Se há lição que se pode retirar da comédia tão doce como amarga Assim é o Amor, a estrear na próxima quinta-feira, é que devemos permanecer em constante redescoberta daquilo que a vida tem para nos proporcionar. Este artigo foi publicado originalmente no dia 27 de Agosto de 2011 na revista Notícias Sábado, que integra o DN e o JN.
O realizador Mike Mills parece ter consciência de que a criação cinematográfica é porventura um dos melhores meios para perpetuar as suas memórias e experiências passadas, dando-as a conhecer ao mundo tal como se quisesse transmitir uma lição de vida. Contudo, Assim é o Amor, que estreia entre nós no primeiro de Setembro, partilha com os seus espectadores o universo muito íntimo deste norte-americano reconstruindo-o para nos oferecer uma comédia romântica não poucas vezes com sabor agridoce.
Este é, em concreto e como o título original (Beginners) dá a entender, um filme sobre eternos aprendizes ou sobre a forma como as pessoas são obrigadas a reaprender o modo como levam a sua vida e existência. E, da mesma forma, Beginners é sobre a maneira como redescobrimos o amor e a pluralidade das suas manifestações.
Ewan McGregor veste a pele de Oliver, um artista gráfico que transmite a sua grave melancolia e nostalgia ao seu cão Arthur (que só compreende 150 palavras e não consegue falar!) e, evidentemente, aos espectadores. Recorda “o céu, as estrelas e o presidente” dos EUA para oferecer um contexto e situar a sua história de vida – que, na verdade, é a do próprio cineasta, Mike Mills (realizador de “Chupa no Dedo” e de telediscos para Moby ou os Air).
Quer a personagem como o autor deste filme passam pela experiência traumática de terem perdido a mãe e, uma semana depois, serem confrontados com o pai de 75 anos, que confessa ser homossexual após 44 anos de casamento. Oliver recorda o tempo passado com o pai (interpretado por um magnífico Christopher Plummer) enquanto gay assumido e a maneira intensa como este viveu ao lado do filho e do novo namorado os últimos momentos da sua existência, assombrada por um cancro que acaba por ser mortal. Quando conhece a misteriosa actriz francesa Anna (Mélanie Laurent, que representou na longa-metragem Sacanas sem Lei, de Quentin Tarantino) após a morte do pai, Oliver vê-se subitamente com uma nova energia e impelido a avançar com os sentimentos que nutre por ela, sem esquecer aquilo que o pai lhe ensinou.
Filme sem grandes qualidades de mise-en-scène que mereçam particular destaque, Assim é o Amor vale sobretudo pela sua montagem e, como não podia deixar de ser, pela riqueza das suas personagens que nada mais são que uma projecção pessoal de Mike Mills e das interpretações das mesmas. Próximo da vida e dos dramas do ser humano contemporâneo, esta é uma comédia “simpática” que merece, pelo menos, um visionamento – se possível com ou a pensar naqueles que amamos.
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