Com a sua sexta longa-metragem “Cisne” prestes a estrear no Festival de Veneza e nas salas de cinema portuguesa, recordamos “Água e Sal”, um filme com tom intimista de Teresa Villaverde. Este artigo foi publicado originalmente no Diário de Notícias, no dia 26 de Agosto de 2011.
Fazendo parte da nova geração de cineastas que surgiu no final dos anos 80, Teresa Villaverde (nascida a 18 de Maio de 1966) que, ao contrário dos colegas, não estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema, apresentou-se como um raro exemplo de persistência. Estreou-se, pela primeira vez, como actriz em À Flor da Pele (1986), escrito e realizado por João César Monteiro, e como argumentista em Filha da Mãe (1990), de João Canijo, que co-escreveu com o realizador, Oliver Assayas e Manuel Mozos.
Apenas um ano depois, assina aquela que seria a sua primeira longa-metragem: A Idade Maior (que escreveu e realizou), com Vincent Gallo, Maria de Medeiros e Joaquim de Almeida, e que reconstitui Portugal no início da década 70 antes da Revolução dos Cravos e em plena época de Guerra Colonial (tema querido por parte dos realizadores portugueses).
Mais tarde, Medeiros regressaria em 1994 no seu segundo filme, Três Irmãos. Depois de ter lançado, em 1996, a curta-metragem O Amor não me Engana para a televisão, Teresa Villaverde surpreendeu, dois anos depois, o público e a crítica com o desafiante e premiado Os Mutantes, que emana uma evidente preocupação social, debruçando-se sobre os habitantes de bairros marginais.
Foi no princípio do novo milénio, em 2001, que Villaverde decide apresentar aquele que considerou ser o seu filme mais livre: Água e Sal. Rodada em Cabanas, no Algarve, a sua quarta longa-metragem foi ao Festival de Cinema de Veneza (na secção “Cinema do Presente”, onde foi galardoada com uma menção honrosa) “como uma história normal, com uma mulher normal a quem acontecem coisas normais”, onde “às vezes passam nuvens”, segundo a própria sinopse.
Na verdade, esta é a história de Ana (a actriz italiana Galatea Ranzi, cuja voz é dobrada por Carla Bolito), a mãe de uma jovem criança presa a um casamento deteriorado com a personagem que Joaquim de Almeida interpreta. Durante uma viagem que o marido e a filha fazem, a vida da protagonista é consumida por um trabalho profissional e pelo encontro que tem com estranhas personagens: um desconhecido (Miguel Borges) que Ana salva de um acidente ocorrido perto da costa algarvia e que acaba por desejá-la; um jovem (Alexandre Pinto) que ama desesperadamente uma rapariga (Ana Moreira, que protagoniza Transe, o quinto filme de Villaverde) aprisionada pelo pai; a sua amiga Vera (Maria de Medeiros); ou o amante interpretada pelo cantor Chico Buarque, com quem Villaverde tem uma relação muito próxima.
Com uma fotografia interessante (assinada pelo director Emmanuel Machuel, responsável pela imagem de títulos como O Dinheiro, de Robert Bresson) e uma estética liderada pela força do mar algarvio (de onde provém a inspiração para o título da longa-metragem), Água e Sal, produzido por Paulo Branco, tem um tom declaradamente intimista e autobiográfico, já que a realizadora admitiu, em declarações ao jornal Público em 2002, que sentia “que este filme foi o que mais precisei de fazer, pessoalmente”. Filme apontado pela confusão que o preenche (a dada altura do filme, a protagonista reconhece: “Estou à procura, não sei bem de quê”), Teresa Villaverde reagiu declarando que a afligia “o facto de, se vamos falar da confusão, termos que ter a cabeça arrumada. Eu quis falar da confusão, mergulhar nela e assumir a minha própria confusão”.
Depois de ter filmado Transe (2006), filme sobre o tráfico humano, a realizadora portuguesa prepara-se para regressar a Veneza com a sua mais recente longa-metragem: Cisne, que conta com Beatriz Batarda, Miguel Nunes e Israel Pimenta no elenco e que poderemos ver nas salas de cinema portuguesas já no próximo dia 8 de Setembro.
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