Sendo final do mês, é tempo para encerrar o destaque que, ao longo das últimas semanas, tem vindo preencher a agenda do blogue. Terrence Malick foi, através de diferentes pontos de vista e autores, analisado pela sua obra (quando quisermos recordar as publicações sobre o autor que rechearam o mês estaremos sempre à distância de um clique), antecipando o recém-estreado A Árvore da Vida, a sua quinta longa-metragem consagrada com a Palma de Ouro na 64ª edição do Festival de Cannes. Finalizada a sondagem sobre o melhor filme do cineasta, a preferência da maioria dos leitores vai para A Barreira Invisível (1998), que recolheu 28 votos, sendo que o segundo lugar ficou reservado a Noivos Sangrentos (1973) e a Dias do Paraíso (1978), que foram ambos seleccionados por 15 pessoas. Por último, O Novo Mundo (2005) foi votado por 11 pessoas e o recente A Árvore da Vida por 5. Obrigado a todos os que participaram.
Parece, após vermos The Tree of Life, devidamente sem ideias pré-concebidas, impor-se uma questão: como pode o espectador receber um meteorito metacinematográfico como este que se propõe a questionar toda a sua existência? Que efeito terá a obra-prima de Terrence Malick em si? Mais que uma outra aparição nesta forma de expressão, este é um raro filme, sem distinções de público, que ambiciona redefinir-se como objecto de cinema e, para além disso, redefinir quem o percepciona. Então voltemos: como receber este filme que, a partir do momento extraordinário em que o vemos – ou, se nos quisermos aproximar mais da experiência, sentimos –, entramos dentro de nós, recordando afectos, sensações e uma vaga e passada aproximação com o divino, e imaginando respostas para as questões que nos assolam (e permanecem, porventura, silenciadas pelo esquecimento ou o medo)? The Tree of Life, se nos propusermos a mudar os seus contextos e figuras, podia ser um sonho nosso – e Malick parece construir exactamente isso, o seu derradeiro devaneio, uma visão da transcendência e uma ode de proporções cósmicas ao sentirmo-nos vivos, ao amor (esse misterioso sentimento), à família e ao alcance do sagrado por via da comunhão com a Natureza. O terreno serve de ponte para o que realmente interessa: despertar-nos para uma mudança interior e fazer-nos parecer, ao mesmo tempo e de maneira visceral, pequenos e grandes. Os protagonistas são fantasmas que emergem de nós – à luz do filme, não existem referências quando se quer sentir a Vida em estado de graça. The Tree of Life, um dos mais misteriosos filmes do século, é, para além de um hino à humanidade, uma essencial obra sobre o Fim, percorrendo uma busca incansável pela compreensão da morte ou pela aceitação do seu mistério.
Parece, após vermos The Tree of Life, devidamente sem ideias pré-concebidas, impor-se uma questão: como pode o espectador receber um meteorito metacinematográfico como este que se propõe a questionar toda a sua existência? Que efeito terá a obra-prima de Terrence Malick em si? Mais que uma outra aparição nesta forma de expressão, este é um raro filme, sem distinções de público, que ambiciona redefinir-se como objecto de cinema e, para além disso, redefinir quem o percepciona. Então voltemos: como receber este filme que, a partir do momento extraordinário em que o vemos – ou, se nos quisermos aproximar mais da experiência, sentimos –, entramos dentro de nós, recordando afectos, sensações e uma vaga e passada aproximação com o divino, e imaginando respostas para as questões que nos assolam (e permanecem, porventura, silenciadas pelo esquecimento ou o medo)? The Tree of Life, se nos propusermos a mudar os seus contextos e figuras, podia ser um sonho nosso – e Malick parece construir exactamente isso, o seu derradeiro devaneio, uma visão da transcendência e uma ode de proporções cósmicas ao sentirmo-nos vivos, ao amor (esse misterioso sentimento), à família e ao alcance do sagrado por via da comunhão com a Natureza. O terreno serve de ponte para o que realmente interessa: despertar-nos para uma mudança interior e fazer-nos parecer, ao mesmo tempo e de maneira visceral, pequenos e grandes. Os protagonistas são fantasmas que emergem de nós – à luz do filme, não existem referências quando se quer sentir a Vida em estado de graça. The Tree of Life, um dos mais misteriosos filmes do século, é, para além de um hino à humanidade, uma essencial obra sobre o Fim, percorrendo uma busca incansável pela compreensão da morte ou pela aceitação do seu mistério.
Quer se queira quer se não estou convencido que este The Tree of Life será um marco do cinema. Poderoso, sensacional, monumental e transcendental são alguns dos adjectivos que me lembro para qualificar esta imensa obra de arte no seu sentido mais puro, visual e musical se quisermos. No entanto, já o tenho dito, me parece insuficiente ao nível narrativo, demasiado rebuscado, ambíguo e vago, infelizmente.
ResponderEliminarDe qualquer modo a sensação que fiquei após o ter visto foi qualquer coisa única...independentemente se tem ou mais qualidade cinematográfica.
abraço
Numa entrevista, de um documentário, alguém perguntava a Philip Glass porque razão chegara onde chegou. Respondeu com uma só palavra: trabalho. Foi o que se sentiu este mês n’O Sétimo Continente. Trabalho. Investimento numa vontade de comunicar e partilhar ideias e visões. Parabéns pelo esforço, que deu resultados (os números de visitantes alcançados este mês não são senão a resposta de quem quer ler a quem dá que ler). O mês Malick foi um belíssimo cartão de visita para esta nova etapa na vida do blogue. Foi uma honra ser convidado e assim participar num projecto que pode ir longe. Continua, Flávio.
ResponderEliminarImpressionantes imagens. Já estou ansioso para ver o novo rebento de Malick.
ResponderEliminarO Falcão Maltês
Olá Flávio,
ResponderEliminarSou leitor do O Sétimo Continente e sou cinéfilo de carteirinha. Eu estou mandando esse email porque estou trabalhando numa empresa que desenvolveu um portal sobre cinema - o Cinema Total (www.cinematotal.com). Um dos atrativos do site é que você cria uma página dentro do site, podendo escrever textos de blog e críticas de filmes. Então, gostaria de sugerir que você também passasse a publicar seus textos no Cinema Total - assim você também atinge o público que acessa o Cinema Total e não conhece o O Sétimo Continente.
Se você gostar do site, também peço que coloque um link para ele no O Sétimo Continente.
Se você quiser, me mande um email quando criar sua conta que eu verifico se está tudo ok.
Um abraço,
Marcos
www.cinematotal.com
marcos@cinematotal.com
Sem dúvida um dos melhores filmes jamais criados. Nenhum outro conseguiu evocar a natureza fragmentária e sensível da memória humana (quase sentimos o calor do sol e o cheiro da erva naqueles magníficos planos). Diria que, com "A árvore da vida", Malick assume-se como o um herdeiro sincero de Kubrick - um cineasta que possui uma capacidade estética que bebe do cinema do realizador de "2001: uma odisseia no espaço", mas consegue imbuir as suas obras de um sentimentalismo (no melhor sentido) tocante. São ambos artistas de uma intelectualidade profunda, dois gumes de uma mesma lâmina - Kubrick o mestre do cinema cerebral, Malick o mestre do cinema humanista. É fascinante a forma como se complementam!
ResponderEliminarA Árvore da Vida não tem absolutamente nada de misterioso. Só na aparência. É puro enigma, charada, jogo:
ResponderEliminar"Cinzenta, amigo, é toda a teoria,
E verde a árvore de ouro da vida."
(Fausto)
Alguém percebeu quem era o rapaz mais novo, o Steve? E o que era o nome do outro, RL?
http://reviewingtreeoflife.blogspot.com/
O mistério provém, na minha opinião, da sua força iminentemente poética - há imagens que somos obrigados a tomar uma interpretação que só a nós nos pertence (e esse é o objectivo, tal como já foi corroborado pelo produtor, do Malick).
ResponderEliminarContudo, vou passar pelo blogue e lê-lo com atenção.
Obrigado pelo comentário.