O segundo dia do festival de cinema de terror lisboeta foi passado na sala 3 no Cinema São Jorge e começou com a segunda e última edição da secção curtas internacionais (algumas delas repetem mais tarde uma a uma, antecedendo uma longa-metragem). Depois da curta espanhola Picnic, de Gerardo Herrero Pereda, mergulhámos no delírio mentecapto de Jasper Masthoff e Gonzalo Fernandez com o filme holandês Polonaise, seguida da obra mais interessante das “curtas internacionais” (The United Monster Talent Agency, paródia do entretenimento gerado pelo terror realizado por Gregory Nicotero, vencedor do Óscar para melhor caracterização no primeiro episódio de As Crónicas de Narnia, e com Eli Roth no elenco) como também da mais impressionante (a curta-metragem brasileira e do diabo Ninjas, dirigida por Dannison Ramalho, cujo sentido gratuito de gore arruinou com o interessante ponto de partida de castigo sobrenatural).
Às 3 da tarde, repetição do filme de abertura do festival, Trolljegeren (ou The Troll Hunter), extraordinária comédia e primeira obra assinada por André Øredal, que se aproveita das possibilidades do “falso documentário” (Holocausto Canibal, Blair Witch, Cloverfield, Rec…) para divulgar a Noruega como local secreto para ser habitado por trolls. A sessão foi acompanhada pelo actor que deu vida ao protagonista do filme, Glenn Erland, que anunciou, para quem desconhecia, que se prepara para uma estreia na área da realização (com um drama) e que o filme anteriormente exibido vai ser alvo de um remake norte-americano produzido por Chris Columbus (Harry Potter 1 e 2).
Depois da curta-metragem desenxabida (embora com uma grande interpretação de Jean Marsh) The Last Post, sobre uma mulher que reencontra o fantasma de um amante perdido, foi a vez do filme francês Proie (Antoine Blossier) mostrar a matéria de que era feito, acabando apenas por testemunhar um potencial (cénico, fotográfico, de ponto de partida narrativo e de interpretações) infelizmente desperdiçado em prol de uma lógica hiperbólica e escusada de querer provocar saltos na cadeira.
Às sete e meia, a Embaixada da Tailândia aguardava a projecção de Who R U? Seguida de uma muito interessante curta-metragem espanhola em stop motion realizada por Marc Riba e Anna Solanas, The Twin Girls of Sunset Street, esta longa-metragem tailandesa dirigida por Phakpoom Wongjinda repete, de certa maneira, o erro de Proie, em dar, em determinadas cenas e apesar do interessante desenvolvimento dramático, maior protagonismo a imagens e um susto que acabam por se revelar escusados e, nalgumas vezes, ilógicos e contraditórios. Não obstante, importa dar relevo às interpretações (Sinjai Plengpanich, Kanya Rattanapetch e Teerapong Leowrakwong) e às variações na direcção de fotografia.
Por estes lados, a noite terminou com a curta-metragem fraquíssima (ao nível das interpretações e narrativa) Por Gloria Divina, de Rodrigo Atienzar, e com um filme provocador e anti-clerical (e que mistura os géneros do cinema pornográfico, de terror e de comédia) redescoberto em cooperação com a Cinemateca Portuguesa, Cartas de Amor de uma Freira Portuguesa. Dirigido em 1977 por Jess Franco e com figuras como Ana Zanatti, Vítor Mendes e Herman José no elenco, esta co-produção entre a Alemanha e a Suíça é um achado excepcional que deu mais qualidade à edição presente do MOTELx. Apesar da preocupação histórica revelada, será importante deixar algumas ressalvas, nomeadamente a nível da programação do festival (o clássico foi exibido ao mesmo tempo que Eli Roth apresentava Hostel na sala Manoel de Oliveira, ambos sem possibilidade de repetição) e da projecção (não raras vezes, as legendas encontravam-se dessincronizadas ou simplesmente não surgiam, revoltando o público que pagou para ver o inédito, havendo ainda um constante e perturbante zumbido agudo que também tinha emerso a projecção anterior da sala 3, Who R U?).
Sem comentários:
Enviar um comentário