Pouco depois de ter estreado entre nós o recente “Planeta dos Macacos”, Andy Serkis enfrenta uma vez mais o mundo do cinema com as possibilidades que a captura digital de movimentos oferece. Este artigo foi publicado originalmente no dia 13 de Agosto de 2011 na revista Notícias Sábado, que integra o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias.
Se passasse na rua, não seria estranho que não o reconhecessem pelas interpretações que o celebrizaram em redor do mundo. “Passados dez anos as pessoas ainda me dizem: ‘Então tu fizeste a voz do Gollum?’, ou ‘Tu fizeste os movimentos do King Kong?’” Quem o admite é Andy Serkis, figura central nas interpretações baseadas em captura digital de movimentos, ao jornal diário The Telegraph, e que regressa ao grande ecrã em “Planeta dos Macacos: A Origem”, que acaba de estrear nas salas de cinema portuguesas.
Mesmo antes da polémica instalada quando foi defendida uma nomeação para o Óscar para Zoe Saldana como melhor actriz secundária em Avatar, Andy Serkis tem sido um dos maiores defensores do reconhecimento daqueles que surgem no grande ecrã através de manipulação digital dos actores. Quanto à sugestão apontada por alguns críticos sobre a introdução de uma nova categoria direccionada às interpretações do género, Serkis defendeu a igualdade: “a essência de uma performance é a representação”, afirmou à BBC News.
Nascido em Londres no dia 20 de Abril de 1964, a paixão de Andrew Clement G. Serkis pelo teatro e pelas artes nasceu desde cedo, estudando e participando em peças nos tempos de universitário. Após ter interpretado obras de Shakespeare a Brecht, Andy Serkis fez o salto para as produções televisivas e cinematográficas durante os anos 90. Mas o actor deve o seu êxito à adaptação para cinema dos livros de J. R. R. Tolkien, “O Senhor dos Anéis”, a trilogia épica comandada por Peter Jackson galardoada com 11 Óscares da Academia.
Muito embora o realizador tivesse apenas pedido emprestada a voz do actor (que cede para alguns videojogos), Peter Jackson sentiu-se rapidamente impressionado pela presença física e entusiasmo de Serkis, motivando a escolha do tipo de animação e a colaboração entre ambos nos filmes seguintes. Para se aproximar da personagem Gollum, o actor britânico treinou um tipo de voz ao observar os seus próprios gatos e a forma como expeliam as bolas de pêlo engolidas.
A caracterização “realista” valeu-lhe um sucesso imediato, recebendo inúmeros prémios e nomeações pela sua interpretação e despertando a curiosidade aos espectadores de como a animação poderia parecer tão autêntica. Na vedade, Serkis esteve rodeado de uma talentosa equipa de efeitos especiais, que o colocaram dentro de um vestido justo com pontos onde as câmaras poderiam localizar a origem dos movimentos do seu corpo. Depois disso, os responsáveis pelo estúdio da Weta Digital (que tornaram possível “O Senhor dos Anéis”, “Avatar” ou o mais recente “Planeta dos Macacos”), transportariam a informação para computador, que criaria um modelo tridimensional.
O à-vontade com as características invulgares da representação permitiu que Serkis interpretasse Kong no filme King Kong (2005), também realizado por Peter Jackson, e que lhe valeu um prémio vindo da Associação de Críticos de Cinema de Toronto.
A imagem de “primata humanizado” não é, portanto, nova. Não é de estranhar a sua participação no mais recente “Planeta dos Macacos: A Origem”, o primeiro capítulo da série cinematográfica que não utiliza máscaras para caracterizar os macacos. Andy Serkis interpreta o protagonista César, líder da revolução dos macacos sobre o ser humano.
Ao mesmo tempo que se envolve neste género de projectos cinematográficos, o actor tem participado “tal como é” em filmes como O Terceiro Passo (2006), de Christopher Nolan, De Repente, Já nos 30! (2004), ou o recente Sex & Drugs & Rock & Roll (2009), obra biográfica no qual encarna o vocalista Ian Dury, que morreu em 2000 vítima de um cancro. “Não há distinção entre representar o Ian Dury ou o César”, defende o actor ao The Telegraph.
Ainda este ano, no dia 27 de Outubro, poderemos ver a sua participação em As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne e, em 2012, nos dois capítulos de O Hobbit, onde regressará como Gollum.
A nomeação que não chegou
Representar a misteriosa e assustadora personagem de Gollum / Sméagol não foi tarefa fácil para Andy Serkis. Durante a rodagem da trilogia de O Senhor dos Anéis, a equipa de efeitos especiais WETA responsável pela animação digital foi obrigada a filmar cada cena pelo menos duas vezes – uma com Serkis, e outra sem ele. Com uma interpretação e efeitos especiais aclamados pela crítica e pelo público, surgiram rumores de que este poderia ser nomeado para um Óscar, o que não se veio a comprovar verdade.
O seu papel mais desafiante
Foi a primeira vez na história da série de filmes Planeta dos Macacos que se decidiu não utilizar máscaras mas sim animação baseada na captura digital de movimentos dos actores como forma de potenciar a caracterização dos primatas. Em Planeta dos Macacos: A Origem, agora em exibição nas salas de cinema, Andy Serkis interpreta o macaco que a personagem de James Franco protege do laboratório onde foi criado e manipulado geneticamente. O próprio actor considera ter sido o papel mais desafiante que enfrentou.
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