Aos 22 anos Xavier Dolan começa já a afirmar-se como um nome de peso de uma nova geração de realizadores
Xavier Dolan podia ser uma representação da pintura expressionista «O Grito» de Edvard Munch. Mas o jovem canadiano, que acabou de estrear esta semana «Amores Imaginários», a sua segunda longa-metragem que escreveu, realizou, produziu e protagonizou, tem vindo a comprovar que é cada vez mais uma figura presente na expressão cinematográfica contemporânea.
Em boa verdade, podemos considerar este autêntico benjamim, que acaba de comemorar o vigésimo segundo aniversário, uma espécie de ícone de toda uma nova geração de realizadores que se tem vindo a formar na era do culto da rapidez no consumo da imagem e do audiovisual. Nascido em 1989 no Quebeque (Canadá), a sua incursão pelo universo das câmaras foi precoce. Aos cinco anos, representou pela primeira vez numa série televisiva e em anúncios publicitários e, em 1997, estreou-se como actor no cinema, à semelhança do que fez o pai, acabando por ter mais projecção no filme de terror franco-canadiano «Martyrs», de 2008. No entanto, a decisão de entrar no cinema de um ponto de vista mais criativo e autoral fez-se relativamente tarde, aos 17 anos, quando conheceu «as diferentes pessoas» que o «inspiraram e mostraram o caminho» e a obra de grandes nomes como Abbas Kiarostami, Gus Van Sant e François Truffaut (este último que, lembra Xavier, os amigos viam já com nove anos enquanto ele se divertia ainda com o «Sozinho em Casa»).
É com essa idade que o ainda adolescente decide escrever «J’ai Tué ma Mère» (que podemos traduzir como «Matei a minha Mãe»), uma história semi-auto-biográfica sobre a sua descoberta da sexualidade e a relação auto-destrutiva que mantém com a mãe. Dolan estreia-o no Festival de Cannes em 2009, que o recebeu com grande entusiasmo (ainda que apontando dedo a um aparente egotismo existente no filme), galardoando o realizador (entretanto com 20 anos) com três prémios. A sua primeira longa-metragem, que não teve entre nós estreia comercial, é uma experiência que confirma que o canadiano não deseja, com os seus filmes, declarar amor ao cinema, mas «simplesmente contar histórias».
«Amores Imaginários», que lança em 2010 e que se centra num triângulo amoroso (mas menos interessante que o de Bertolucci, em «Os Sonhadores», ou o de Truffaut, em «Jules et Jim») no qual a personagem interpretada por Dolan surge como protagonista, é a continuação falhada da projecção da sua persona onanista e solitária (pelo menos assim se considera), e a procura desenfreada de um estilo que possa dizer que é seu, ainda que tenha alguns momentos interessantes (resultantes essencialmente do argumento, área onde, há que reconhecer, é realmente habilidoso). Cruzando as cores e personagens estilizadas do universo de Almodóvar, a liberdade de Godard (ídolo com quem competiu no festival com esta obra) e de Van Sant, e os slow-motion presentes no belo cinema de Wong Kar-Wai, não se sabe se Xavier Dolan, nesta etapa da sua vida, é um prodigioso cinéfilo ou cineasta impulsivo do pastiche.
Mas Xavier está confiante e parece querer amadurecer fazendo mais filmes. Comprovam-no «Laurence Anyways», longa-metragem sobre o amor impossível entre um transexual e uma mulher, e «Letters to a Young Actor», a estrear da sua autoria em 2012 e 2014, respectivamente.
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Este texto foi publicado originalmente no dia 21 de Maio de 2011 na revista Notícias Sábado do DN e JN.
Não que tenha sido uma desilusão, mas está aquém do primeiro filme... Concordo.
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