Mostrar mensagens com a etiqueta Quentin Tarantino. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Quentin Tarantino. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, setembro 12, 2011

MOTELx 2011 (5): Uma animação à beira do apocalipse

Terminou ontem a quinta edição do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, o MOTELx. Faltavam 4 curtas-metragens portuguesas para acabar de ver as obras em competição e começámos com a agradável surpresa de Pedro Rocha, “Miss Mishima”, um exercício estético de grande rigor formal, seguida do filme de Nuno DiasSombras” que, embora a sua fórmula narrativa seja a mesma de “Os Milionários” (também em competição, crítica aqui), acabou por desiludir não apenas pelo final e pela falta de ritmo como também pela direcção de fotografia ineficaz. Destaque final para “Desassossego”, interessante animação de Lorenzo del’Innocenti, seguida do desastroso (sobretudo ao nível das interpretações e da montagem) “A Tua Última Morada”, de Joel Rodrigues e André Agostinho

Aguardamos “Sennentuntschi” e a ansiedade correspondeu à expectativa. Primeiro filme de terror feito na Suíça (destaque para as magníficas paisagens e fotografia), o filme de Michael Steiner é uma perturbante obra inspirada nas fábulas locais com uma linha temporal não-linear mas perfeitamente inteligível. Situada nas regiões alpinas em meados dos anos 70, acompanhamos aqui um polícia que investiga a origem de uma mulher muda que é acusada de homicídio. 

Eli Roth realizou, após a projecção do seu Cabin Fever, uma masterclass enriquecedora na sala 2 do cinema São Jorge, onde recordou a importância da definição de uma “backstory” para as personagens secundárias (dizendo que todas as personagens são principais) e do enquadramento (“se deres uma razão para as pessoas prestarem atenção, elas vão dá-la”), ressalvando que gerir bem a tensão não corresponde necessariamente a grandes efeitos especiais, movimentos de câmara ou cortes, o que demonstra insegurança no realizador (lembrando implicitamente muito do que vimos no MOTELx deste ano?). Na sua perspectiva, por vezes basta um simples campo / contra-campo para criar tensão no espectador (recordando, a título de exemplo, a sequência de abertura no filme “Sacanas sem Lei”, de Quentin Tarantino, em que representou). 

Glenn Erland e Eli Roth no MOTELx
Seguimos para a sessão de encerramento do MOTELx, que esgotou a lotação da sala Manoel de Oliveira. O júri, composto pelo co-realizador de “Coisa Ruim”, Frederico Serra, pelo membro da direcção da Federação Europeia de Festivais de Cinema Fantástico Christian Hallman e pelo designer de som de “Cisne” (Teresa Villaverde) Tiago Matos (que substitui o actor Nicolau Breyner), começou por atribuir uma menção honrosa a Banana Motherfucker (crítica aqui), de Pedro Florêncio e Fernando Alle, “pelo timing humorístico, pela originalidade e pela comédia física, pegando num fruto diário e transformando-o numa máquina de matar malvada”, e acabou por premiar, pela segunda edição consecutiva, uma animação: “Conto do Vento”, de Cláudio Jordão e Nelson Martins, por apresentar “uma história criativa, um ponto de vista original e sensibilidade artística em retratar uma fábula sobre uma menina e a sua mãe numa sociedade preconceituosa, contada pelo vento”. Os vencedores levaram para casa “um prémio monetário de 3000 euros, a que acrescem 5000 euros em serviços e pós-produção vídeo na Pixel Bunker, 3000 euros em serviços de pós-produção áudio na Obviosom e ainda um fim-de-semana de inspiração num hotel da cadeia Hotéis Belver, um dos patrocinadores do MOTELx”. Eli Roth subiu ainda ao palco para agradecer a hospitalidade e a simpatia de quem o recebeu e para aplaudir aos portugueses pela sua qualidade e potencial cinematográficos. 

O filme que encerrou o festival e se seguiu à curta-metragem vencedora foi “Stake Land”, surpreendente filme pós-apocalíptico norte-americano de Jim Mickle que, apesar de incluir elementos sintomáticos de um mau filme de terror (vampiros e violência gráfica), demonstrou ser um poderoso drama alegórico e “humanizante”.

domingo, setembro 11, 2011

MOTELx 2011 (4): O barão português que redefiniu o terror

Penúltimo dia no Festival de Cinema de Terror em Lisboa e aguardamos, uma vez mais, o princípio das curtas-metragens portuguesas (em competição). Uma delas (Feliz Aniversário, crítica aqui) já a tínhamos visto, faltavam as restantes: Conto de Vento, escrito e realizado por Cláudio Jordão e Nelson Martins, é uma curiosa animação “de embalar” que, embora falho no som (é sempre mau sinal quando, diante de um filme português, somos obrigados a ler as legendas em inglês), adopta um interessante ponto de vista (o vento), num estilo semelhante ao do plano-sequência semelhante a filmes como Enter the Void (Gaspar Noé, crítica aqui); já Haikai Diamante, de André da Conceição Francioli, mostrou-se como o pior filme (e também o mais autista) desta edição do festival, ao contrário do excepcional Linhas de Sangue, de Manuel Pureza e Sérgio Graciano, que confirma a influência de Quentin Tarantino e da cultura popular em muitos dos filmes de terror europeus. 

Na sala 3, aguardava-se a repetição de The Woman com expectativa. Realizado por Lucky McKee, que co-escreveu o filme com Jack Hetchum, este filme que abalou o último Sundance serviu de amostra para a maioria das obras que o MOTELx tem exibido até hoje: filmes com bom ponto de partida e ideia dramatúrgica (previa-se uma assustadora paródia antropológica), subaproveitados em prol da violência gráfica e gratuita. 

Pior ainda foi The Corridor, de Evan Kelly, cujo argumento de Josh MacDonald, com toques sobrenaturais e de ficção científica, provocou a estupefacção e gargalhadas (certamente indesejadas) do público. Importa, no entanto, destacar a magnífica interpretação de Stephen Chambers, jovem actor canadiano que salvou aquele desastre de filme. 

Por aqui, a dose de MOTELx terminou com uma interpretação ainda maior de Nuno Melo no extraordinário O Barão, de Edgar Pêra. Tal como descrito na sinopse, durante “a Segunda Guerra Mundial, uma equipa de filmes série B refugiou-se em Portugal”, que mais tarde, por ordem do ditador, “foi repatriada” por se saber da preparação da adaptação do “conto de Branquinho da Fonseca «O Barão»”. Há 6 anos atrás, “duas bobines e o argumento foram encontrados nos arquivos do Cineclube do Barreiro”, pelo que “o filme foi restaurado e refilmado”, “exibido pela primeira vez” neste presente ano. Raridade absoluta, sim, mas não apenas por razões estritamente históricas. Contando com a presença do actor protagonista e realizador na sessão, a sala 3 do MOTELx viu com surpresa um exercício de estilo verdadeiro e singular, sem narrativa clássica propriamente dita. Apesar de uma desnecessária longa duração (não nos importaríamos de retirar mais de meia hora), Edgar Pêra (o Guy Maddin português?) afirmou o seu sentido estético a partir de uma direcção de fotografia e artística, montagem e som magníficos, cuja manipulação de luz fez lembrar O Sangue, de Pedro Costa, o expressionismo alemão, e várias peças de teatro. E por falar no teatro, O Barão todo ele parece ter sido filmado em estúdio, acentuando a artificialidade e a estilização da imagem. O filme estreia nas salas de cinema portuguesas no dia 20 de Outubro de 2011.

domingo, março 07, 2010

O triunfo da popularidade

Será daqui a algumas horas (quatro, mais ou menos) que muitos de nós, na melhor das hipóteses, nos reuniremos frente à televisão (sintonizada naquele canal que, de mim, só retira o sentimento de aversão, tal é a sua colossal qualidade), esperando saber, em directo e em primeira mão, quais os vinte e quatro vencedores da 82ª cerimónia dos Óscares, realizada, como já tem sido habitual, no palco da Kodak Theatre, em Los Angeles.

A megalómana cerimónia, se antes reconhecida por ser a mais importante e crível no que toca à gratificação daquele que seria, supostamente, “o” filme do ano, depois da revolução a que a Internet foi responsável, tem vindo a perder a magia que a envolvia, tal como a sua credibilidade. Centrada em Hollywood, desmascaram-se as tentativas de propaganda aos votantes, assumiu-se implicitamente a vontade expressa de influenciar aqueles que decidem, anualmente, o melhor que foi feito na sétima “arte”, tal como se declarou, pública e subtilmente, o centralismo norte-americano de que vivem os Óscares. Sempre assim foi, não nos iludamos. É uma evidência que cada cinéfilo tem que aceitar – e o facto de, em 2010, estarem nomeados 10 filmes em vez de 5 para promoção e busca de audiências televisivas e, também, de estarem divididos melhor filme / melhor filme estrangeiro, ilustra bem esta realidade. Algo que, também implicitamente, se tem vindo a assumir é a busca de inclusão dos filmes independentes (ou, pensando melhor, “so called”): “Juno” e “Little Miss Sunshine” são dois exemplos passados bem ilustrativos do que acabo de falar. Contudo, esta procura por um equilíbrio entre aquilo que vem da indústria e aquilo que é mais “diferente” (reforcem-se as aspas), algo que foi visto como claro aquando da luta, ano passado, entre “O Estranho Caso de Benjamin Button” e “Quem Quer Ser Bilionário?”, tem vindo a acentuar as dificuldades internas da Academia em agradar tudo e todos. O que é, obviamente, compreensível. Cada vez mais o cinema se tem fragmentado (seja em género, seja em modus operandi, seja em intenções, seja em origem), e a busca por um consenso que faça reunir, novamente, milhões frente a um televisor para ver a entrega dos Óscares (como aconteceu aquando das gratificações “Titânic”a e “Gump”iana) é já uma utopia declarada. A estatueta dourada, perdendo o seu brilho, importância e “glamour”, não passa hoje disso mesmo: de um prémio merecedor de quarenta e cinco segundos em agradecimentos, de um nome e de uma tira de DVD (como nos falava o jornal “Ípsilon”, na passada sexta-feira). Os Óscares passaram a desempenhar uma função social, em vez de reconhecer a qualidade e o valor das obras que vai nomeando (onde está “Um Homem Singular”?): e tudo depende do contexto. Se “Forrest Gump” venceu e calcou “Pulp Fiction” depois da celebração do belíssimo “A Lista de Schindler”, foi para manter o equilíbrio de felicidade e esperança que o cinema supostamente deveria transmitir. O mesmo, exactamente, se sucedeu ano passado: depois do niilismo de “Este País não é para Velhos”, tornou-se óbvia a vitória do slumdog, dos pobres, do “desigual”, do brilho, da esperança, da mudança (veja-se a vitória de Obama nesse tempo). E se a cerimónia de hoje passar, apenas e só, pela reprodução do que se sucedeu com os passados Globos de Ouro (mas com uns passos de dança como ano passado), então aguarda-nos uma valente perda de tempo.

A Academia não gosta de surpreender, digam o que almas sábias disserem – numa altura em que, sob pressão das cadeias televisivas, se vê obrigada a navegar entre a popularidade das suas películas, torna-se clara a vitória do Rei do Mundo. “Avatar” (crítica) percorreu países, é dos filmes mais rentáveis de sempre (“o” mais, dizem!), esteve sob o signo da revolução técnica, a sua magnificência requer-se imortal e incontestável (é o que se diz, e não me atreveria a calar um planeta embusteado). Mas bem… se há um Óscar que, ano menos ano, será criado e que deveria ser entregue a posteriori a este trabalho de pirotecnia, seria o de Melhor Propaganda. Mas, não sei bem porquê, cansa-me falar deste filme. A sua rivalidade não é a melhor, também é certo: “Precious” é o filmezito que Oprah tanto quis produzir e que não passa de um mega-dramalhão que sobrevive das suas interpretações, “Nas Nuvens” é a crítica social da actualidade que se perde num guião típico, “UP – Altamente!” é a respeitada execução da Pixar que se clonou e fugiu da categoria a que pertence (melhor filme de animação), “Estado de Guerra” é o gelado voyeur de um país frágil pela guerra no Iraque, “Um Homem Sério” é o resultado desequilibrado de dois irmãos que sabem que poderiam ter feito mais. Há a triste certeza de que “Distrito 9” (a docureflexão original e inédita de uma humanidade cruel e discriminatória) e “Uma Outra Educação” (a simples mas cativante história que versa a jornada de uma estudante dos anos 60 dividida entre duas escolhas sociais) não vingarão. Resta-nos “Um Sonho Possível” (que aguardo com o entusiasmo característico de alguém a morrer) e “Sacanas sem Lei”. E este, sim, é cinema puro, inteligente, no seu estado vertiginoso e ávido. Ainda que naturalmente pretensioso na sua aura de marketing, a qualidade da obra (na narrativa, montagem, interpretações, fotografia) e talento de Tarantino fazem-me acreditar o justíssimo vencedor seria este – algo que não acontecerá, infelizmente. Sempre posso estar errado (gostava, desta vez, que sim), mas a mega-produção de James Cameron tem demasiados fãs para que a Academia os desiluda. Lá se encontra a função social de que vos falei. Gostava, por fim, de ver Colin Firth e Michael Haneke a discursar – ganharia a noite se os visse no meu televisor.

Não vos minto, contudo: penso que será o sonho de qualquer um de nós, que gostasse de enveredar pelos caminhos suicidas do cinema, subir as escadas daquele palco e receber, nas mãos, a estatueta. O peso desta, nesse momento, estará de tal forma agigantado que nos aperceberíamos, aí, que os Óscares ainda vão sobrevivendo, apesar de todas as suas contradições e desequilíbrios. Continuam a ser o momento que leva o meu coração a acelerar-se quando ouço o “and the Oscar goes to”. Cada vez mais tem chorado e desiludido, mas essa é outra história.

sábado, novembro 15, 2008

:Indetectável (2008)

 
Pelo menos correspondeu às minhas expectativas: fraco, cheio de falhas e um spin-off barato de Saw. Sim, bem que queria ir ver o "Ensaio" mas lá o meu grupo se queixava que ou "é pesado demais" ou que "para ver com os amigos mais vale um filme de comédia ou acção". Mas desengane-se quem não pensar que este filme não entretém: há uma ou duas torturas interessantes e uma última sequência de acção electrizante. Planos aéreos aborrecidos (sim!), um mau argumento e personagens repletos de clichés (a típica mãe-simpática-com-drama-pessoal-investigadora-inteligente-e-perspicaz-sempre-pronta-com-uma-pistola com a não menos típica filha-querida-e-burra-que-nem-uma-porta e mãe-que-só-está-no-filme-como-vela), desempenhos, e por aí adiante. O que se podia fazer com uma premissa destas...! Enfim.
PS: O Kill Bill é tão fixe!!!