“Os Smurfs”, que acaba de estrear nas salas de cinema nacionais, confirma que as pequenas criaturas azuis vieram para ficar. Este artigo foi publicado originalmente no dia 13 de Agosto de 2011 no Diário de Notícias.
Foi por um engano e não propriamente por magia que Peyo, ilustrador belga responsável por ter criado uma das séries de banda desenhada mais queridas pelo público, se lembrou de dar vida aos pequenos seres azuis.
Num almoço com André Franquin (criador de “Gaston” e “Marsupilami”), Peyo esqueceu-se de como dizer “sal” e pediu ao amigo para lhe passar o “schtroumpf”, ao que este respondeu: “Toma, aqui tens o schtroumpf, e quando acabares de schtroumpfar, reschtroumpferas!” A brincadeira perdurou e assim se criava uma nova linguagem, que Peyo introduziria, pela primeira vez, em Outubro de 1958 no episódio da banda-desenhada “João e Pirolito” chamado “A Flauta de Seis Schtrumpfs” (que viria a ter uma versão cinematográfica em 1976).
As criaturas (que em Portugal foram chamadas originalmente de “estrumpfes”) acabaram por ganhar um progressivo protagonismo, até terem a sua própria série de banda-desenhada em 1959, superando o sucesso de “João e Pirolito”. Organizadas num sistema harmonioso, os seres eram apelidados de acordo com a sua característica principal (havendo o Grande Smurf, que lidera a aldeia, o smurf Trapalhão, etc.). Esta divisão aparentemente inocente gerou alguma polémica há poucos meses, quando o académico francês Antoine Buéno publicou uma “análise crítica e política da sociedade dos estrumpfes”. De acordo com o autor, as criaturas encontram-se dentro de um modelo comunista, onde “cada um se veste da mesma maneira, tem uma casa igual à do seu vizinho, e exerce a profissão mais adequada às suas habilidades”.
Foi, contudo, na televisão que tiveram a sua maior notoriedade. Marcando a geração que cresceu durante os anos 80, “Os Estrumpfes” (agora relançado em DVD em versão remasterizada como “Os Smurfs”) estreou, de 1981 a 89, qualquer coisa como 256 episódios, propagando mais de 400 histórias para as crianças de todo o mundo. A série deu um uso particularmente notável a gravações música clássica, tendo inserido na sua banda sonora peças de Bach, Beethoven, Debussy, Liszt, Stravinsky ou Tchaikovsky.
Após o lançamento de filmes de animação para o mercado de vídeo, videojogos, inúmeras traduções das bandas-desenhadas em redor do globo, uma incontável variedade de ‘merchandising’ associado aos bonecos azuis, aparições em diversos parques de diversão, foi preparada a estreia de “Os Smurfs”, um novo filme que acabou de surgir nas salas de cinema portuguesas.
Esta estreia acaba, assim, por comprovar que a nostalgia e o encanto provocados pelas criaturas ainda são sentidos pelo seu público, hoje constituído por várias gerações de espectadores.
Uma aventura em Nova Iorque
O novo produto da série popular de desenhos animados é um filme em 3D realizado por Raja Gosnell e que, à semelhança de Stuart Little, cruza animação digital com actores de carne e osso, privilegiando a comédia e a aventura própria das séries infantis e familiares como género principal.
A premissa é simples: na noite do Festival da Lua Azul, depois do smurf Trapalhão ter conduzido, sem querer, o feiticeiro inimigo Gargamel e o seu gato Azrael à aldeia das criaturas azuis, um grupo de smurfs foge até um portal que os leva até a cidade cosmopolita de Nova Iorque, onde se refugiam na casa da família Winslow e pensam num plano para regressarem a casa.
Interpretado por Neil Patrick Harris e Jayma Mays, este filme é dobrado em português. Francisco Mendes dá a voz a Resmungão; Jessica Athayde a Smurfina; João Baião a Resmungão; Rui Mendes ao Grande Smurf; Jorge Mourato ao Smurf dos Óculos, e Tiago Aldeia ao Trapalhão. Carlos Paulo, Romeu Vala e Ana Catarina dão as vozes às personagens de imagem real. [Ver making of da dobragem em Portugal.]
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