No sexto dia do festival de cinema Queer Lisboa 15 viajamos para a Alemanha que não é nem urbana ou berlinense. Muito pelo contrário, a primeira incursão de Benjamin Cantu (nascido em 1978 na Hungria) nas longas-metragens de ficção é um olhar íntimo sobre uma quinta no vale de Nuthe-Urstrom, a 60 quilómetros de distância da capital, e que serve em Harvest (título original: Stadt Land Fluss, que remete, com mais ou menos ironia, para o nome alemão e categorias – cidade, país, rio – do jogo infantil “stop!”) de paisagem para a improvável história de afectos que se desenvolve. Observando, com tom impressionista e contemplativo, um grupo de jovens estagiários que ambicionam receber o título de agricultores, a narrativa acaba por se focar nos sentimentos que natural e progressivamente os solitários Jacob (Kai-Michael Müller) e Marko (Lukas Steltner) vão nutrindo um pelo outro em época de colheita. Adequando-se à placidez do campo, é através de um ritmo sereno que Benjamin Cantu, que praticamente filmou sem actores profissionais, constrói este drama sedutor sobre o amadurecimento e a descoberta do amor. Sem dúvida a maior revelação, na área das longas-metragens de ficção, da 15.ª edição do festival gay e lésbico de Lisboa, Harvest foi exibido ontem, às 22h00, na sala 1 do Cinema São Jorge, contando hoje com repetição, às 17h00.
De Florent: Queen of the Meat Market, sobre um restaurante que desempenhou um papel relevante no activismo pelos direitos da comunidade LGBT, não encontrámos nem cinema nem uma forma apelativa de documentar uma realidade passada, parecendo apenas que o realizador (David Sigal) filmou, com pouco talento, Florent (que fechou em 2008) para reforçar a nostalgia de quem o frequentava. Já do documentário Island, só podemos falar bem: Ryan Sullivan constrói a narrativa da sua vida, contando-nos como o irmão foi expulso de casa por ser gay e como Sullivan, sete anos depois, viaja até o mundo da pornografia da Treasure Island Media.
Do primeiro programa de curtas-metragens, temos apenas a destacar “Chasse à L’Homme” (Stéphane Olijnyk), sobre a perigosa ligação de desejo entre um terrorista e um agente da Unidade de Intervenções Especiais, e “Spring” (Hong Khaou), que explora o fetiche próximo da morte.
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