Considerada uma das grandes obras a abrir o movimento que viria a apelidar-se de New Queer Cinema, a primeira longa-metragem de Todd Haynes, nascido em 1961 em Los Angeles, abriu alas, da mesma maneira, para uma nova perspectiva de fazer e observar o cinema.
Admirador declarado de Jean Genet (um dos ícones gay de quem falaremos em breve), Haynes realizou, à semelhança de Fassbinder com Querelle, uma adaptação livre das suas histórias e imaginário homo-erótico. Surpreendentemente, esta apresenta-se, ao mesmo tempo, como três filmes ou episódios (os três h: Hero, Horror e Homo) juntos num só (Veneno) e (aparentemente ou de facto?) sem ligação evidente entre si. Como já foi teorizado, Veneno pode representar a ligação misteriosa entre personagens que vivem o estigma social provocado pela sua forma de viver a sexualidade. O caso mais perturbante e enigmático poderá porventura ser Hero, falso documentário que segue o testemunho de uma mãe que relembra a noite em que o filho matou a tiro o pai e saiu da janela… a voar, seguido de Horror, que se debruça sobre um cientista que investiga a origem do impulso sexual e que ingere, acidentalmente, uma experiência nociva.
De facto, há nestes três episódios um afastamento ousado e, por que não considerá-lo, experimental, estimulado por uma clara discrepância estilística (temos a caricatura do teledocumentário; o melodrama a preto e branco que se aproxima daquilo que Haynes edificou com o controverso, inspirado em Douglas Sirk e "moderno" Far from Heaven; e o irrealismo plástico de um mundo imbuído pelo desejo entre homens).
Depois de Safe (95), Velvet Goldmine (98) e Far from Heaven (02), pudemos ver a estreia, em 2007, de I’m Not There e, ainda este ano, da mini-série para televisão Mildred Pierce, com Kate Winslet, Guy Pierce e Evan Rachel Wood.
O DVD de Veneno pode ser adquirido aqui. Nesta ligação, podemos ler um ensaio chamado "Todd Haynes's Poison and Queer Cinema", escrito por Norman Bryson em 1999.
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