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quinta-feira, setembro 01, 2011

Estreias e box office da semana (ii)

Nesta quinta-feira, dia de estreias nas salas de cinema portuguesas, serão lançados quatro novos filmes:

1. “Um Dia” (original: “One Day”), drama romântico realizado por Lone Scherdig e escrito por David Nicholls (argumento e livro original), acompanha um dia decisivo para as duas personagens interpretadas por Anne Hathaway e Jim Sturges. [Trailer]

2. “Assim é o Amor” (original: “Beginners”) é uma comédia romântica independente assinada por Mike Mills e que explora a forma como o protagonista (Ewan McGregor) aprende a lidar com a morte do pai (Christopher Plummer) e a redescobrir o amor com uma jovem actriz (Mélanie Laurent). [Trailer e crítica]

3. A animação norte-americana “Capuchinho Vermelho: A Nova Aventura” (original: “Hoodwinked Too! Hood vs. Evil”), escrita e realizada por Mike Disa, desenvolve a história de Capuchinho Vermelho, que aqui é uma agente secreta ao lado de Lobo Mau e que tem a missão de investigar o desaparecimento de Hansel e Gretel. [Trailer]

4. O quinto episódio do filme de terror “O Último Destino” (original: “The Final Destination 5”) é a primeira longa-metragem do realizador Steven Quale, que trabalhou em “Avatar” como assistente de realização.  [Trailer]

Segundo os dados fornecidos pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), a animação norte-americana realizada por Raja GosnellOs Smurfs” voltou a ser, pela terceira semana consecutiva, o filme mais visto nas salas de cinema portuguesas (77,963 espectadores), tendo acumulado o total de 1,984,796.70 euros de receita bruta.

A rubrica Estreias e box office da semana é uma versão editada dos dois artigos da minha autoria originalmente publicados no site Dinheiro Vivo, onde acrescento informação sobre a performance financeira dos vários filmes aqui apresentados: aqui (box office) e aqui (estreias).

quinta-feira, agosto 18, 2011

Depois da magia, o terror

Daniel Radcliffe, que protagonizou a rentável série cinematográfica “Harry Potter”, vai regressar brevemente na longa-metragem de terror “The Woman in Black” (que podemos traduzir como “A Mulher de Preto”), que ganhou um novo trailer promocional.

A história sobrenatural, baseada no romance de Susan Hill (já adaptada para teatro, rádio e televisão), segue o jovem advogado Arthur Kipps, que viaja para um local distante no Reino Unido para investigar a misteriosa morte de um cliente seu. O filme é assinado pelo inglês James Watkins, responsável por títulos do mesmo género como “A Descida – Parte 2” (2009), que escreveu, ou “O Lago Perfeito” (2008), onde surge como realizador.

Radcliffe é hoje reconhecido como o actor com menos de 30 anos mais bem pago do mundo (com uma fortuna avaliada em cerca de 55 milhões de euros). Em declarações feitas à MTV, o jovem actor admitiu que “durante o ‘screen test’ realizado, as pessoas saltaram aterrorizadas das suas cadeiras, por isso acho que vai ser um filme muito, muito bom”.

O filme estreia no dia 3 de Fevereiro de 2012 nos EUA e 8 dias depois no Reino Unido. Em Portugal, “The Woman in Black” não tem ainda data de lançamento definida.
Esta notícia foi publicada originalmente no site Dinheiro Vivo, no dia 17 de Agosto de 2011.

quarta-feira, agosto 17, 2011

O trio que sobreviveu




Celebrizados pela saga “Harry Potter”, os três protagonistas cresceram à frente do mundo ao longo de oito filmes. Que será da carreira do trio depois do último capítulo? Este artigo foi originalmente publicado no dia 10 de Julho de 2011 na revista Notícias Magazine, que integra o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias
Em Nova Iorque, em Times Square, chama à atenção um anúncio de mais um novo espectáculo: é a comédia musical “How to succeed in business without really trying” (ou “Como ser bem sucedido nos negócios sem realmente tentar”), com Daniel Radcliffe que, sorridente e vestido de fato, encabeça o cartaz. Ao lado, um outro cartaz, apresenta “Harry Potter: The Exhibition” no Discovery Times Square, exposição que mostra, para além de décors e objectos utilizados nos filmes da série, a evolução do vestuário dos três feiticeiros. É, na verdade, de lá que reconhecemos Daniel Radcliffe, que encarna o famoso Harry Potter. Esta curiosa aproximação reflecte o futuro do actor, assim como o dos colegas Emma Watson (que representa Hermione Granger) e Rupert Grint (conhecido por ser Ron Weasley): com a vontade de abarcar em novos projectos mas com a imagem invariavelmente marcada pelas personagens representadas neste autêntico fenómeno cultural.

Recuemos então a 1999, quando as escolhas do elenco para o primeiro filme, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” avançaram pela direcção de casting, que se empenhava em descobrir os actores certos que dirigiriam a série. A primeira descoberta da equipa para a “trindade mágica” foi o jovem Daniel Radcliffe. David Heyman, amigo do pai da criança, não conseguiu convencer Steven Spielberg na altura em que se apresentava como potencial realizador da saga e que desejava, para além de filmar em Hollywood, que o protagonista fosse Haley Joel Osment (que surge em “Inteligência Artificial”, realizado pelo norte-americano). Spielberg decidiu, contudo, afastar-se da adaptação quando J. K. Rowling exigiu que o elenco fosse inglês e não americano. Com a entrada de Chris Columbus no projecto, o papel de Harry Potter para Radcliffe foi novamente considerado, já que o realizador apreciava o seu trabalho. Nascido em Londres no dia 23 de Julho de 1989 como Daniel Jacob Radcliffe, filho de um agente literário e uma directora de casting, já com 5 anos anunciava aos pais o desejo de se tornar actor. Após ter participado como macaco numa peça de teatro de escola, em “David Copperfield” (1999) [foto], telefilme da BBC, e feito audições para o primeiro filme da série produzida por Heyman, Daniel Radcliffe conta que se encontrava no banho quando o pai lhe deu a notícia de que seria Harry Potter, “o rapaz que sobreviveu”.

Seguiu-se a escolha de Emma Charlotte Duerre Watson, nascida em Paris em 1990, filha de dois advogados ingleses. Ambos se divorciaram quando tinha cinco anos e, sob a guarda da mãe, passou a viver com o irmão em Oxford, na Inglaterra. À semelhança do colega, já mostrava o desejo de ser actriz também com essa idade, concorrendo para os castings sem qualquer experiência ou ideia do que a esperava. “Na primeira audição que fui não tinha nenhuma noção da escala e fama que os filmes teriam. Se tivesse, ficaria completamente abismada”, confessa à revista Parade. Mas Watson ficou sob o olho da equipa técnica e, sobretudo, da escritora dos livros J. K. Rowling que desde o princípio apoiou que esta encarnasse a personagem de Hermione Granger, a amiga estudiosa e inteligente de Harry Potter.

Por fim, faltava alguém que representasse a personagem de Ron Weasley para completar o trio. Filho de um comerciante e de uma empregada doméstica, Rupert Alexander Grint, nascido a 24 de Agosto de 1988 em Hertfordshire, era um declarado fã da série literária e, quando se viu diante da oportunidade de representar uma das suas personagens preferidas, levou um pequeno vídeo realizado por si para a audição, no qual cantava rap em defesa da sua selecção, estratégia que acabou por se mostrar frutífera.

No dia 8 de Agosto de 2000 o trio ficou finalmente seleccionado. Hoje, para promover o último capítulo de “Harry Potter”, a produção da Warner Bros lançou na internet uma “featurette” com o primeiro “screen test” com os três reunidos, dez anos mais novos. Na gravação [ver aqui], vemos o ensaio de uma cena incluída no primeiro filme e chega a ser interessante como o objectivo do final deste filme é o retorno às origens. Em boa verdade, a maturidade dos jovens actores, que entretanto não sabiam a dimensão do impacto que a imagem dos três teria em redor do mundo, cresceu a olhos (e a filmes) vistos. Fazendo parte das inúmeras estratégias de marketing da produtora, “Harry Potter” não se limitou a propagar o trio de feiticeiros ao nível do cinema. O público mais agarrado à saga, sobretudo crianças e adolescentes, incidiu as atenções nos videojogos, nas cadernetas de cromos ou nos portais online, invariavelmente relacionando as imagens de Radcliffe, Watson e Grint a Harry, Hermione e Ron, respectivamente, e tomando-os como sérios exemplos de companheirismo e amizade.

Os actores receberam os seus papéis com responsabilidade e cientes de toda a pressão mediática envolvida sobre o projecto. O próprio protagonista admitia, ao jornal Clarín, com apenas 12 anos, que já o chamavam por “Harry” quando lhe pediam autógrafos, encarando o acontecimento com uma invulgar tranquilidade. Na mesma entrevista, Radcliffe afirmava temer que o seu crescimento poderia não se adequar às personagens e, com a chegada do terceiro filme e o anúncio de um novo realizador, correram rumores que o trio seria substituído pela idade avançada. Heyman, contudo, decidiu renovar os contratos para mais filmes com os jovens actores e Alfonso Cuarón, que realizou “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, empenhou-se em esbater a ideia e a personalidade infantilizadas pelos primeiros dois filmes dirigidos por Chris Columbus. A direcção dos três passou, por isso, por uma caracterização baseada no processo de crescimento e identidade na puberdade e adolescência. Cuarón chegou mesmo a aconselhar Daniel Radcliffe a ver o filme “Os Quatrocentos Golpes” (1959), do francês François Truffaut, e a ouvir bandas como os Sex Pistols para exteriorizar na sua personagem um estado de rebeldia próprio da idade. A facilidade e destreza com que os actores o conseguiram fazer deve-se à fase que os três atravessavam e que encontrava paralelo com a das personagens.

Enquanto fingiam estudar na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, Daniel, Emma e Ron não levaram a escola como prioridade. O primeiro estudou na City of London School, escola privada para rapazes que frequentou enquanto estava ocupado em filmagens. Após ter feito exames, foi seguido nos estúdios por um tutor que, segundo disse em entrevista para o The Observer, considerava mais proveitoso. Decidido a não ir para a universidade, o actor de “Harry Potter” deixou clara a ideia de que é preferível ser-se auto-didacta ao investir na leitura. Uma opinião um tanto semelhante à do seu colega: “Não queria realmente saber da escola”, disse Rupert Grint ao The Washington Post. Já Emma Watson é contra a ideia de abandono. “As pessoas não percebem por que não quero ser actriz a tempo inteiro, mas a vida escolar mantém-me em contacto com os meus amigos. Mantém-me em contacto com a realidade. Faz-me sentir normal. Vamos ser honestos: tenho dinheiro suficiente para nunca trabalhar mais, mas eu nunca quereria isso. Aprender deixa-me motivada”, acrescentou na entrevista para a Parade.

Próximos na vida real como amigos, os três testemunharam as oportunidades que entretanto, enquanto representavam em “Harry Potter”, iam recebendo das mais diversas áreas. Daniel Radcliffe, por exemplo, participou em 2002 na peça de teatro “The Play I Wrote”, dirigida por Kenneth Branagh e apresentada em West End, em Londres. O seu papel mais polémico, no entanto, foi quando protagonizou “Equus”, peça escrita por Peter Shaffer sobre um psiquiatra que tenta curar um rapaz com uma perturbação psico-sexual por cavalos. Para além das duras críticas dos pais dos fãs da série “Harry Potter”, a Warner Bros pressionou o actor para abandonar o projecto teatral, por causa de cenas em que apareceria completamente nu. A determinação de Radcliffe foi mais forte e surgiu pela primeira vez em Fevereiro de 2007 em Londres passando, devido ao enorme êxito, para a Brodway em 2008, para onde o actor regressou este ano. No cinema, aparece ainda na longa-metragem independente “December Boys”, na qual representa em 2007, fazendo aparições nalguns episódios de televisão, como “Os Simpson”. Poderemos voltar a vê-lo, numa era pós-“Harry Potter”, na longa-metragem de terror “The Woman in Black” [foto], a estrear em 2012, encarnando um jovem advogado.

Amante de golfe e de ténis, Rupert Grint, por seu lado, representou nos filmes “Calças de Trovão” (2002), no tele-filme “Happy Birthday, Peter Pan” (2005; dando voz a Peter Pan), “Lições de Condução” (2006), “Cherrybomb” e “Wild Target” (2009). Para o futuro prepara o lançamento de quatro novos filmes, dois com estreia prevista para este ano (“Eddie the Eagle” e “Cross Country”) e outros dois para 2012 (“Comrade” e “Wartime Wanderers”).

À margem da saga de fantasia, Emma Watson assinou em 2008 um contrato de 3 milhões com a Chanel e também representou noutros filmes: “Ballet Shoes” (2007), tele-filme da BBC e “A Lenda de Despereaux”, longa-metragem de animação onde fez a voz da Princesa Pea. “My Week With Marilyn”, a estrear ainda este ano, e “The Perks of Being a Wallflower”, com lançamento previsto para 2012 são os filmes em que a actriz surgirá após a série.

Actualmente, Daniel Radcliffe é o actor com menos de 30 anos mais bem pago do mundo (com uma fortuna avaliada em cerca de 55 milhões de euros), seguido por Emma Watson (24,6 milhões) e Rupert Grint (22,7 milhões), que encabeçam o terceiro e quarto lugares no ranking da Heat. “Todos os dias estamos próximos de nunca fazer isto de novo”, afirmou este último em época de rodagens. O trio representou a última cena juntos em “Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2” há um ano atrás (Radcliffe afirmou que ficaram “todos desolados” embora estivessem “contentes” por terem “concluído o trabalho”), completando um ciclo que falta o grande público conhecer quando ocorrer a sua estreia, prevista em Portugal para o próximo dia 14 de Julho. O fenómeno cultural, que ganhou rosto com os três companheiros, mereceu ainda um destaque na Cinemateca Júnior em Lisboa, que entre nos dias 11, 12 e 13 de Julho fez uma retrospectiva com todos os filmes da série que, inegavelmente, marcou toda uma geração.

quarta-feira, julho 13, 2011

Um final digno para a saga que sobreviveu


Um dos acontecimentos culturais da década, "Harry Potter e os Talismãs da Morte - Parte 2" encerra a saga cinematográfica que adapta os livros originais de J. K. Rowling. Estreia em Portugal amanhã, dia 14 de Julho. Transcrevo de seguida uma opinião que escrevi sobre o filme visto em primeira mão, publicada ontem no Diário de Notícias sob o título "Conclusão da série Harry Potter segue a fórmula que conduziu todos os filmes", ao lado do grande artigo "E a magia chegou ao fim", escrito pelo João Moço.
A segunda parte do capítulo que encerra uma das mais famosas sagas de cinema de sempre é a consequência directa da fórmula à qual se agarraram os sete filmes precedentes de “Harry Potter”. Preenchida com acção e um tom épico jamais antes visto, o argumento, da responsabilidade de Steve Kloves prepara o espectador mais afastado do universo fantástico para entender a demanda do protagonista e o seguir para a batalha final com Lord Voldemort. A fotografia cuidada e sombria do português Eduardo Serra alia-se à equipa dos especiais tendo em vista um resultado tecnicamente deslumbrante possibilitando que parte do elenco brilhe nas suas interpretações, sobretudo as que Daniel Radcliffe e Alan Rickman nos oferecem.

Apesar do entretenimento característico, não deixa de ser infeliz (embora previsível) que este “Harry Potter”, à semelhança de quase todos os outros, tenha mais qualidades técnicas que propriamente cinematográficas. O realizador David Yates mostra-se incapaz de escapar à banal e imponderada lógica de videojogo, parecendo apenas querer exibir, na maior parte das vezes, fogo-de-artifício, impedindo que certas cenas “respirem” o tempo que necessitam verdadeiramente. Para além disso, a presença do 3D, inédita em toda a série, é desapontante e incompreensível, já que não acrescenta nada ao impacto da imagem do filme.

Não obstante, o saldo deste oitavo e último filme é satisfatório, na medida em que concretiza, com sucesso, o objectivo simbólico a que se propôs desde o início: oferecer a “Harry Potter” o merecido final, para a personagem, o seu mundo e a legião de fãs que desde sempre o seguiram. Apresenta-se assim, inevitavelmente, o final, acompanhado pelos valores da união e da esperança, de uma das séries mais icónicas e rentáveis que o cinema alguma vez assistiu.

terça-feira, julho 12, 2011

Harry Potter chega ao fim em tom épico

“Harry Potter e os Talismãs da Morte – Parte 2” fecha a série de forma fiel à linha que definiu a saga cinematográfica. Este texto foi publicado originalmente no dia 11 de Julho de 2011, no site Dinheiro Vivo, que integra o Diário de Notícias. Pode ser lido integralmente aqui.

quinta-feira, julho 07, 2011

O fim de um fenómeno globalizante


Quando vemos que milhares de jovens e duas centenas e meia de jornalistas insistem em permanecer acampados em Trafalgar Square perto de uma passadeira vermelha, na capital inglesa, mesmo sob a chuva própria de Londres, confirmamos a certeza de que estamos perante um fenómeno que é, ao mesmo tempo, mediático e fanático.

Harry Potter dispensa, por isso, apresentações – e a própria promoção do último filme demonstra, curiosamente, que basta a anunciação (simbólica, mais que apocalíptica) de que “tudo acaba” para que o público saiba sobre o que é que está defronte de si: o fim de um ícone cultural que, para além de ser seu contemporâneo, é fabricado e alienante. 

As proporções das aventuras deste feiticeiro inexistente estendem-se, inevitavelmente, à internet (o IMDb preparou um especial no seu portal; o Youtube transmite a cobertura ao vivo, entre as 16 e as 19 horas, da apresentação do filme e promove a utilização das redes sociais - Twitter, Facebook, MySpace ou os próprios blogues - para que se fale do evento), indispensável para mover as atenções na era virtual da globalização – que, por sua vez, está longe de terminar. 

Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2” [trailer] estreia em Portugal no dia 14 de Julho e, no dia seguinte, nos Estados Unidos da América.

quinta-feira, maio 19, 2011

O triunfo da magia

Acabado de sair o DVD da primeira parte de «Harry Potter e os Talismãs da Morte» e a dois meses de estrear o último filme, um olhar de balanço sobre a saga que marcou uma geração.

Passavam pouco mais de dois meses desde que o horror dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 abalara o mundo quando o produtor David Heyman lançou, nos EUA, um franchising cinematográfico que se revelou como uma autêntica bomba. Não são de admirar os recordes de bilheteira e os 150 milhões de dólares (104 milhões de euros) obtidos no fim-de-semana de Acção de Graças em que a Warner Bros. deu a conhecer Harry Potter no grande ecrã. De certa maneira o franzino e estranho rapazinho inglês maltratado pelos tios com quem vive e que, no seu décimo primeiro aniversário, descobre ser órfão de pais feiticeiros, equipara-se ao espectador norte-americano de então: fragilizado e com a necessidade de um escape. Foi precisamente a partir do momento em que o jovem é convidado a estudar na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts que a sua vida mudou radicalmente. Depois de uma década, a magia prepara-se para chegar ao fim, quer para Harry, que enfrenta o arqui-inimigo, como para os milhares de não-feiticeiros (que é como quem diz, os muggles, expressão que até o Oxford English Dictionary hoje inclui) que constituem o público que o segue nas suas aventuras no cinema. Antes da estreia da segunda parte do último capítulo da saga, «Harry Potter e os Talismãs da Morte», prevista para o dia 14 de Julho em Portugal, o que podemos dizer que mudou e como olhamos a geração que se formou, à volta de todo o globo, na companhia do mais famoso dos feiticeiros?

Ao contrário da resposta para a questão que se coloca, a fórmula da britânica J. K. Rowling é simples. Levando consigo os níveis da originalidade e complexidade de Tolkien (autor de «O Senhor dos Anéis»), que alia com o seu fértil imaginário, a autora dos sete livros baseia a progressão da série num conflito clássico maniqueísta no qual o bem e o mal, representados respectivamente por Harry Potter e Lord Voldemort, lutam entre si. Apesar disto, será curioso salientar como, a cada ano lectivo e livro que o retrata, Rowling vai enfraquecendo a ingenuidade do herói, seguindo a adolescência e propondo-se a caracterizá-lo misturando qualidades e defeitos que, não poucas vezes, se parecem diluir. Esta ideia de «herói por acidente», bem como a de desígnio, complementam a imagem ideal de como deverá ser o leitor: fiel à sua individualidade e propósitos na vida (metáfora que a própria divisão dos alunos de Hogwarts em equipas, cujos valores são distintos, representa bem).

Watson, Radcliffe e Grint.
A produção dos filmes, que adquire os direitos de «Harry Potter e a Pedra Filosofal» (originalmente publicado no Reino Unido em 1997) por 1,14 milhões de euros, empenha-se em acompanhar a febre que se instala no princípio do milénio (pela primeira vez, um livro da saga – o quarto – é lançado à meia-noite), revelando o primeiro poster no dia 30 de Dezembro de 2000. Steven Spielberg é considerado para assinar contrato para a realização de sete títulos mas as suas divergências com o formato do filme (o realizador acreditava que funcionaria apenas como animação) e com a origem do elenco (que a escritora quis assegurar que seria exclusivamente britânica) fazem-no abandonar o projecto. Entretanto, surge em cena Chris Columbus, que se encarrega de dirigir os jovens actores Daniel Radcliffe (Harry Potter), Emma Watson (Hermione Granger) e Rupert Grint (Ron Weasley), o trio, agradavelmente improvável, de melhores amigos que se forma no primeiro ano de escola. A presença de Columbus, conhecido sobretudo pelos dois primeiros e bem-sucedidos «Sozinho em Casa» (em 1990 e 1992), era, para além de evasão à realidade, sinónima de criação de entretenimento dirigido, particularmente, para as famílias. O realizador acabou por adequar a sua visão aos filmes de David Lean que mais o inspiraram – «Great Expectations» (1946) e «Oliver Twist» (1948), ambos curiosamente adaptações literárias –, que o permitem criar um universo altamente colorido e detalhado, como se visto pelos olhos de uma criança e do próprio Harry. É talvez por isso que sentimos uma curiosidade pueril no primeiro filme, lançado a 30 de Novembro de 2001 em Portugal (estreia que bateu na altura o recorde de bilheteira como o fim de semana mais lucrativo de sempre entre nós). É fulcral assinalar como a história abre com um tom de desagregação familiar e de agoniante solidão para percorrer um arco que termina em união e esperança. Quer isto demonstrar que o primeiro filme introduz um conjunto de valores que, apesar de não serem novos, acabam por reforçar a tendência da produção cinematográfica mainstream ligada ao público jovem para se ajustar às realidades contemporâneas. O primeiro filme introduz-nos o universo em que entram, em desconhecimento total, o protagonista e o espectador, que se confundem por entre os corredores da escola e o desenvolvimento da trama.

Nunca será demais afastarmo-nos das consequências socioculturais resultantes do conteúdo para perceber como a lógica do blockbuster e do marketing em seu torno acabou por se mostrar altamente frutífera. Muito à semelhança do fenómeno «Guerra das Estrelas», o tema musical central, composto pelo icónico John Williams, tornou-se globalmente reconhecível, tamanha passou a ser a sua utilização nas apresentações das sequelas, nos eventos organizados pelos fãs, nos toques para telemóveis e nos jogos de vídeo, da responsabilidade da Electronic Arts, que fizeram parte do merchandising «potteriano». Para além destes, enquanto a Mattel, a Lego e a Hasbro adquirem os direitos para produzir figuras em miniatura, surgem produtos comestíveis baseados no mundo fantástico e outros artigos essencialmente destinados às crianças. A Coca-Cola encarrega-se de promover os filmes depois de um contrato de 104 milhões de euros. A série difundia-se internacionalmente a um ritmo singular na era da Internet, impulsionando a criação e partilha de fóruns, desenhos, ficção literária baseada no universo de Rowling, montagens de vídeo e portais dedicados aos fãs, nos quais discutiam os desenvolvimentos do futuro dos filmes e dos livros. A partir do momento em que a comunidade dos admiradores de Harry Potter ultrapassa a fasquia inicialmente promovida para o público leitor e espectador, abarcando todas as idades, a imagem do protagonista e da sua cicatriz na testa em forma de raio afirmaram-se definitivamente como um ícone cultural de conhecimento obrigatório.

Watson, Grint e Radcliffe em «Harry Potter and the Chamber of Secrets»

Um ano depois, «Harry Potter e a Câmara dos Segredos» estreia em todo o mundo, com um retorno financeiro de 429 milhões de euros fora dos Estados Unidos, ultrapassando os 406 milhões da segunda parte de «O Senhor dos Anéis». O segundo capítulo foi recebido com um olhar bem mais atento pelo público e crítica, que confirmava a continuação da adaptação literária dos livros de J. K. Rowling até o fim, e serviu de introdução ao vilão da história. Se no primeiro esbatemos contra uma clara ambivalência entre as forças do bem e as do mal, neste segundo mergulhamos na psicologia e passado de Lord Voldemort e do seu caminho para a perdição, algo que será continuadamente aprofundado ao longo dos futuros filmes. «A Câmara dos Segredos» introduz, de igual maneira e melhor que qualquer outro filme, o tema histórico e político da segregação e da urgência de igualdade de direitos. Não se tratam de judeus, mas dos meio-sangue discriminados e dos elfos domésticos escravizados (a liberdade de Dobby, o elfo que acaba por travar amizade com Harry, é inclusive auto-proclamada na primeira parte do último filme). Toda a terminologia empregue lança, sempre com cautela, mensagens subtis que invocam constantemente o respeito pela diferença (em 2007, a autora revelou que Dumbledore, o grande mentor do aprendiz de feiticeiro e director de Hogwarts, era homossexual), pelo que poderemos considerar a saga como uma apologia da diversidade.

Watson e Radcliffe em «Harry Potter 3»
Em 2003, enquanto «A Ordem da Fénix» vendia 5 milhões de livros no primeiro dia de lançamento, a produção do terceiro filme decorria, na qual Chris Columbus fica afastado da realização. Guillermo del ToroO Labirinto do Fauno», 2006) é convidado a dirigir «Harry Potter e o Prisioneiro de Azkban», colaboração que recusa pelo desinteresse em se associar a algo que considerava ser demasiado «brilhante, feliz e cheio de luz». O posterior auxílio do mexicano Alfonso Cuarón (mais conhecido pelos seus filmes «E a tua Mãe Também», em 2001, e «Os Filhos do Homem», em 2006) acabou por refutar essa ideia, desenvolvendo, na terceira parte e reunido com a fotografia e a banda musical, uma atmosfera distinta, fria, estilizada e negra, fazendo sobressair, pela única vez, a sua identidade enquanto autor sobre o entretenimento puro dos filmes da série. Não é de admirar que, aqui, nunca a morte tenha parecido tão próxima, já que a consciência do herói se vê, pela primeira vez, na obrigação de proteger a própria vida dos Devoradores da Morte. A própria Rowling admite que os livros são essencialmente «sobre a morte». Não existem, neste filme, lançado no Verão de 2004, traços da pré-adolescência ingénua apresentados nos capítulos precedentes, anunciando uma maturidade e independência das personagens e do próprio cinema de Harry Potter, que se complexifica em personagens e em narrativa.

O facto de o terceiro ter sido o menos lucrativo dos sete filmes fez com que a promoção se intensificasse em 2005 para «Harry Potter e o Cálice de Fogo» (realizado por Mike Newell), que estreou em Novembro, rendendo 622 milhões de euros, tornando-se no mais rentável desse ano. Dois anos depois, David Yates surgiria como o realizador definitivo dos próximos episódios, lançando «Harry Potter e a Ordem da Fénix» em 2007, a adaptação com a mais breve duração (para um livro que detém o recorde de páginas sobre os restantes) e que explora o lado da subversão política dos jovens face às injustiças vividas e o primeiro amor vivido pelo protagonista. «Harry Potter e o Príncipe Misterioso», lançado em 2009, é provavelmente o menos «mágico» de todos os capítulos, focando-se nas emoções e relações amorosas das personagens e exigindo um maior trabalho de actores. À sua semelhança, este sexto episódio surge num aproximar do fim da década assinalado pela presença de blockbusters fantásticos dirigidos ao público adolescente, como a série «Crepúsculo».

O sétimo filme, «Harry Potter e os Talismãs da Morte – Parte 1», antecede o grande final previsto para este ano, situando, através da fotografia do português Eduardo Serra, o trio fora de Hogwarts e num contexto social mergulhado no terror. Nunca antes os valores de companheirismo e lealdade estiveram tão exacerbados, prometendo uma conclusão encerrada na noção de união e esperança. Não deixa de ser curioso que, passada uma década também marcada pelo medo, a segunda parte dos «Talismãs da Morte» estreie dois meses após a morte de Osama Bin Laden.

Este artigo foi originalmente publicado na revista Notícias Magazine do DN e do JN, no dia 15 de Maio de 2011.