Penúltimo dia no Festival de Cinema de Terror em Lisboa e aguardamos, uma vez mais, o princípio das curtas-metragens portuguesas (em competição). Uma delas (Feliz Aniversário, crítica aqui) já a tínhamos visto, faltavam as restantes: Conto de Vento, escrito e realizado por Cláudio Jordão e Nelson Martins, é uma curiosa animação “de embalar” que, embora falho no som (é sempre mau sinal quando, diante de um filme português, somos obrigados a ler as legendas em inglês), adopta um interessante ponto de vista (o vento), num estilo semelhante ao do plano-sequência semelhante a filmes como Enter the Void (Gaspar Noé, crítica aqui); já Haikai Diamante, de André da Conceição Francioli, mostrou-se como o pior filme (e também o mais autista) desta edição do festival, ao contrário do excepcional Linhas de Sangue, de Manuel Pureza e Sérgio Graciano, que confirma a influência de Quentin Tarantino e da cultura popular em muitos dos filmes de terror europeus.
Na sala 3, aguardava-se a repetição de The Woman com expectativa. Realizado por Lucky McKee, que co-escreveu o filme com Jack Hetchum, este filme que abalou o último Sundance serviu de amostra para a maioria das obras que o MOTELx tem exibido até hoje: filmes com bom ponto de partida e ideia dramatúrgica (previa-se uma assustadora paródia antropológica), subaproveitados em prol da violência gráfica e gratuita.
Pior ainda foi The Corridor, de Evan Kelly, cujo argumento de Josh MacDonald, com toques sobrenaturais e de ficção científica, provocou a estupefacção e gargalhadas (certamente indesejadas) do público. Importa, no entanto, destacar a magnífica interpretação de Stephen Chambers, jovem actor canadiano que salvou aquele desastre de filme.
Por aqui, a dose de MOTELx terminou com uma interpretação ainda maior de Nuno Melo no extraordinário O Barão, de Edgar Pêra. Tal como descrito na sinopse, durante “a Segunda Guerra Mundial, uma equipa de filmes série B refugiou-se em Portugal”, que mais tarde, por ordem do ditador, “foi repatriada” por se saber da preparação da adaptação do “conto de Branquinho da Fonseca «O Barão»”. Há 6 anos atrás, “duas bobines e o argumento foram encontrados nos arquivos do Cineclube do Barreiro”, pelo que “o filme foi restaurado e refilmado”, “exibido pela primeira vez” neste presente ano. Raridade absoluta, sim, mas não apenas por razões estritamente históricas. Contando com a presença do actor protagonista e realizador na sessão, a sala 3 do MOTELx viu com surpresa um exercício de estilo verdadeiro e singular, sem narrativa clássica propriamente dita. Apesar de uma desnecessária longa duração (não nos importaríamos de retirar mais de meia hora), Edgar Pêra (o Guy Maddin português?) afirmou o seu sentido estético a partir de uma direcção de fotografia e artística, montagem e som magníficos, cuja manipulação de luz fez lembrar O Sangue, de Pedro Costa, o expressionismo alemão, e várias peças de teatro. E por falar no teatro, O Barão todo ele parece ter sido filmado em estúdio, acentuando a artificialidade e a estilização da imagem. O filme estreia nas salas de cinema portuguesas no dia 20 de Outubro de 2011.
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