Sobre The Ballad Of Genesis And Lady Jaye (que aqui foi referido), documentário de Marie Loisier que se insere na secção de Competição Internacional, o crítico de música Nuno Galopim, autor do blog sound+vision, resume bem que obra é esta, assim como o resultado que deixa transparecer para o espectador. O post originalmente pode ser consultado aqui.
Acontece, por vezes, termos pela frente um objecto e, na hora de o retratar, o olhar esgota-se ou concentra-se numa das suas faces, ocasionalmente falhando o mais interessante dos ângulos. É o que acontece em The Ballad Of Genesis and Lady Jaye, documentário de Marie Loisier que intregra a secção competitiva da edição 2011 do IndieLisboa. O filme toma como um dos protagonistas a figura de Genesis P-Orridge, nome central na história do som “industrial” e de várias derivações art rock (com importante passagem pelos ideários de libertação punk) e, também, esteta incómodo que transgride, entre outros, os limites da noção de género. A seu lado Lady Jaye, com quem viveu parte da sua vida, o amor entre ambos e o trabalho conjunto que desenvolveram sendo, afinal, o alimento maior da curiosidade do filme.
A realizadora teve acesso a imagens de arquivo que lhe permitiram traçar, sem uma postura académica (ou mesmo uma ordem cronológica nem sistemática) o percurso musical de Genesis P-Orridge, das fontes de inspiração encontradas em discos dos Velvet Underground ou Doors ao percurso criativo através dos Throbbing Grilstle ou Psychic TV. Não esquecendo as projecções directas de todo um quadro de ideias e visões nos espaços das artes plásticas, performativas ou mesmo da edição livreira. Usa entrevistas no presente sobretudo em off, traçando uma linha do presente através de imagens recentes que servem como uma linha de água sob a qual as memórias depois mergulham.
O filme falha contudo o olhar que parecia premissa central: a história de amor entre Genesis e Lady Jaye. Há sinais suficientes sobre quão forte foi a relação que os uniu, o trabalho criativo partilhado sendo desse amor a expressão que o mundo viveu. Vemo-los ainda em festas, em imagens caseiras. Ouvimos Genesis recordando a companheira. Mas na hora de olhar o processo de transformação física que cada um tomou, fazendo operações plásticas em busca de uma aparência semelhante, a unidade do casal expressando-se assim numa ideia de um mais um igual a um (chamaram-lhe “pandroginia”), o processo acaba observado como um acontecimento secundário no todo da narrativa. E sem a exploração visual nem as recordações e reflexões que deixam assim parte desta história por ver, por escutar, por contar... De resto, ao escutarmos as memórias da última semana que viveram juntos, fica claro quanta matéria prima havia ali para um documentário bem mais interessante que assim ficou por fazer.
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