O IndieLisboa dá o início já no dia de amanhã, às 21:30, tendo como filme de abertura, projectado na cerimónia, a segunda longa-metragem do jovem cineasta canadiano Xavier Dolan, Amores Imaginários, que o lançou com apenas vinte e um anos de idade. O filme, que não está em competição e será amanhã analisado, procede o interessante e semi-autobiográfico J’ai tué ma Mère (ler crítica), a crónica de uma relação disfuncional entre uma mãe e o filho adolescente. Estreia, comercialmente e em Portugal, no dia 19 de Maio (trailer em baixo). Ainda no Cinema São Jorge, projectar-se-ão «Winter Vacation», filme chinês de Li Hongqi, e «Vampires», do belga Vincent Lanno. Paralelamente, o Grande Auditório da Culturgest passará, às 21:15, «Carlos», de Olivier Assayas, filme com mais de 5 horas de duração que se debruça sobre uma organização terrorista e que, entre nós, estreia no dia 2 de Junho. O Pequeno Auditório terá «Todos vós sodes Capitáns», filme espanhol de Oliver Laxe e, no Teatro do Bairro, o filme francês «Rubber», de Quentin Dupieux, será exibido.
O novo filme de Xavier Dolan foi opinado (post original aqui) pelo jornalista e um dos autores do sound+vision Nuno Galopim, artigo que transcrevo e faço minhas as suas palavras:
O novo filme de Xavier Dolan foi opinado (post original aqui) pelo jornalista e um dos autores do sound+vision Nuno Galopim, artigo que transcrevo e faço minhas as suas palavras:
Foi uma das boas surpresas da edição 2010 do IndieLisboa. Com evidente carga auto-biográfica, e integrado na secção Cinema Emergente, o filme J’ai Tué Ma Mère revelava o jovem realizador canadiano Xavier Dolan num emotivo - e muito gritado - debate entre um filho (por si interpretado) e uma mãe. O estranho encontro com tão inesperada proposta fez desde logo de Les Amours Imaginaires um dos títulos mais aguardados da edição deste ano do IndieLisboa. Tanto que acabou mesmo por repartir com Assayas o estatuto de filme de abertura.
O novo filme mostra não apenas maiores ambições na narrativa e no pensar de uma imagem, como reflecte o que parece ser um orçamento menos próximo do quase nada que se sentira no filme de estreia. À ambição (que nunca fez mal a nenhum artista) não corresponde contudo igual poder de concretização.
Cruzada com pequenas vinhetas de tertúlias (ou são entrevistas?) que, mesmo concentrando alguns dos melhores instantes de humor do filme, acabam por não conseguir um relacionamento consequente com a linha narrativa central, Les Amours Imaginaires é, em traços muito largos, a história de um triângulo amoroso (mais desejado que realmente concretizado). Na verdade é mais um jogo de poder nas mãos de um dos vértices (o loiro Nicolas), os outros dois (Francis, interpretado pelo próprio Dolan, e Marie) imaginando um amor perfeito que, contudo, não está nas suas mãos.
Apesar de ocasionais momentos que reafirmam no jovem realizador um talento a acompanhar, Dolan junta contudo demasiados ingredientes neste segundo filme e perde a mão na hora de dosear os temperos. Uma colecção simplesmente fabulosa de canções (onde encontramos The Knife, Vive La Fête, Indochine ou uma versão de Bang Bang em italiano, por Dalida) e um trio de personagens que garantem alguma solidez ao centro de gravidade da narrativa impedem mesmo assim que o tropeção seja maior. Mas, garantidamente, fica aquém das expectativas.
[este post foi actualizado às 16:06, no dia 05/05/2011]
Gostei mais do post que do filme. Depois do que parecia ser uma promessa em J'ai Tuè Ma Mère, este fica uns passos atrás... Mas a banda sonora vale a pena. Indochine, Vive La Fête, The Knife, Bang Bang em versão spaghetti...
ResponderEliminarPor falar nisso tenho de ver o J’ai tué ma Mère.
ResponderEliminarSe fosse a ti, Álvaro, apostava mais no Assayas... ;)
ResponderEliminarSim sim, falei naquele porque já o tenho há muito no pc mas o Assayas é um cineasta que tenho de descobrir sim.
ResponderEliminarEstou com grandes expectativas. Muito ansiosa para Winter Vacation, mas também sou suspeita para falar visto que cinema asiático para mim é um must.
ResponderEliminarSarah
http://depoisdocinema.blogspot.com
Vi o "J’ai tué ma Mère" no ano passado, sem ter ideia do que ia ver, e achei o filme poderosíssimo e incrivelmente maduro. Este "Les Amours Imaginaires" é realmente mais fraco, muito mais superficial, quase como ele a piscar o olho a Godard do que propriamente a tentar fazer alguma coisa original. Mas os dotes estéticos dele estão todos lá (câmara, música, etc.). Em relação ao "Carlos", também já vi mas no formato mini-série, e gostei imenso. Gostava de o rever, mas é demasiado tarde para a duração que tem. É provável que opte ou por rever o filme do Dolan ou entre o "Winter Vacation" e o "Rubber".
ResponderEliminarSegui o teu conselho e esquivei-me a este visionamento. Pelo que leio e pelo que vi esta noite, não poderia ter feito melhor.
ResponderEliminarSim, este "Les Amours Imaginaires" é realmente um filme fraco, vítima da cinefilia de Dolan, da sua imaturidade, da sua incapacidade de fazer algo realmente de novo. O facto é que temos que reconhecer a rapidez com que se tornou uma figura de destaque para os jovens realizadores.
ResponderEliminarDiogo, mal posso esperar para ver o "Carlos".
Acho importante questionar se será este Les Amours Imaginaires assim tanto um intruso no que se espera da filmografia de Dolan.
ResponderEliminarNão o acho nada imaturo, antes pelo contrário. É mais uma questão de expectativas.
Pareceu-me claro desde o princípio, com o primeiro filme e algumas entrevistas, que seria este o caminho que Dolan tomaria para estes primeiros passos. Aquele esforço auto-biográfico resulta apenas e só como primeiro filme.
É cineasta sobretudo para pintar um imaginário.
E isso fê-lo muito bem, com traços de comédia, efusivamente expressivo.
Parece-me um filme muito mais maduro do que J'ai Tuè Ma Mère. Acho-o sobretudo por não ser pretensioso. Não vejo nenhum piscar de olhos a Godard. Vejo um jovem cineasta a filmar quase por impulso. Só o facto de ter a liberdade para o fazer é refrescante.
Abraço,
Carlos
(ou o defunto Back Room.)
Olá, Carlos, é bom ver-te por aqui! :)
ResponderEliminarApenas concordo contigo que ele, sim, filma "quase por impulso". Isso não deixa de ser refrescante, mas traz, na minha opinião, um resultado inconsequente ao qual não consigo ser sensível...
Espero voltar a ver-te por aqui e que esteja tudo bem contigo.
Um abraço.