sexta-feira, maio 13, 2011

Cannes 2011 [3]: Habemus Moretti


O dia 3 no Festival de Cannes pareceu dia de um homem só. O realizador Nanni Moretti (laureado em 2001 com a Palma de Ouro pelo estupendo «O Quarto do Filho»), que compete na principal secção, traz-nos «Habemus Papam», onde interpreta o psicanalista de um papa recém-proclamado (Michel Piccoli) e que não está pronto a acarretar a responsabilidade do título. O filme, que estreou em Itália no de Abril suscitando uma onda de reacções mista por parte da própria Igreja, é, podemos confirmá-lo, um acto de descrença e distância quanto ao exercício de influência do Vaticano. «Quando me dizem sobre Habemus Papam que não há fé, respondo que sim! Lamento não acreditar em Deus. Mas não se sente no meu olhar a vontade de ir contra aqueles que ficaram profundamente ancorados na fé. Quis contar o meu Vaticano e fazer um filme que não seja denunciador. Não desejei deixar-me condicionar pela actualidade», confessa o cineasta na conferência de imprensa, que pode ser visualizada aqui. João Lopes, no Diário de Notícias, escreve que «é um filme deliciosamente psicanalítico» e «uma fábula moral sobre o peso da responsabilidade religiosa, tanto mais tocante quanto Moretti sabe dosear o seu inconfundível humor com a densidade de um genuíno testemunho existencial».



A lutar pela Palma de Ouro e também projectado hoje foi o drama “verité” francês «Polisse», escrito, realizado e interpretado por Maïwenn, que leva ao grande ecrã a crónica social de uma mandatada do Ministério do Interior que tem o objectivo de reunir fotografias para um livro do dia-a-dia dos polícias da Brigada de Protecção de Menores. A cineasta diz, na conferência de imprensa que aqui pode ser visionada, (ao lado do seu produtor e onze dos seus actores: Emmanuelle Bercot (igualmente co-argumentista), Karine Viard, Joeystarr, Marina Foïs, Nicolas Duvauchelle, Karole Rocher, Frédéric Pierrot, Arnaud Henriet, Naidra Ayadi, Jérémie Elkaim e Sandrine Kiberlain) que «o que me deu vontade de fazer o filme, foi a paixão dos polícias e as armas que criam para se protegerem da miséria humana. O que me transcendeu, foi tudo o que girava em torno da infância, foi a ligação entre todos os meus filmes: a infância, a paternidade, a maternidade».



Fora de competição, n’Un Certain Regard, esteve Kim Ki-DukPrimavera, Verão, Outono, Inverno e… Primavera») com «Arirang» após o seu misterioso desaparecimento em 2008 que provocou rumores que temiam a morte. Acontece que, nesse ano, depois da actriz de «Dream» quase ter morrido ao interpretar uma cena de enforcamento, o realizador coreano reflectiu sobre a sua vida, resumindo-a ao cinema («este universo imaginário, tão cruel como melancólico, fervente, triste e meigo») responsável por o ter tornado no «homem mais triste da Terra». Filme sui generis, «Arirang» é uma caso raro de cinema que tem o objectivo de transpor a sua viagem pessoal e retiro interior, assinando as áreas técnicas e criativas principais: realização, argumento, interpretação, montagem, produção, imagem e som.

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