Terminou ontem a quinta edição do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, o MOTELx. Faltavam 4 curtas-metragens portuguesas para acabar de ver as obras em competição e começámos com a agradável surpresa de Pedro Rocha, “Miss Mishima”, um exercício estético de grande rigor formal, seguida do filme de Nuno Dias “Sombras” que, embora a sua fórmula narrativa seja a mesma de “Os Milionários” (também em competição, crítica aqui), acabou por desiludir não apenas pelo final e pela falta de ritmo como também pela direcção de fotografia ineficaz. Destaque final para “Desassossego”, interessante animação de Lorenzo del’Innocenti, seguida do desastroso (sobretudo ao nível das interpretações e da montagem) “A Tua Última Morada”, de Joel Rodrigues e André Agostinho.
Aguardamos “Sennentuntschi” e a ansiedade correspondeu à expectativa. Primeiro filme de terror feito na Suíça (destaque para as magníficas paisagens e fotografia), o filme de Michael Steiner é uma perturbante obra inspirada nas fábulas locais com uma linha temporal não-linear mas perfeitamente inteligível. Situada nas regiões alpinas em meados dos anos 70, acompanhamos aqui um polícia que investiga a origem de uma mulher muda que é acusada de homicídio.
Eli Roth realizou, após a projecção do seu Cabin Fever, uma masterclass enriquecedora na sala 2 do cinema São Jorge, onde recordou a importância da definição de uma “backstory” para as personagens secundárias (dizendo que todas as personagens são principais) e do enquadramento (“se deres uma razão para as pessoas prestarem atenção, elas vão dá-la”), ressalvando que gerir bem a tensão não corresponde necessariamente a grandes efeitos especiais, movimentos de câmara ou cortes, o que demonstra insegurança no realizador (lembrando implicitamente muito do que vimos no MOTELx deste ano?). Na sua perspectiva, por vezes basta um simples campo / contra-campo para criar tensão no espectador (recordando, a título de exemplo, a sequência de abertura no filme “Sacanas sem Lei”, de Quentin Tarantino, em que representou).
Glenn Erland e Eli Roth no MOTELx |
Seguimos para a sessão de encerramento do MOTELx, que esgotou a lotação da sala Manoel de Oliveira. O júri, composto pelo co-realizador de “Coisa Ruim”, Frederico Serra, pelo membro da direcção da Federação Europeia de Festivais de Cinema Fantástico Christian Hallman e pelo designer de som de “Cisne” (Teresa Villaverde) Tiago Matos (que substitui o actor Nicolau Breyner), começou por atribuir uma menção honrosa a Banana Motherfucker (crítica aqui), de Pedro Florêncio e Fernando Alle, “pelo timing humorístico, pela originalidade e pela comédia física, pegando num fruto diário e transformando-o numa máquina de matar malvada”, e acabou por premiar, pela segunda edição consecutiva, uma animação: “Conto do Vento”, de Cláudio Jordão e Nelson Martins, por apresentar “uma história criativa, um ponto de vista original e sensibilidade artística em retratar uma fábula sobre uma menina e a sua mãe numa sociedade preconceituosa, contada pelo vento”. Os vencedores levaram para casa “um prémio monetário de 3000 euros, a que acrescem 5000 euros em serviços e pós-produção vídeo na Pixel Bunker, 3000 euros em serviços de pós-produção áudio na Obviosom e ainda um fim-de-semana de inspiração num hotel da cadeia Hotéis Belver, um dos patrocinadores do MOTELx”. Eli Roth subiu ainda ao palco para agradecer a hospitalidade e a simpatia de quem o recebeu e para aplaudir aos portugueses pela sua qualidade e potencial cinematográficos.
O filme que encerrou o festival e se seguiu à curta-metragem vencedora foi “Stake Land”, surpreendente filme pós-apocalíptico norte-americano de Jim Mickle que, apesar de incluir elementos sintomáticos de um mau filme de terror (vampiros e violência gráfica), demonstrou ser um poderoso drama alegórico e “humanizante”.
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