É um Gus Van Sant que se casa com Wong Kar-Wai e tem Pedro Almodóvar como amante. Mas é, também, antes de tudo isso, íntimo, belo, humano,… especial, como o protagonista detestava ser catalogado. Considero bastante assombroso como o canadense Xavier Dolan-Tadros, que vestiu a pele de actor, produtor, argumentista e realizador, apenas com dezanove anos, no seu primeiro filme, chega a um patamar de sobriedade e unicidade tão vincado e forte em todas as fases do trabalho. Não me admira, também, que os críticos tenham recebido J’ai tué ma Mère com particular estranheza, uns observando a atípica construção narrativa e estética com amor, outros com repulsa, focando-se no narcisismo da obra semi-auto-biográfica (mas não são todas?).
«Matei a minha Mãe» é um «Tudo sobre a minha Mãe» que estuda sobre as relações familiares na sociedade contemporânea, focando-se particularmente na de um adolescente de dezasseis anos, atrevido, egocêntrico, explosivo como é dado na idade, fervilhante em ideias e criações, apaixonado pelo namorado, que discute constantemente com a mãe – e esta, por sua vez, é sarcástica mas complacente, frágil mas mascarada, esforçada mas incapaz de compreender o seu fruto. E é pela oposição tão demarcada de personalidades e a desconstrução do choque entre ambas, associado ao irremediável complexo de Édipo, que faz com que tudo flua com naturalidade, sem maniqueísmos morais. As discussões, engenhosamente arquitectadas, só demonstram a sinceridade e potência com que o cineasta faz transpirar as suas personagens e as circunstâncias por onde estas caminham, debruçando-se sobre um tipo de amor disfuncional e bipolar, pelo outro e por elas mesmas, que atinge o cume do entendimento na distância e no silêncio e não nos sucessivos “amo-te” e “odeio-te”que perfazem os diálogos entre mãe e filho.
E finalmente Xavier mostra ter um excepcional bom gosto na sua criação no ponto formal, confluindo com a originalidade e a matemática dos filmes independentes mais recentes, através de uma atrevida mas harmoniosa montagem de planos minuciosamente decorados e pensados, muito à semelhança de Tom Ford, por exemplo. Mas agradou-me como ele, que ainda está tão fresco, tão vivo e tão jovem, não se resta à técnica e à sua experimentação, mostrando como não se tornou escravo desta, construindo uma docu-ficção que se apresenta como uma interessantíssima carta de amor à mãe a à sua intemporal figura.
Nunca tinha ouvido falar mas só o primeiro parágrafo abre logo o apetite ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
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Olá Flávio, no post "where to go:" pedi-te um favor, podes lá ir espreitar?
ResponderEliminarCumprimentos
Nunca ouvi falar sequer. Tenho de descobrir ;)
ResponderEliminarAdorei a dica. Sou do Brasil e sempre leio seu blog. Onde posso encontrar a legenda para esse filme?
ResponderEliminarAnónimo1, já lá fui. :) Envia-me um mail para f.laviogoncalves@hotmail.com que eu prometo que te respondo copiando alguns excertos da ficha biográfica.
ResponderEliminarÁlvaro, esse Xavier lançou este ano um novo filme, sobre uma relação a três. Com o Louis Garrel. Tem actualmente vinte anos. Aconselho-te, mas atenta que o realizador quando fez este filme era muito novo e que podem surgir algumas falhas que te desagradem.
Anónimo2, é sempre bom saber que os meus escritos agradam tanto gente vinda de fora :) Eu vi o filme porque o saquei, e a legenda estava em espanhol. Mas actualmente encontro-me a traduzi-la. Em breve vou publicá-la no legendas.tv, open subtiles e etc.
Abraços
Despacha-te lá com isso então porque o filme já cá canta eheh
ResponderEliminarTenho de ver o filme do puto. Bom texto.
ResponderEliminarÁlvaro, está quase :p Quando estiverem prontas eu mando ;) Ainda bem que sacaste.
ResponderEliminarCarlos, tens. Obrigado :)
és muito bom, obrigado por seres meu amigo.
ResponderEliminarMiguel Novo
Miguel :)
ResponderEliminarA todos os que querem a legenda deste filme, podem já fazer download:
http://www.opensubtitles.org/pt/subtitles/3744429/i-killed-my-mother-pt
Flávio, dedicaste muito a isso de traduzir legendas ou foi só um acaso?
ResponderEliminarOlá,
ResponderEliminarAdorei o texto. Parabéns pelo excelente trabalho!
Cumpts.
(colaborador no Blog "Cenas Gagas", com textos sobre Cinema&Psicanálise)
Álvaro, por acaso foi a primeira legenda que traduzi :P Achei que, como nem os brasileiros nem os portugueses tinham acesso a legendas a este filme, devia eu mesmo colaborar. Fiz a legenda a partir de uma legenda muito boa espanhol, e aproveitei para pôr os meus conhecimentos em prática eheh Depois diz-me se gostaste.
ResponderEliminarZé, muito obrigado :) Espero que te continue a agradar. Visitei o teu blog e agradaram-me bastante os textos, a sua visão atípica e crítica do cinema, da Psicologia, etc. Parabéns Zé e dê parabéns ao Joaquim, vou tornar-me seguidor. :)
Abraços
O filme é um misto de presunção com altivez... Perde muito pelo desempenho do Dolan como actor (cheio de tiques e expressões que demonstram a sua inexperiência), perde com Dolan como argumentista, que não consegue acrescentar nada de novo e/ou refrescante, perde com Dolan como realizador, que a nível formal tenta muito e consegue pouco... ganha pela entrega, dedicação e paixão com que, de certo, terá iniciado e finalizado o projecto – como, de resto, qualquer jovem realizador. Notam-se referências a alguns cineastas e tu enumeraste algumas; não acredito, contudo, que o filme seja (nem lá perto) tão profundo pelas imagens como o cinema de Van Sant, tão transcendentemente belo como o do Wong Kar Wai, ou tão problematicamente delicioso e intrigante como o de Almodovar... Acredito sim que é um bom primeiro filme e que o Xavier tentou aplicar muitas das coisas que adora no cinema e que estabelece como referência, mas esforçou-se em excesso e nada do que é mostrado me parece natural - é tudo demasiado artificial e plastificado, ao contrário da tua opinião que encontras "sinceridade e potência com que o cineasta faz transpirar as suas personagens e as circunstâncias"…
ResponderEliminarOs actores são, na sua globalidade, muito bons, e admira-me (e chateia-me, se me permites, XD) que não faças referência ao brilhantismo com que a Anne Dorval desempenha o papel da ‘morta’, sendo que é esta personagem que sustenta toda a narrativa (muito para além das incursões sentimentalistas do drama-dolan-queen a preto e branco, e confissões pictóricas sobrecarregadas…).
Enfim, é um bom filme de entretenimento… e obrigado pelas legendas, vou ver outra vez o filme pelas tuas palavras!
Paulo, entendo muitas coisas de que falas - principalmente do facto de, apesar de se aproximar a várias e óbvias referências (como as que referi na minha opinião), não atingir a estado de plenitude estilística e "própria", se é que me entendes. Mas é normal, o rapaz tem 19 anos, é normal que não tenha conseguido isso. O filme está muito bem conseguido, mas, lá está, é interessante apenas, "é um bom filme de entretenimento", como bem disseste.
ResponderEliminarO que não concordo é quando minimizas o drama-dolan-queen (que de facto existe, e é transposto, de forma bastante sincera, com o absurdo de um drama de qualquer adolescente de 16 anos) e a tal "presunção". Aliás, se houve palavra que os críticos mais repetiram em relação ao filme, foi essa. Discordo. Ou, aliás, onde alguns viram presunção / narcisismo, vi sinceridade.
É uma obra interessante. E, heresia que agora colmato, ANNE DORVAL ESTÁ MUITO BEM!
Adoro-te por me perceberes. E quanto à sinceridade que continuas a desenterrar, é a tua opinião e não a posso mudar! ;) De qualquer das formas, parabéns pelo que escreves, que acaba sempre por fazer crescer nos outros a vontade de explorar as obras acerca das quais discorres, e isso é óptimo. Depois tens de me contar o que achaste do Kynodontas, se é que já o viste.
ResponderEliminarAinda não li a tua críticas pois dizem que o filme é espectacular e, portanto, espero retirar as minhas próprias conclusões.
ResponderEliminarAbraço
Cinema as my World
Paulo, obrigado :D É sempre bom ouvir isso de ti. Sim, conto, devo escrever aqui no blog. Ainda não o vi. Vai ser o próximo ;)
ResponderEliminarBruno, então fico à espera pela tua opinião.
Ainda não vi, mas não pode faltar muito. Já andava com o bichinho (bom, naquela infinita lista que temos sempre), mas adorei a tua crítica (e sou especial fã de Tudo Sobre a Minha Mãe).
ResponderEliminarAinda não vi, porque não achei o link do download. por onde vc baixou?
ResponderEliminara critica está muito boa mesmo. parece que é um otimo filme.
Diogo, vais gostar. É interessante. Aconselharam-me o filme há pouquinho tempo, mas aproveitei logo ;) Nessa lista minha posso garantir-te que é mesmo infinita eheh. Também eu adoro o Todo.
ResponderEliminarAnónimo, fiz download por torrent, que achei no Pirate Bay. Obrigado ;) Espero que goste.