. Afinal de contas, Hawks já contava na sua admirável filmografia com saborosos antecedentes como Duas Feras (1938), O Rio Vermelho (1948) e A Culpa Foi do Macaco (1952). Numa cena emblemática, e de emblemática ambiguidade, Russell cantava uma canção de suave e muito romântica demanda amorosa, devidamente intitulada Ain't there anyone here for love? (Hoagy Carmichael / Harold Adamson), surgindo a sua deambulação sensual devidamente enquadrada por uma sereníssima iconografia gay, tão festiva quanto… natural. Moral da história: é sempre bom regressarmos à idade da inocência de Hollywood, antes das perversões do digital. 

João Lopes 

domingo, setembro 18, 2011

Queer Lisboa 2011 (2): Como conquistar os afectos

Este texto adapta parte de uma notícia escrita para o Diário de Notícias e que foi publicada ontem, no dia 17 de Setembro de 2011. 

O segundo dia de 15.º aniversário do Queer Lisboa foi assinalado pelo cinema emergente latino-americano. Um dos casos foi uma co-produção entre o Chile e a Argentina, “Mi Último Round”, escrita e realizada por Julio Jorquera Arriagada, e que decorre no sul do Chile, em Santiago, onde o autor nasceu e cresceu. Após ter trabalhado nas curtas-metragens “Gemidos y Silencios” (1999), “El Día” (2000) e “Para el Final” (2007), Arriagada trabalhou como assistente de realização e produtor em diversos filmes até se lançar nas “longas” com este drama interessante sobre a descoberta da sexualidade e do amor. Debruçando-se sobre um barbeiro e pugilista amador que, por ser epiléptico, é obrigado a abandonar a paixão pelo boxe, o filme acompanha, com contornos realistas, como a personagem se torna amante de Hugo, um assistente de cozinha, e tenta proteger a sua relação do exterior. “Mi Último Round” parece por isso transfigurar o tema do boxe e do amor num só. Contudo, há no filme o combate contra dois inimigos maiores, que também se transformam num: a epilepsia e os preconceitos da sociedade (e essa é a sua ideia dramatúrgica mais forte). O filme, exibido às 17h00, foi seguido da curta-metragem brasileira “Duelo”, de Marcelo Lee

Ao mesmo tempo, foi exibido “Frauenzimmer”, documentário alemão de Saara Waasner sobre três avós alemãs que são prostitutas, que deixou, apesar do caso apelativo e do tema do envelhecimento, a impressão de que seria mais interessante não fosse o seu formato iminentemente televisivo e com dispensáveis talking heads. 

Foi, no entanto, o documentário tailandês “Poo kor karn rai” (ou “The Terrorists”) que acabou por vencer o título de pior filme do dia, e que principia com a impressionante declaração, expressa pelo realizador (Thunska Pansittivorakul), de que o filme se preocupa com as vítimas da repressão policial sentida durante as manifestações em Banguecoque, na Primavera de 2010. O exercício acabou, no entanto, por revelar não ter absolutamente nada de político (as imagens, na maioria pornográficas, que se sucedem demonstram, para além de um profundo autismo e descuido, uma fragilidade que não se consegue sustentar nos títulos informativos e históricos que se sobrepõem à filmagem). Arrisca e é ousado sim, mas que adianta ser provocador se não há ideias (neste caso cinematográficas)? 

Muito pelo contrário, a ficção “La Llamada” (Stefano Pasetto) foi a maior surpresa do dia de ontem, e que nos conduz, partindo de uma narrativa fluida e congruente e através de uma fotografia simples mas fascinante, para a paisagem da Patagónia e da relação de duas mulheres que se juntam (e se separam) pela força do seu passado. É importante realçar em “La Llamada” a relação que Pasetto tem com a música, com as actrizes (aplausos para a magnífica Sandra Ceccarelli) e a forma como a intimidade é filmada e – é precisamente isto que o documentário que referi no parágrafo anterior não consegue – comunicada. 

Depois da sessão “Queer Pop”, na qual Nuno Galopim e João Lopes (autores de Sound + Vision) comentaram os telediscos de Kylie Minogue, vimos “Ausente”, ficção de Marco Berger que quase esgotou a sala Manoel de Oliveira. Seguida da curiosa curta-metragem “Blokes” (sobre o desejo de um adolescente nutrido por um vizinho durante a repressão chilena liderada pelo ditador Augusto Pinochet), a longa-metragem decepcionou pelas interpretações, por não arriscar mais do que queria (a história mostrava-nos a forma invulgar como um aluno engana o professor de Educação Física para invadir o seu espaço de privacidade) e por entrar em caminhos (técnicos e dramáticos) próprios de uma telenovela (e a sentimentalista sequência final confirmou isso mesmo). 

A noite terminou com um desafio chamado “Leave Blank” (secção Noites Hard). Realizado e interpretado por Todd Verow, este pequeno e livre filme pornográfico que, essencialmente, acompanha um prostituto e um quarentão – o autor – nas suas aventuras sexuais, faz-nos rever, para além conceito de imagem “documental” (infelizmente, a ficção, confirmada no final, anula e baralha-nos a realidade que seguimos ao longo do filme), a ideia de privacidade (falamos da ousada exposição do corpo de Verow) e de ficção (o que é uma encenação diante da evidência, várias vezes relembrada, de que tudo é filmado?). E “Leave Blank” peca, para além da invalidação final do seu conteúdo pseudo-documental, pela sua quebra de ritmos.

sábado, setembro 17, 2011

Queer Lisboa 2011 (1): O clamor da transgressão

Decorreu ontem a gala de abertura da 15.ª edição do Queer Lisboa, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge. Depois dos teasers da peça de teatro Silenciados (encenada por Gustavo Del Río), que anteviu uma utilização desadequada da música e das imagens projectadas, seguiram-se os discursos esperados de figuras como Albino Cunha, presidente da Associação Janela Indiscreta que organiza o festival de cinema, João Ferreira, director artístico do Queer Lisboa, Ana David, também da direcção do festival e a actriz Beatriz Batarda, que integra o júri da secção competitiva do prémio para longa-metragem. Subiram ao palco outras figuras como Albano Jerónimo, Claudia Mauti, Franck Finance-Madureira, Nuno Galopim ou João Lopes

Por fim, o filme da noite. “Uivo” é, simultaneamente, o título desta longa-metragem de Rob Epstein e Jeffrey Friedman e do poema (escrito em 1955) que celebrizou para a posterioridade, pela controvérsia e processo judicial provocados pela sua acusada obscenidade, Allen Ginsberg (interpretado por um talentoso James Franco que declara, uma vez mais, o seu gosto por personagens outsiders). 

Há, infelizmente, algo em “Uivo” (filme) que falha profundamente ao tentar representar a liberdade de “Uivo” (poema). Entre os planos simples (mas demonstradores de uma extraordinária representação) de James Franco a declamar a criação do poeta da geração beat na Six Gallery (São Francisco) e as sequências animadas surrealistas que acompanham grande parte da recitação preferimos os primeiros – muito simplesmente porque a utilização do desenho pareceu demasiado impositivo e anulador de uma interpretação mais livre do espectador. 

Não obstante as opções profundamente desapropriadas da fotografia e variações da saturação e os momentos com grande quebra de ritmo há instantes, sobretudo na segunda parte do filme, merecedores de atenção, quer nas cenas de tribunal como de declamação de “Uivo” (diz-nos João Lopes, no Sound + Vision, que “a obscenidade de que Ginsberg foi acusado deu lugar à "maquinaria da noite", abrindo as vias misteriosas e universais do sagrado”, signo com o qual nos despedimos de “Uivo”). 

O filme estreia nas salas de cinema UCI no dia 22 deste mês. 

Depois do “Uivo”, a festa no foyer do piso superior do cinema São Jorge. Com um bar aberto patrocinado pela Absolut Vodka e pela Jameson, os convidados puderam conviver acompanhados da música do DJ António Almada Guerra.

7 memórias queer (1)


Durante o festival Queer Lisboa João Lopes, crítico de cinema e co-autor do blogue Sound + Vision, escreve para O Sétimo Continente "7 memórias queer". Muito obrigado por esta valiosa colaboração.

1935 – SYLVIA SCARLETT, de George Cukor
Se é verdade que existe uma paisagem queer no interior da história do cinema, talvez seja necessário descrevê-la como algo mais do que um capítulo dedicado a outro(s) sexo(s). Porquê? Porque a própria sensibilidade queer resiste a essa catalogação fechada: há nela um desejo de pluralidade que, através da sexualidade, nunca é estranho à proliferação das formas & narrativas. Katharine Hepburn, em Sylvia Scarlett, talvez possa ser um caso emblemático. Poderemos “contextualizá-lo” a partir da homossexualidade de George Cukor e da forma discreta como ele a viveu nas suas gloriosas décadas de Hollywood. Mas o enquadramento “biográfico” não basta. O que mais conta é que, nesta aventura visceralmente romântica, a passagem de Sylvia (Hepburn) para “Sylvester” actua nesse lugar sempre exposto que é o corpo do actor, aliás, da actriz. E ficamos a saber que a identidade de Sylvia integra todas as ambivalências que nela habitam. 

João Lopes 

sexta-feira, setembro 16, 2011

Queer Lisboa comemora 15 anos celebrando a transgressão

Começa hoje no Cinema São Jorge a 15.º edição do Festival Gay e Lésbico de Lisboa, o Queer Lisboa, sob o signo da transgressão. A confirmá-lo estão os filmes de abertura e de encerramento (“Taxi zum Klo”, filme alemão de 1980 de Frank Ripploh e que, segundo o comunicado de imprensa, “transgride, não apenas os cânones estéticos e narrativos cinematográficos, como transgride as normas vigentes de sexo, de sexualidade e de género”). 

A abrir o festival está a longa-metragem está “Uivo”, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman e com James Franco a encarnar o poeta norte-americano da geração beat Allen Ginsberg. Poderemos vê-la em antestreia hoje às 21 horas na Sala Manoel de Oliveira. Esta ficção estreia no dia 22 de Setembro deste ano nos cinemas UCI. 

Esta edição do festival mais antigo da capital conta com 84 filmes, a maioria dos quais (20) sendo norte-americanos. Este ano poderemos encontrar, para além das sessões especiais (3 longas-metragens), do Panorama (4 filmes), do Queer Art (15), do Assume Nothing: Intersexualidade e Representação Visual (7) e Noites Hard (11), três secções competitivas. 

Como júri da secção para a melhor longa-metragem (10 filmes em competição) encontram-se a actriz Beatriz Batarda (podemos descobri-la, actualmente em exibição nas salas de cinema portuguesas, a protagonizar “Cisne”, de Teresa Villaverde), o actor Albano Jerónimo e o editor da revista de cinema queer Little Joe, Sam Ashby

Por sua vez, na secção para o melhor documentário (10 filmes em competição), o júri é composto pelo realizador de “José e PilarMiguel Gonçalves Mendes, pela co-programadora do Milano MIX Festival, Claudia Mauti, e pelo jornalista e responsável pela criação e organização da Queer Palm no Festival de Cannes, Franck Finance-Madureira

Já o prémio para melhor curta-metragem (22 filmes em competição) será seleccionado pelo público. 

Da responsabilidade de Nuno Galopim poderemos ver uma secção Queer Pop que exibirá três programas de telediscos – retrospectivas de Kylie Minogue e David Bowie e um panorama 2010 / 2011.

Organizado pela Associação Cultural Janela Indiscreta, o Queer Lisboa é dirigido por João Ferreira, Ana David e Cláudia Craveiro. A programação esteve nas mãos do director artístico João Ferreira, Nuno Galopim e Ricke Merighi

Segundo o Queer Lisboa, “o Festival conta a RTP2 como Televisão Oficial, sendo o Prémio da Competição para o Melhor Documentário, no valor 3 mil euros, atribuído por este canal, pela compra dos direitos de exibição do filme vencedor”. Já “o Prémio da Competição para a Melhor Longa-Metragem, no valor de mil euros, é patrocinado pela Absolut Vodka”. A Jameson patrocina, também com mil euros, “o Prémio da Competição para a Melhor Curta-Metragem”. Foi anunciado, da mesma forma, que “o Queer Lisboa 15 tem um custo global estimado em 179 mil euros, sendo que 89 mil e 500 são cobertos por apoios financeiros directos, e o restante valor, por apoios indirectos e logísticos”. 

Uma novidade interessante é que, neste ano, o Queer Lisboa associou-se à MUBI, portal online de vídeo-on-demand de filmes clássicos e independentes e rede social cinéfila, para exibir, gratuitamente e no dia seguinte ao da projecção no festival, uma selecção de filmes (maioritariamente curtas-metragens) do festival. 

Na edição número 15 do Queer Lisboa poderemos visitar a instalação “Mansfield 1962”, de William E. Jones, que poderá ser vista… no WC masculino do rés-do-chão do Cinema São Jorge. 

Silenciados”, “espectáculo de teatro físico que conta a história de cinco pessoas assassinadas por discriminação em relação à sua orientação sexual”, mostra o Queer Lisboa para além do cinema exibido. A peça espanhola poderá ser vista este fim-de-semana às 21 horas, na sala 2. 

Durante os próximos dias, farei cobertura dos filmes exibidos pelo festival, apresentando-os com um lado expressamente opinativo. O crítico de cinema e co-autor do blogue Sound + Vision, João Lopes, colaborará com O Sétimo Continente publicando, durante a semana de vida do festival, "7 memórias queer".

Poderão consultar nesta publicação o programa completo do festival.

10 questões a João Ferreira

O director artístico e programador do Queer Lisboa, João Ferreira, responde a 10 perguntas lançadas pelo O Sétimo Continente. Muito obrigado pela sua colaboração!
1. O que significa um festival como o Queer Lisboa atingir as 15 edições? 

Significa a certeza de que, há 15 anos atrás, a proposta de criação deste festival fazia sentido e que a sua existência continua a fazer sentido hoje. O festival passou por uma série de renovações e soube reorganizar-se e reinventar-se, mesmo nas alturas financeiramente mais adversas, tendo sempre crescido em termos de público, o que significa que a sua trajectória tem ido ao encontro da evolução, não só do cinema que apresenta, mas do panorama cultural lisboeta. 

2. Foi pelo Queer Lisboa que os lisboetas viram em primeira mão cineastas como François Ozon ou Bruce LaBruce. É importante o espaço de descoberta que este espaço proporciona? 

Sim, é fundamental. Um festival de cinema faz sentido como plataforma de descoberta, quer de novos realizadores, quer de filmografias que são desconhecidas do nosso público. Um festival deve marcar a diferença e afastar-se das lógicas profundamente redutoras do circuito comercial das Salas e do mercado de DVD. 

3. Além das representações de sexualidades não-normativas podemos reconhecer características cinematográficas claramente associadas ao cinema “queer”? 

O chamado “cinema gay” foi durante muito tempo uma categoria ligada sobretudo às narrativas. O “new queer cinema” de inícios de 1990, não a tendo inventado – antes reinventado e reapropriado –, veio juntar às narrativas uma especificidade estética e formal. Se pensarmos no cinema de Kenneth Anger, Jack Smith ou mesmo de Paul Morrissey, havia uma enorme preocupação estética, muito ligada ao “camp”, e um certo experimentalismo formal. Esses pressupostos foram recriados no cinema de Todd Haynes, Gus Van Sant ou mesmo de Ozon, mas em comum existe essa necessidade de criação de uma linguagem própria que vá ao encontro dessa não-normatividade. A imagem também conta uma história. 

4. O que representa para um festival como o Queer Lisboa ver filmes como “O Último Verão da Boyita” ou “Uivo” a ter estreia no circuito comercial? 

É importante em termos de visibilidade para o festival, e até mesmo de uma abertura para novos públicos. É também um bom sinal da transversalidade e do ecletismo deste cinema, que toca desde o gosto mais comercial, ao mais marginal. Ou seja, são com certeza felizes coincidências, mas não creio que deva ser um pressuposto ou vocação de um festival de cinema temático. 

5. Por que é escassa a representação do cinema português num festival como o Queer Lisboa? 

No momento em que vivemos na sociedade portuguesa, não acredito que essa escassez esteja ligada a medos ou preconceitos – embora eles seguramente ainda existam. Há muitos realizadores em Portugal a focar esta temática, nomeadamente, nestes últimos anos, de jovens a sair das escolas de cinema. O que se passa em Portugal é, simplesmente, de uma forma geral, uma muito pouca produção de cinema. É um sistema que depende muito do Estado, pois não há grandes alternativas, o que dificulta a produção em mais quantidade.    

6. Haverá ainda filmes “perdidos” da cinematografia “queer” portuguesa, que o festival possa redescobrir, como foram os de Óscar Alves? 

Com o rigor, meios e qualidade dos filmes que o Óscar Alves e o João Paulo Ferreira realizaram nos anos 1970, não creio que existam muitas outras “descobertas” a fazer. Até porque este é um meio pequeno – e era-o ainda mais então –, e seguramente já haveria notícia de outros filmes. Agora, existirão com certeza, quer filmes anteriores à Revolução e mesmo posteriores, feitos com poucos ou nenhuns meios – amadores, experimentais –, que espero venham a ser descobertos ainda. 

7. Como mudaram os públicos ao longo da história do Queer Lisboa? 

O país mudou muito nestes 15 anos. Quando comecei a trabalhar no festival, na sua 4ª edição, em 2000, por um lado, não havia a concorrência de outros festivais de cinema na cidade, o que nos permitia um leque muito grande de filmes que chamavam muita gente, mas por outro, havia ainda um grande preconceito em ir ao festival. Era um lugar onde muitos não queriam ser vistos, fossem gays ou não. Lembro-me da dificuldade de as estações de televisão conseguirem filmar o público, que não o permitia, por exemplo. Isso já não acontece hoje. Outra diferença que noto – e que começou nos anos do Quarteto, entre a 8ª e a 10ª edições –, foi a chegada de uma nova geração de estudantes universitários. Uma faixa que é hoje das mais significativas do festival. 

8. O Queer Lisboa tem perspectivas de alargar o seu espaço de trabalho (e públicos) além do que todos os anos faz durante “x” dias no cinema São Jorge? 

Essa vontade acaba por estar sempre muito restringida pelas limitações orçamentais. No entanto, temos feito um trabalho continuado em termos de programação de cinema português em festivais internacionais e temos organizado também algumas mostras em diferentes pontos do país, durante o ano. No fundo, temos aproveitado esse período para incentivar essa vocação importante do festival que é a da promoção do cinema nacional de temática queer. Mas estamos a trabalhar para uma presença mais regular nos restantes meses do ano, continuando com a programação e investindo também na distribuição. 

9. Que tipo de reconhecimento internacional tem um festival como o Queer Lisboa? 

Este festival teve a estranha particularidade de ter sido primeiro muito reconhecido lá fora, sobretudo pela sua programação, antes de ser reconhecido cá dentro, nomeadamente em termos de cobertura pelos media e de um crescimento em número de espectadores e de cativação de apoios públicos e privados. Pontos que hoje vão sendo conquistados. O reconhecimento sente-se pela quantidade de pedidos que temos por parte de outros programadores para lhes indicarmos os contactos dos distribuidores dos filmes que programamos, os convites que recebemos para integrar elencos de júris em festivais internacionais, ou mesmo o feedback mais directo que temos de colegas de profissão. 

10. O que traz de novo a edição nº 15 do festival? 

A partir da sua 9ª edição – e nesse sentido os anos do Quarteto foram fundamentais em termos de “laboratório” –, o Queer Lisboa criou uma série de secções, algumas fixas, outras moldáveis a cada edição, que acreditamos serem um bom modelo para oferecer uma leitura do nosso programa. Celebrar o 15º aniversário do festival, implicou pensar uma programação especial dentro destas “regras”, quase que a testá-las de novo, a ver se ainda faziam sentido. E aos poucos foi surgindo um mote que parecia colar-se à selecção deste ano e que resumia em muito aquela que tem sido a essência do cinema queer: a transgressão. Assim, procurámos títulos que cobrissem de alguma forma as muitas temáticas e estéticas que este cinema tem tocado e que garantem a sua vitalidade, hoje. E aqui, os filmes de abertura e encerramento do festival têm um valor simbólico especial: Uivo, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, e Taxi Zum Klo, de Frank Ripploh. O primeiro, porque invoca o poeta Allen Ginsberg, figura pioneira da cultura queer, com influência marcada não apenas na literatura da segunda metade do século XX, como também na música e nas artes visuais. Taxi Zum Klo, obra autobiográfica de 1980, realizada em Berlim – cidade emblemática da liberdade sexual –, porque reúne uma série de pressupostos conceptuais da cultura queer: o discurso na primeira pessoa, a afirmação de todas as liberdades, a cultura do desejo.

Queer Lisboa 2011 - Programa completo

Noite de abertura
  1. Howl – Uivo (USA, 2010, 90’), de Rob Epstein, Jeffrey Friedman 
Noite de encerramento
  1. Taxi zum Klo - Taxi to the Toilet (Germany, 1980, 91’), de Frank Ripploh 
Secção competitiva para melhor longa-metragem
  1. 80 Egunean – For 80 Days (Spain, 2010, 105’), de Jon Garaño, Jose Mari Goenaga 
  2. Auf der Suche - Looking for Simon (Germany, France, 2011, 88’), de Jan Krüger 
  3. Ausente - Absent (Argentina, 2011, 87’), de Marco Berger 
  4. Fjellet - The Mountain (Norway, 2011, 73’), de Ole Giæver 
  5. Llamada, La – The Call (Italy, Argentina, 2010, 93’), de Stefano Pasetto 
  6. Mesa Sto Dasos – In the Woods (Greece, 2010, 97’), de Angelos Frantzis 
  7. Mi Último Round – My Last Round (Chile, Argentina, 2010, 87’), de Julio Jorquera 
  8. Romeos (Germany, 2011, 94’), de Sabine Bernardi 
  9. Rosa Morena (Brazil, Denmark, 2010, 95’), de Carlos Oliveira 
  10. Stadt Land Fluss – Harvest (Germany, 2011, 84’), de Benjamin Cantu 
Secção competitiva para melhor documentário
  1. Becoming Chaz (USA, 2010, 86’), de Fenton Bailey, Randy Barbato 
  2. Die Jungs vom Bahnhof Zoo - Rent Boys (Germany, 2011, 84’), de Rosa von Praunheim 
  3. Florent: Queen of the Meat Market (USA, 2010, 89’), de David Sigal 
  4. Frauenzimmer - Silver Girls (Germany, 2010, 74’), de Saara Aila Waasner 
  5. Goddesses (we believe we were born perfect) (Switzerland, South Africa, 2010, 75’), de Sylvie Cachin 
  6. I Am (India, 2011, 71’), de Sonali Gulati 
  7. MIWA, A Japanese Icon (France, Japan, 2011, 65’), de Pascal-Alex Vincent 
  8. Poo kor karn rai – The Terrorists (Thailand, Germany, 2011, 103’), de Thunska Pansittivorakul 
  9. Shut Up Little Man! An Audio Misadventure (Australia, 2011, 90’), de Matthew Bate 
  10. We Were Here (USA, 2011, 90’), de David Weissman 
Secção competitiva para melhor curta-metragem
  1. AWOL (USA, 2010, 14’), de Deb Shoval 
  2. Blokes - Blocks (Chile, 2010, 15’), de Marialy Rivas 
  3. Brussels (Chile, USA, 2010, 11’), de Omar Zúñiga Hidalgo 
  4. Chasse à l’Homme - Manhunt (France, 2010, 28’), de Stéphane Olijnyk 
  5. Ducha, La – The Shower (Chile, 2010, 10’), de Maria José San Martín 
  6. Duelo – Duel (Brazil, 2010, 6’), de Marcelo Lee 
  7. Eu Não Quero Voltar Sozinho - I Don’t Want to go Back Alone (Brazil, 2010, 17’), de Daniel Ribeiro 
  8. Exercício nº3 – Exercise n.3 (Portugal, 2010, 15’), de Isabel d´Escragnolle-Taunay 
  9. Frozen Roads (Canada, 2010, 18’), de Mark Pariselli 
  10. Fuckbuddies (Spain, 2011, 6’), de Juanma Carrillo 
  11. Game Kiss, The (Indonesia, 2010, 8’), de Paul Agusta  
  12. Loop Planes (USA, 2010, 11’), de Robin Wilde 
  13. Mann Mit Bart - Bearded Man (Germany, 2010, 12’), de Maria Pavlidou 
  14. Me Siento Culpable - I Feel Guilty (Spain, 2011, 11’), de Roberto Cáston 
  15. My new song is coming along great (Chile, USA, 2010, 5’), de Omar Zúñiga Hidalgo 
  16. Plan Cul – Just for Sex (France, 2010, 12’), de Olivier Nicklaus 
  17. Qing shao nian - Cut Adrift (Singapore, 2011, 9’), de Hakym Noh 
  18. Sa-rang-eun Back-do-cee - Love, 100°C (South Korea, 2010, 22’), de KIM-JHO Gwang-soo 
  19. Spring (United Kingdom, 2010, 13’), de Hong Khaou 
  20. Tomorrow Everything Will Be Alright (Lebanon, United Kingdom, 2010, 6’), de Akram Zaatari 
  21. Uniformadas (Spain, 2010, 18’), de Irene Zoe Alameda 
  22. Vibratum Vitae (Portugal, 2011, 11’), de Pedro Barão 
Sessões especiais
  1. FIT (United Kingdom, 2010, 106’), de Rikki Beadle-Blair 
  2. Life and Death of Celso Junior, The (Greece, 2011, 48’), de Panagiotis Evangelidis 
  3. Miss Kicki (Sweden, Taiwan, 2009, 88’), de Håkon Liu 
Panorama
  1. Contracorriente – Undertow (Peru, Colombia, 2009, 100’), de Javier Fuentes-León 
  2. Piedras (Argentina, 2009, 69’), de Matías Marmorato 
  3. Tierra Madre – Mother Earth (Mexico, 2010, 62’), de Dylan Verrechia 
  4. Tijereto - Flycatcher (Colombia, 2011, 21’), de Camila Jiménez Villa 
Queer Art (longas-metragens)
  1. Advocate For Fagdom, The (France, 2011, 92’), de Angélique Bosio 
  2. Community Action Center (USA, 2010, 69’), de A.K. Burns, A.L. Steiner 
  3. Difficult Love (South Africa, 2010, 48’), de Zanele Muholi, Peter Goldsmid 
  4. Mi sexualidad es una creación artística - My sexuality is an art creation (Spain, 2011, 46’), de Lucía Egaña-Rojas 
  5. William S. Burroughs: A Man Within (USA, 2010, 90’), de Yony Leyser 
  6. !Women Art Revolution: A Secret History (USA, 2010, 83’), de Lynn Hershman Leeson 
Queer Art (curtas-metragens)
  1. Alone. (USA, 2011, 3’), de Russell Sheaffer 
  2. Diptych: The love that dare not speak its name (Greece, 2011, 28’), de Panagiotis Evangelidis 
  3. Esto es Chile (Chile, 2010, 1’), de SubPorno 
  4. Little White Cloud That Cried (USA, 2009, 13’), de Guy Maddin 
  5. Mates (United Kingdom, Portugal, 2011, 5’), de Antonio Da Silva 
  6. Para mover o domingo… (Portugal, 2011, 4’), de Júnior Ratts 
  7. Porno Vegetal (Spain, 2008, 4’), de Lucía Egaña-Rojas 
  8. Revolving Door (New Fuck New York) (USA, 2011, 3’), de Bruce LaBruce 
  9. Vamos a Quemar - Let’s Burn (Spain, 2010, 27’), de colectivo PARAMO 
Assume Nothing: Intersexualidade e Representação Visual (longas-metragens)
  1. Assume Nothing (New Zealand, 2009, 81’), de Kirsty MacDonald 
  2. Die katze wäre eher ein Vogel… – The cat would rather be a bird… (Germany, 2007, 54’), de Melanie Jilg 
  3. Spork (USA, 2009, 86’), de J.B. Ghuman Jr. 
  4. Working on it (Germany, Switzerland, 2008, 50’), de Karin Michalski, Sabina Baumann 
Assume Nothing: Intersexualidade e Representação Visual (curtas-metragens)
  1. Clouded (USA, 2007, 13’), de Ajae Clearway 
  2. Gender Trouble (United Kingdom, 2002, 24’), de Roz Mortimer 
  3. Not so Black and White (United Kingdom, Australia, 2006, 4’), de Col Cruise
Noites Hard (longas-metragens)
  1. Bijou (USA, 1972, 76’), de Wakefield Poole 
  2. Boys in the Sand (USA, 1971, 74’), de Wakefield Poole 
  3. Final Girl, The (France, 2010, 80’), de Todd Verow 
  4. Island (USA, 2009, 68’), de Ryan Sullivan 
  5. Leave Blank (USA, 2010, 80’), de Todd Verow 
Noites Hard (curtas-metragens)
  1. 10 dias (sem bater) - 10 days (load) (Portugal, 2011, 36’), de Luís Assis 
  2. Judas & Jesus (Germany, 2009, 15’), de Olaf Encke, Claudia Romero 
  3. Soccer Bitch (Austria, 2007, 23’), de Sandra Selimovic, Max Hoffmann 
  4. Von Alltäglichen Dingen: Zum Beispiel Im Juni - About Everyday Things: In June for Example (Germany, 2009, 30’), de Melanie Jilg 
  5. Wanker, The (Israel, 2010, 6’), de Yair Hochner 
  6. Yum (USA, 2010, 3’), de Sadie Lune
Queer Pop
  1. Retrospectiva Kylie Minogue
  2. Panorama 2010 / 2011
  3. Retrospectiva David Bowie

quinta-feira, setembro 15, 2011

Queer pop (14/30): Rufus Wainwright

Rules and Regulations” (2007), de Rufus Wainwright 
Realização de Petro Papahadjopoulos 

Depois de Going to a Town, Rules and Regulations foi o segundo single extraído do álbum Release The Stars, que Rufus Wainwright lançou em 2007. Sem a sumptuosidade dos arranjos do díptico Want, mas ainda firme numa vontade de encenar o espaço da canção, o álbum corresponde a uma etapa de descoberta de Berlim e conta com Neil Tennant, dos Pet Shop Boys, como produtor executivo. 

O teledisco que acompanhou Rules and Regulations foi assinado por Petro Papahadjopoulos. Nele vemos Rufus Wainwright, de roupão, no espaço de um clube privado e, depois, um ginásio de inícios de mil e novecentos, com alguns ginastas a treinar a seu lado.