terça-feira, maio 31, 2011

Até ao fim dos tempos








Sendo final do mês, é tempo para encerrar o destaque que, ao longo das últimas semanas, tem vindo preencher a agenda do blogue. Terrence Malick foi, através de diferentes pontos de vista e autores, analisado pela sua obra (quando quisermos recordar as publicações sobre o autor que rechearam o mês estaremos sempre à distância de um clique), antecipando o recém-estreado A Árvore da Vida, a sua quinta longa-metragem consagrada com a Palma de Ouro na 64ª edição do Festival de Cannes. Finalizada a sondagem sobre o melhor filme do cineasta, a preferência da maioria dos leitores vai para A Barreira Invisível (1998), que recolheu 28 votos, sendo que o segundo lugar ficou reservado a Noivos Sangrentos (1973) e a Dias do Paraíso (1978), que foram ambos seleccionados por 15 pessoas. Por último, O Novo Mundo (2005) foi votado por 11 pessoas e o recente A Árvore da Vida por 5. Obrigado a todos os que participaram.

Parece, após vermos The Tree of Life, devidamente sem ideias pré-concebidas, impor-se uma questão: como pode o espectador receber um meteorito metacinematográfico como este que se propõe a questionar toda a sua existência? Que efeito terá a obra-prima de Terrence Malick em si? Mais que uma outra aparição nesta forma de expressão, este é um raro filme, sem distinções de público, que ambiciona redefinir-se como objecto de cinema e, para além disso, redefinir quem o percepciona. Então voltemos: como receber este filme que, a partir do momento extraordinário em que o vemos – ou, se nos quisermos aproximar mais da experiência, sentimos –, entramos dentro de nós, recordando afectos, sensações e uma vaga e passada aproximação com o divino, e imaginando respostas para as questões que nos assolam (e permanecem, porventura, silenciadas pelo esquecimento ou o medo)? The Tree of Life, se nos propusermos a mudar os seus contextos e figuras, podia ser um sonho nosso – e Malick parece construir exactamente isso, o seu derradeiro devaneio, uma visão da transcendência e uma ode de proporções cósmicas ao sentirmo-nos vivos, ao amor (esse misterioso sentimento), à família e ao alcance do sagrado por via da comunhão com a Natureza. O terreno serve de ponte para o que realmente interessa: despertar-nos para uma mudança interior e fazer-nos parecer, ao mesmo tempo e de maneira visceral, pequenos e grandes. Os protagonistas são fantasmas que emergem de nós – à luz do filme, não existem referências quando se quer sentir a Vida em estado de graça. The Tree of Life, um dos mais misteriosos filmes do século, é, para além de um hino à humanidade, uma essencial obra sobre o Fim, percorrendo uma busca incansável pela compreensão da morte ou pela aceitação do seu mistério.

7 comentários:

  1. Quer se queira quer se não estou convencido que este The Tree of Life será um marco do cinema. Poderoso, sensacional, monumental e transcendental são alguns dos adjectivos que me lembro para qualificar esta imensa obra de arte no seu sentido mais puro, visual e musical se quisermos. No entanto, já o tenho dito, me parece insuficiente ao nível narrativo, demasiado rebuscado, ambíguo e vago, infelizmente.

    De qualquer modo a sensação que fiquei após o ter visto foi qualquer coisa única...independentemente se tem ou mais qualidade cinematográfica.

    abraço

    ResponderEliminar
  2. Numa entrevista, de um documentário, alguém perguntava a Philip Glass porque razão chegara onde chegou. Respondeu com uma só palavra: trabalho. Foi o que se sentiu este mês n’O Sétimo Continente. Trabalho. Investimento numa vontade de comunicar e partilhar ideias e visões. Parabéns pelo esforço, que deu resultados (os números de visitantes alcançados este mês não são senão a resposta de quem quer ler a quem dá que ler). O mês Malick foi um belíssimo cartão de visita para esta nova etapa na vida do blogue. Foi uma honra ser convidado e assim participar num projecto que pode ir longe. Continua, Flávio.

    ResponderEliminar
  3. Impressionantes imagens. Já estou ansioso para ver o novo rebento de Malick.


    O Falcão Maltês

    ResponderEliminar
  4. Olá Flávio,

    Sou leitor do O Sétimo Continente e sou cinéfilo de carteirinha. Eu estou mandando esse email porque estou trabalhando numa empresa que desenvolveu um portal sobre cinema - o Cinema Total (www.cinematotal.com). Um dos atrativos do site é que você cria uma página dentro do site, podendo escrever textos de blog e críticas de filmes. Então, gostaria de sugerir que você também passasse a publicar seus textos no Cinema Total - assim você também atinge o público que acessa o Cinema Total e não conhece o O Sétimo Continente.

    Se você gostar do site, também peço que coloque um link para ele no O Sétimo Continente.

    Se você quiser, me mande um email quando criar sua conta que eu verifico se está tudo ok.

    Um abraço,

    Marcos
    www.cinematotal.com
    marcos@cinematotal.com

    ResponderEliminar
  5. Sem dúvida um dos melhores filmes jamais criados. Nenhum outro conseguiu evocar a natureza fragmentária e sensível da memória humana (quase sentimos o calor do sol e o cheiro da erva naqueles magníficos planos). Diria que, com "A árvore da vida", Malick assume-se como o um herdeiro sincero de Kubrick - um cineasta que possui uma capacidade estética que bebe do cinema do realizador de "2001: uma odisseia no espaço", mas consegue imbuir as suas obras de um sentimentalismo (no melhor sentido) tocante. São ambos artistas de uma intelectualidade profunda, dois gumes de uma mesma lâmina - Kubrick o mestre do cinema cerebral, Malick o mestre do cinema humanista. É fascinante a forma como se complementam!

    ResponderEliminar
  6. A Árvore da Vida não tem absolutamente nada de misterioso. Só na aparência. É puro enigma, charada, jogo:
    "Cinzenta, amigo, é toda a teoria,
    E verde a árvore de ouro da vida."
    (Fausto)
    Alguém percebeu quem era o rapaz mais novo, o Steve? E o que era o nome do outro, RL?
    http://reviewingtreeoflife.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  7. O mistério provém, na minha opinião, da sua força iminentemente poética - há imagens que somos obrigados a tomar uma interpretação que só a nós nos pertence (e esse é o objectivo, tal como já foi corroborado pelo produtor, do Malick).

    Contudo, vou passar pelo blogue e lê-lo com atenção.

    Obrigado pelo comentário.

    ResponderEliminar