Depois de se ter associado na produção de «Canino», filme grego que ganhou maior projecção com a nomeação que obteve para os Óscares da Academia e, entre nós, com o prémio de melhor filme no Festival do Cinema do Estoril, a realizadora Athina Rachel Tsangari regressa ao grande ecrã com «Attenberg», uma ficção que percorre, segundo as palavras da mesma, o tema do crescimento, através da relação de uma jovem adulta (Ariane Labed, que em Veneza foi galardoada com a Copa Volpi para melhor actriz) e do seu pai (Vangelis Mourikis, aparentemente o único actor profissional no elenco). O crescimento é entendido pelos pólos que, para Tsangari, constituem os perfeitos opostos da vida: a morte, cuja aproximação o pai enfrenta pela primeira vez, levantando toda uma série de questões; e o sexo para o qual desperta a filha, absolutamente ignorante sobre a sua prática e hábitos dentro da cultura do Ocidente. Inserido em coordenadas espaciais anómalas ao entendimento do espectador, poderá considerar-se «Attenberg» uma espécie de documentário do comportamento do ser humano, alienando-o numa aldeia grega (dir-se-ia quase fantasmagórica) e que serve, para a realizadora, de laboratório para uma observação simples e directa.
Este tipo de cinema da alienação facilmente encontra comparação com «Canino», embora os temas tratados possam divergir. Curiosamente, os dois filmes, criados a partir de baixo orçamento numa Grécia contemporânea mergulhada em profunda crise financeira, política, social e cultural, tentam questionar o que é, afinal, isto de ser alguém, isto de se comportar assim e não assado. O próprio título, «Attenberg», é a citação de um erro que uma das personagens diz, querendo referir-se a outro nome. Tsangari, optimista, corrige-o na cena, como se esperasse, no final, através da consciencialização do espectador, uma qualquer melhoria.
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