O Queer mostrou ontem não ser apenas um espaço de divulgação meramente cultural. Num dos dias em que não apresentou “noites hard”, principiou-se a projecção de filmes no âmbito da intersexualidade e respectiva representação visual. Documentário profundamente panfletário, “Working on it”, apesar do seu lado pedagógico, é preguiçoso na forma como comunica com o espectador, limitando-se a ligar a câmara e apontá-la para as declarações e convívio dos seus 15 protagonistas. Pior ainda (e levando a ideia de cabeças falantes ao extremo) só mesmo a curta-metragem que se seguiu, “Gender Trouble” (Roz Mortimer), que retrata alguns casos que (ultra)passam problemas de identidade e de género, sobrepondo-os a um mosaico inconsequente de imagens e padrões variados.
Por sua vez, o documentário australiano que antecedeu esta sessão, “Shut up Little Man! An Audio Misadventure” (Matthew Bate, foto), dá uma lição de cinema documental – preenchido com ritmo consistente e ponderado, sem deixar de ser elucidativo, rigoroso e reflectir as consequências de um caso passado na contemporaneidade. Essencialmente, “Shut up Little Man!” acompanha a divulgação e partilha viral de cassetes com a gravação das discussões tidas por um dois homens consumidos pelo álcool (um deles homofóbico), na era pré-Internet.
A noite terminou com a longa-metragem “Fjellet” (internacionalmente divulgada como “The Mountain”), seguida da curta experimental “Exercício n.º 3”, vinda da Escola Superior de Teatro e Cinema e assinada por Isabel d’Escragnolle-Taunay (que, apesar de uma presença convincente de Susana Chaby-Lara, nos deixou a impressão de que o mote da confusão emocional deixou transparecer um resultado que nada mais é que confuso). Por sua vez, “Fjellet” acabou por demonstrar, apesar do seu olhar belo e contemplativo (de Ole Giæver), uma dramaturgia pobre, básica e pouco convincente (fruto, da mesma maneira, das interpretações de Ellen Dorrit Petersen e Marte Magnusdotter Solem).
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