Estamos no meio do festival e começámos com os autores de Sound + Vision, João Lopes e Nuno Galopim, a comentar, às 18h00, um panorama dos telediscos do último ano (apresentaram-se, a título de exemplo, nomes tão diversos como Lady Gaga, James Blake e Patrick Wolf).
Na hora seguinte, confrontamo-nos com a revelação mais surpreendente, até o dia de hoje, do festival, no que respeita a área dos documentários. Miwa, a Japanese Icon foi assinado por Pascal-Alex Vincent e apresenta-nos, de forma despretensiosa, concisa e lúdica, a vida e obra de Akihiro Miwa, que começou como um jovem cantor com feições invulgarmente andróginas e, após o sucesso da sua interpretação em Black Lizard (1968) e a ousadia em admitir a sua homossexualidade, acabou por ser internacionalmente reconhecido.
Do outro lado do mundo, viajámos para o Brasil e para um “simpático” (para o bem e para o mal) melodrama chamado “Rosa Morena”. Sobre um arquitecto europeu homossexual que, por desejar obcecadamente ser pai, compra um filho a uma pobre jovem de 21 anos, estamos diante de um filme tão sensível quanto político e filosófico. Isto porque existe, nesta pertinente co-produção entre a Dinamarca e o Brasil, algo que faz, com mais ou menos talento, com que questionemos os limites éticos da adopção monoparental e os constrangimentos legais sobre os casais constituídos por pessoas do mesmo sexo. O filme repete no dia 20, às 17h00.
Pouco tempo depois, esperávamos ansiosos a curta-metragem com François Sagat, Plan Cul, que desiludiu por um Olivier Nicklaus (autor e protagonista) sem qualquer piada. Em paralelo, a longa-metragem que se seguiu (Auf Der Suche, de Jan Krüger), sobre uma mãe em busca do seu filho com o seu ex-namorado, seria melhor caso fosse apenas uma curta. Em vez disso, a narrativa parece não ir a lado nenhum, expandido aquilo que não é interessante nem em termos visuais ou dramatúrgicos.
A noite terminou com três curtas-metragens hard. A mais interessante foi uma animação subversiva, contextualizada durante a vida de Jesus Cristo, sobre como Judas traiu o seu mestre (não se entendeu foi a selecção para um festival como o Queer Lisboa). Já o israelita The Wanker, de Yair Hochner, mostrou-se ser como um grande nada, tal como o português 10 Dias (Sem Bater), de Luís Assis. Tal como foi opinado na sessão de perguntas e respostas que procedeu a projecção dos filmes, “10 Dias” é, em boa verdade, uma impressionante obra que tem tudo de anti-cinematográfico. Carecendo de um bom sentido de mise-en-scène (os enquadramentos são, não raras vezes, intrusivos e descuidados), o filme mistura, aparentemente, o documentário (fruto de problemas de produção) e a ficção. Contudo, “10 Dias” não deixa de transparecer uma falsidade e artificialidade perversas.
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