Celebrizados pela saga “Harry Potter”, os três protagonistas cresceram à frente do mundo ao longo de oito filmes. Que será da carreira do trio depois do último capítulo? Este artigo foi originalmente publicado no dia 10 de Julho de 2011 na revista Notícias Magazine, que integra o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias.
Em Nova Iorque, em Times Square, chama à atenção um anúncio de mais um novo espectáculo: é a comédia musical “How to succeed in business without really trying” (ou “Como ser bem sucedido nos negócios sem realmente tentar”), com Daniel Radcliffe que, sorridente e vestido de fato, encabeça o cartaz. Ao lado, um outro cartaz, apresenta “Harry Potter: The Exhibition” no Discovery Times Square, exposição que mostra, para além de décors e objectos utilizados nos filmes da série, a evolução do vestuário dos três feiticeiros. É, na verdade, de lá que reconhecemos Daniel Radcliffe, que encarna o famoso Harry Potter. Esta curiosa aproximação reflecte o futuro do actor, assim como o dos colegas Emma Watson (que representa Hermione Granger) e Rupert Grint (conhecido por ser Ron Weasley): com a vontade de abarcar em novos projectos mas com a imagem invariavelmente marcada pelas personagens representadas neste autêntico fenómeno cultural.
Recuemos então a 1999, quando as escolhas do elenco para o primeiro filme, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” avançaram pela direcção de casting, que se empenhava em descobrir os actores certos que dirigiriam a série. A primeira descoberta da equipa para a “trindade mágica” foi o jovem Daniel Radcliffe. David Heyman, amigo do pai da criança, não conseguiu convencer Steven Spielberg na altura em que se apresentava como potencial realizador da saga e que desejava, para além de filmar em Hollywood, que o protagonista fosse Haley Joel Osment (que surge em “Inteligência Artificial”, realizado pelo norte-americano). Spielberg decidiu, contudo, afastar-se da adaptação quando J. K. Rowling exigiu que o elenco fosse inglês e não americano. Com a entrada de Chris Columbus no projecto, o papel de Harry Potter para Radcliffe foi novamente considerado, já que o realizador apreciava o seu trabalho. Nascido em Londres no dia 23 de Julho de 1989 como Daniel Jacob Radcliffe, filho de um agente literário e uma directora de casting, já com 5 anos anunciava aos pais o desejo de se tornar actor. Após ter participado como macaco numa peça de teatro de escola, em “David Copperfield” (1999) [foto], telefilme da BBC, e feito audições para o primeiro filme da série produzida por Heyman, Daniel Radcliffe conta que se encontrava no banho quando o pai lhe deu a notícia de que seria Harry Potter, “o rapaz que sobreviveu”.
Seguiu-se a escolha de Emma Charlotte Duerre Watson, nascida em Paris em 1990, filha de dois advogados ingleses. Ambos se divorciaram quando tinha cinco anos e, sob a guarda da mãe, passou a viver com o irmão em Oxford, na Inglaterra. À semelhança do colega, já mostrava o desejo de ser actriz também com essa idade, concorrendo para os castings sem qualquer experiência ou ideia do que a esperava. “Na primeira audição que fui não tinha nenhuma noção da escala e fama que os filmes teriam. Se tivesse, ficaria completamente abismada”, confessa à revista Parade. Mas Watson ficou sob o olho da equipa técnica e, sobretudo, da escritora dos livros J. K. Rowling que desde o princípio apoiou que esta encarnasse a personagem de Hermione Granger, a amiga estudiosa e inteligente de Harry Potter.
Por fim, faltava alguém que representasse a personagem de Ron Weasley para completar o trio. Filho de um comerciante e de uma empregada doméstica, Rupert Alexander Grint, nascido a 24 de Agosto de 1988 em Hertfordshire, era um declarado fã da série literária e, quando se viu diante da oportunidade de representar uma das suas personagens preferidas, levou um pequeno vídeo realizado por si para a audição, no qual cantava rap em defesa da sua selecção, estratégia que acabou por se mostrar frutífera.
No dia 8 de Agosto de 2000 o trio ficou finalmente seleccionado. Hoje, para promover o último capítulo de “Harry Potter”, a produção da Warner Bros lançou na internet uma “featurette” com o primeiro “screen test” com os três reunidos, dez anos mais novos. Na gravação [ver aqui], vemos o ensaio de uma cena incluída no primeiro filme e chega a ser interessante como o objectivo do final deste filme é o retorno às origens. Em boa verdade, a maturidade dos jovens actores, que entretanto não sabiam a dimensão do impacto que a imagem dos três teria em redor do mundo, cresceu a olhos (e a filmes) vistos. Fazendo parte das inúmeras estratégias de marketing da produtora, “Harry Potter” não se limitou a propagar o trio de feiticeiros ao nível do cinema. O público mais agarrado à saga, sobretudo crianças e adolescentes, incidiu as atenções nos videojogos, nas cadernetas de cromos ou nos portais online, invariavelmente relacionando as imagens de Radcliffe, Watson e Grint a Harry, Hermione e Ron, respectivamente, e tomando-os como sérios exemplos de companheirismo e amizade.
Os actores receberam os seus papéis com responsabilidade e cientes de toda a pressão mediática envolvida sobre o projecto. O próprio protagonista admitia, ao jornal Clarín, com apenas 12 anos, que já o chamavam por “Harry” quando lhe pediam autógrafos, encarando o acontecimento com uma invulgar tranquilidade. Na mesma entrevista, Radcliffe afirmava temer que o seu crescimento poderia não se adequar às personagens e, com a chegada do terceiro filme e o anúncio de um novo realizador, correram rumores que o trio seria substituído pela idade avançada. Heyman, contudo, decidiu renovar os contratos para mais filmes com os jovens actores e Alfonso Cuarón, que realizou “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, empenhou-se em esbater a ideia e a personalidade infantilizadas pelos primeiros dois filmes dirigidos por Chris Columbus. A direcção dos três passou, por isso, por uma caracterização baseada no processo de crescimento e identidade na puberdade e adolescência. Cuarón chegou mesmo a aconselhar Daniel Radcliffe a ver o filme “Os Quatrocentos Golpes” (1959), do francês François Truffaut, e a ouvir bandas como os Sex Pistols para exteriorizar na sua personagem um estado de rebeldia próprio da idade. A facilidade e destreza com que os actores o conseguiram fazer deve-se à fase que os três atravessavam e que encontrava paralelo com a das personagens.
Enquanto fingiam estudar na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, Daniel, Emma e Ron não levaram a escola como prioridade. O primeiro estudou na City of London School, escola privada para rapazes que frequentou enquanto estava ocupado em filmagens. Após ter feito exames, foi seguido nos estúdios por um tutor que, segundo disse em entrevista para o The Observer, considerava mais proveitoso. Decidido a não ir para a universidade, o actor de “Harry Potter” deixou clara a ideia de que é preferível ser-se auto-didacta ao investir na leitura. Uma opinião um tanto semelhante à do seu colega: “Não queria realmente saber da escola”, disse Rupert Grint ao The Washington Post. Já Emma Watson é contra a ideia de abandono. “As pessoas não percebem por que não quero ser actriz a tempo inteiro, mas a vida escolar mantém-me em contacto com os meus amigos. Mantém-me em contacto com a realidade. Faz-me sentir normal. Vamos ser honestos: tenho dinheiro suficiente para nunca trabalhar mais, mas eu nunca quereria isso. Aprender deixa-me motivada”, acrescentou na entrevista para a Parade.
Próximos na vida real como amigos, os três testemunharam as oportunidades que entretanto, enquanto representavam em “Harry Potter”, iam recebendo das mais diversas áreas. Daniel Radcliffe, por exemplo, participou em 2002 na peça de teatro “The Play I Wrote”, dirigida por Kenneth Branagh e apresentada em West End, em Londres. O seu papel mais polémico, no entanto, foi quando protagonizou “Equus”, peça escrita por Peter Shaffer sobre um psiquiatra que tenta curar um rapaz com uma perturbação psico-sexual por cavalos. Para além das duras críticas dos pais dos fãs da série “Harry Potter”, a Warner Bros pressionou o actor para abandonar o projecto teatral, por causa de cenas em que apareceria completamente nu. A determinação de Radcliffe foi mais forte e surgiu pela primeira vez em Fevereiro de 2007 em Londres passando, devido ao enorme êxito, para a Brodway em 2008, para onde o actor regressou este ano. No cinema, aparece ainda na longa-metragem independente “December Boys”, na qual representa em 2007, fazendo aparições nalguns episódios de televisão, como “Os Simpson”. Poderemos voltar a vê-lo, numa era pós-“Harry Potter”, na longa-metragem de terror “The Woman in Black” [foto], a estrear em 2012, encarnando um jovem advogado.
Amante de golfe e de ténis, Rupert Grint, por seu lado, representou nos filmes “Calças de Trovão” (2002), no tele-filme “Happy Birthday, Peter Pan” (2005; dando voz a Peter Pan), “Lições de Condução” (2006), “Cherrybomb” e “Wild Target” (2009). Para o futuro prepara o lançamento de quatro novos filmes, dois com estreia prevista para este ano (“Eddie the Eagle” e “Cross Country”) e outros dois para 2012 (“Comrade” e “Wartime Wanderers”).
À margem da saga de fantasia, Emma Watson assinou em 2008 um contrato de 3 milhões com a Chanel e também representou noutros filmes: “Ballet Shoes” (2007), tele-filme da BBC e “A Lenda de Despereaux”, longa-metragem de animação onde fez a voz da Princesa Pea. “My Week With Marilyn”, a estrear ainda este ano, e “The Perks of Being a Wallflower”, com lançamento previsto para 2012 são os filmes em que a actriz surgirá após a série.
Actualmente, Daniel Radcliffe é o actor com menos de 30 anos mais bem pago do mundo (com uma fortuna avaliada em cerca de 55 milhões de euros), seguido por Emma Watson (24,6 milhões) e Rupert Grint (22,7 milhões), que encabeçam o terceiro e quarto lugares no ranking da Heat. “Todos os dias estamos próximos de nunca fazer isto de novo”, afirmou este último em época de rodagens. O trio representou a última cena juntos em “Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2” há um ano atrás (Radcliffe afirmou que ficaram “todos desolados” embora estivessem “contentes” por terem “concluído o trabalho”), completando um ciclo que falta o grande público conhecer quando ocorrer a sua estreia, prevista em Portugal para o próximo dia 14 de Julho. O fenómeno cultural, que ganhou rosto com os três companheiros, mereceu ainda um destaque na Cinemateca Júnior em Lisboa, que entre nos dias 11, 12 e 13 de Julho fez uma retrospectiva com todos os filmes da série que, inegavelmente, marcou toda uma geração.
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