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sexta-feira, setembro 21, 2012

Aplaudir / Não aplaudir



Há um plano em Para Roma, com Amor em que uma das personagens – uma jovem italiana, que chegou à capital com o companheiro e que procura nesse dado momento um corte de cabelo (quase como Robert Pattinson mas longe de uma limusina) – que pode ser visto, por um lado, como uma exposição ou, por outro, como uma resposta à desilusão com que temos vistos os seus filmes mais recentes: é um movimento de câmara descrito em 360 graus (com um insuportável arrasto na imagem), que abandona a personagem para dar lugar a uma cidade, cheia de vida, sim, mas caótica e intimidante. Cartão-postal? Ou será que estamos perante um dos breves momentos em que Woody Allen se recusou a fazer cedências? (Afinal, não esqueçamos, o tempo é factor determinante no mainstream norte-americano – um momento com uns segundos “a mais” e que “não dizem nada” e pode ser fatal). 

A dúvida permanece, mas parece que o filme se envolveu num processo de autodestruição sem retorno: na produção (um dos casos que se conhece: de vários títulos sugeridos, Para Roma, com Amor foi o que mais rapidamente foi aceite – o pior, portanto), na recepção (grande parte da crítica, sobretudo a italiana, atacou ferozmente a sua visão da cidade e dos romanos, superficial e previsível) e na promoção (o realizador afirmou recentemente que não gostava de nenhum dos seus filmes, confirmando o abismo entre o idealizado e o concretizado). 

Tentamos por isso compreender: por que é que Woody Allen insiste em nos mostrar, como um guia que esquece a vida que há nas ruas secundárias da capital (quem o recorda é mesmo a personagem interpretada por Alec Baldwin), os mesmos monumentos de sempre? E por que motivo há momentos e personagens de frívola banalidade? Parece, a dada altura, que Allen está a conversar consigo mesmo: através, por exemplo, da personagem de Ellen Page, a sensual Monica (o nome parece até remeter-nos ao imaginário bergmaniano, do qual o realizador nunca se despega), que numa cena nos diz: “acho tão sexy um artista que não faz concessões...” 

E, apesar de tudo, temos Woody Allen. Espirituoso, nunca aborrecido. Repartido em vários volumes e “histórias para todos os gostos”, como um Roma je t’aime ou um ABC do Amor com segmentos cruzados (mas que nunca se conhecem), narrados por um polícia-sinaleiro rapidamente esquecido. Um dos elos possíveis é também um dos temas maiores (e que tão bem tratou ao longo da sua obra): a infidelidade e a tensão entre o desejo versus princípios conjugais. É o que encontramos no episódio do jovem casal da província italiana (há adultério com prostituta e com ator de cinema), do casal de estudantes norte-americanos (há adultério do rapaz com melhor amiga da namorada) e, ainda, no episódio do “otário” italiano da classe média (há sexo extramatrimonial com várias mulheres enquanto se encontra na fama). 

Longe deste possível elo deparamo-nos com o quarto e melhor capítulo, protagonizado precisamente por Woody Allen, que reserva para si o melhor papel. É curioso perceber como as personagens mais comoventes, que têm mais vida e mais coração, são aquelas que o autor nos diz que não são as mais sábias, mas as mais cansadas: o casal Woody Allen / Judy Davis (maravilhosa na sua fragilidade e contradições, que dá uma lição de interpretação à maioria dos outros atores, planos e desajeitados). Aqui, a anarquia com que o realizador se introduziu ao mundo está dissimulada no delicioso gag do duche, que possibilita o trabalho sobre a mise-en-scène (de longe) mais interessante de todo o filme. 

O momento de “sabedoria" faz-se, sim, no episódio mais “cansado”: a insuportável fábula moralista protagonizada por Roberto Benigni, que tem os seus fifteen minutes of fame através da projeção da sua vida pela comunicação social (Moretti, pelo contrário, demonstrou o absurdo dos media em poucos segundos, num dos momentos iniciais de Temos Papa). Por sua vez, Alec Baldwin é também o grilo falante do episódio dos jovens americanos, que surge quando é preciso e é visto por todos também quando convém. A sua personagem parece materializar o nonsense apenas latente: como um surrealismo que se quer expressar mas é engolido na convenção. 

No fim não se sabe se Woody Allen, autoproclamado imbecile, estará consciente de que não tem nada a provar a ninguém: pode continuar a fazer o seu roteiro turístico pela Europa, ou decidir-se a arriscar, como há sete anos fez em Londres. Precisamo-lo menos cansado.

Ler ainda >> As Faces de Woody, retrospetiva crítica da obra do realizador no n.º 1 da revista Metropolis

quarta-feira, abril 18, 2012

Woody Allen e os filmes-postais

Férias em Roma, de William Wyler



No seguimento da sua maratona de realização de vários filmes, sendo que a maior parte deles insere-se no género da comédia romântica (uma por ano), Woody Allen prepara-se para estrear To Rome with Love, que ainda não tem data de estreia prevista para as salas de cinema portugueses (especula-se, contudo, uma estreia no Festival de Cannes - a lista dos filmes selecionados é divulgada amanhã em conferência de imprensa). 

A memória do desinspirado Meia-Noite em Paris ainda está bem presente e, na primeira parte do trailer (em baixo), não é também de admirar que venham à memória os planos deste primeiro: os planos do monumento a Vítor Emanuel II, do Coliseu de Roma ou das Termas de Caracala podiam facilmente ser substituídos pelas primeiras imagens do trailer (aqui) de Midnight in Paris (a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo…). Ora se já incomodava esta insistência básica de contextualizar o público, com imagens profundamente banais, no local em que a ação decorre, teme-se, cada vez mais, que Woody Allen repita os lugares-comuns a ele associados (se não contarmos com Londres, o drama das duas cidades europeias que ele filmou – a saber: Barcelona e Paris – parece ser resultado de uma série de circunstâncias relacionadas com os clichés dos habitantes destas capitais). E digo “cada vez mais” exatamente porque nos têm chegado notícias que em nada ajudam a expectativa para este To Rome with Love.

De acordo com o El País, a crítica italiana devastou o filme ao ponto de o considerar medíocre e o pior título da carreira do cineasta norte-americano. Citando o artigo do jornal espanhol: 
La principal acusación que le hacen a la cinta: el ser una sucesión de tópicos de la Italia más pintoresca, en la que no falta la mozzarella, la buena cocina, las secretarias de grandes tetas y marcando culo en minifalda que se entregan felices a su jefe, la pareja de provincianos recién casados, las insoportables notas del acordeón entonando el 'arrivederci Roma'...
Para piorar o cenário, o Diário de Notícias publicou, no passado dia 16 de abril, uma notícia que confirma o pior dos receios. Evidência perturbante: a nossa reação é surpreendente precisamente porque... já não ficamos surpreendidos. 

Italianos dizem que Woody Allen filmou um país que já não existe 
‘ To Rome With Love’ perpetua estereótipos sobre a Itália, dizem os jornalistas 
Woody Allen quis fazer um filme que fosse uma declaração de amor a Roma, mas na ante- estreia de To Rome with Love, na sexta-feira, na capital italiana, o americano teve de explicar aos jornalistas porque é que os filmes estrangeiros perpetuam os antigos estereótipos da Itália como o país do dolce far niente
“Os americanos têm uma relação muito afetiva com a Itália”, disse Woody Allen. “Pensam na Itália como um país que é muito acolhedor, um sítio onde é fácil viver porque aqui se aproveitam todas as coisas boas da vida.” 
Este olhar tão positivo e superficial sobre um país que enfrenta uma crise económica, com pesadas medidas de austeridade, incluindo mais impostos, subida do desemprego e aumento da idade da reforma, provocou algumas objeções entre os jornalistas italianos que estavam na conferência de imprensa. O realizador respondeu que apenas tentara fazer um filme de entretenimento cuja ação se passa em Roma, e não fazer qualquer retrato social do país. “Quando venho fazer um filme para um local, dou apenas a minha impressão dele, as coisas que me tocam por serem dramáticas ou cómicas. Não conheço a política ou a cultura italianas”, admitiu. 
Além do próprio Woody Allen, que regressa ao grande ecrã depois de Scoop ( 2006), To Rome With Love conta com as participações da espanhola Penelope Cruz, do italiano Roberto Benigni ( realizador de A vida é Bela) e dos americanos Alec Baldwin e Jesse Eisenberg. Todos estiveram na apresentação do filme, em Roma, e Baldwin corroborou a visão do realizador sobre a cidade que aos olhos americanos não pode deixar de parecer exótica, intrigante e ao mesmo tempo confusa. 
Faltou à conferência de imprensa a atriz Ellen Page que interpreta o papel de filha de Woody Allen – um encenador de ópera que viaja até Roma para conhecer o noivo da filha e que descobre que o pai deste é, afinal, um grande cantor de ópera mas que até então só tinha oportunidade cantar no chuveiro. A partir daqui, várias histórias se vão cruzar. 
Nos últimos dez anos, este é o sétimo filme que Allen realiza numa cidade europeia – depois de Matchpoint, Scoop, O Sonho de Cassandra, Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos ( Londres), Vicky Cristina Barcelona (Barcelona) e Meia Noite em Paris ( Paris), com que este ano ganhou o Óscar de Melhor Argumento Original. E agora, Roma. “Estas cidades são muitos semelhantes a Nova Iorque no que toca a energia e a cultura. É fácil morar aqui e encontrar histórias”, explicou o realizador. No entanto, revelou que o seu próximo filme será rodado sobretudo em São Francisco mas também em Nova Iorque, nos EUA, e não em Copenhaga ( na Dinamarca), como chegou a ser falado. 
Para Roma com Amor estreia em 600 salas italianas na próxima sexta- feira. A partir de junho, o filme chega aos Estados Unidos e a outros países. Mas ainda não é conhecida a data estreia em Portugal.
Maria João Caetano  

quarta-feira, janeiro 25, 2012

A palavra (4): Jorge Mourinha

Os dois filmes mais nomeados para os Óscares de 2012 são sintomas. Sintomas da cinefilia de quem os fez - no caso de O Artista, Michel Hazanavicius, realizador francês vindo da televisão e cuja obra já revelava um amor pelo cinema "à maneira de"; no caso de A Invenção de Hugo, Martin Scorsese, o mais cinéfilo de todos os cineastas, fervente defensor do restauro e da divulgação da história do cinema. E sintomas da magia do cinema que os dois filmes evocam e procuram recuperar, pelo meio de uma paisagem audiovisual onde ele já não é a força cultural da primeira metade do século XX, mas está perdido pelo meio dos multiplexes, computadores, iPads e televisores.

(…) Os Óscares, assim, voltam em 2012 a ser aquilo que sempre foram: uma enorme manobra de marketing que premeia mais o sucesso (As Serviçais, Meia-Noite em Paris) ou o estatuto (Scorsese, Spielberg, Streep) do que a qualidade, que quer fazer passar o cinema que se faz numa Hollywood cada vez menos inspirada pelo único cinema que vale a pena. É por isso que é tão estranho, e tão sintomático, ver A Árvore da Vida, de Terrence Malick, entre os nove nomeados para Melhor Filme - porque Malick é o único cineasta americano contemporâneo que não quer saber de Hollywood. E o seu é o único filme que não precisa dos Óscares - são os Óscares que precisam dele.
Jorge Mourinha in Público (caderno P2, Uma magia que já não se faz), 25 de Janeiro de 2012

domingo, julho 31, 2011

Post(ers) [5]

Match Point (2005), de Woody Allen

domingo, julho 10, 2011

Post(ers) [2]

Midnight in Paris (2011), de Woody Allen

quarta-feira, maio 11, 2011

Cannes 2011 [1]: Woody Allen entre a Riviera e a capital



«Declaro il Festivale di Cannes aperto», diz-nos Bernardo Bertolucci (que agora prepara um projecto em 3D, desde que viu «Avatar» e vive fascinado pela tecnologia) na cerimónia de abertura da 64ª edição do Festival de Cannes (cujo vídeo poderá ser consultado aqui) que, de hoje até o dia 22, trará grandes nomes do cinema actual a competir naquela que é “a” festa do cinema, presidida este ano por Robert DeNiro.

O cineasta norte-americano Woody Allen – que considera: «jamais realizarei um grande filme» (aqui) – abriu o festival com «Midnight in Paris», comédia romântica que se debruça sobre um casal que, numa viagem à capital francesa, constata que uma vida diferente da que levam é melhor, e que junta, no elenco, nomes como Rachel McAdams, Owen Wilson, Marion Cotillard, Adrien Brody e Carla Bruni, foi geralmente bem recebido pela crítica. O crítico de cinema João Lopes considerou, no blog sound+vision, que «Woody Allen puxa pelos galões de argumentista/realizador e faz um filme que, partindo de um cliché — o apelo romântico da capital francesa —, consegue transcende-lo através da complexidade emocional e narrativa de um romanesco seduzido por um discreto fantástico». Vasco Câmara, por seu lado, escreve que é «a sua melhor comédia em anos». A (interessante) conferência de imprensa pode ser visionada integralmente a partir daqui.


Amanhã, dia 12, Cannes exibirá o filme debutante de Julia Leigh, «Sleeping Beauty», e a longa-metragem de Lynne Ramsay, «We need to talk about Kevin», que competem ambos para a Palma de Ouro. A secção Un Certain Regard abrirá amanhã com «Restless», de Gus Van Sant, projectando ainda o primeiro filme de Juliana Rojas e Marco Dutra, «Trabalhar Cansa». «Il Conformista», de Bertolucci, terá a sua exibição restaurada garantida no dia de amanhã.

Resta deixar a selecção oficial a competir para a Palma de Ouro, para o prémio Un Certain Regard e a selecção fora de competição:
Selecção Oficial (Competição):
  1. "Drive," Nicolas Winding Refn
  2. "Footnote," Josef Cedar
  3. "Hanezu no Tsuki," Naomi Kawase
  4. "Hara-kiri: Death of a Samurai," Takashi Miike
  5. "The Kid With a Bike," Jean-Pierre and Luc Dardenne
  6. "L'apollonide (Souvenirs de la maison close)," Bertrand Bonello
  7. "Le Havre," Aki Kaurismaki
  8. "Once Upon a Time in Anatolia," Nuri Bilge Ceylan
  9. "Melancholia," Lars von Trier
  10. "Michael," Markus Schleinzer
  11. "Pater," Alain Cavalier
  12. "Polisse," Maiwenn
  13. "The Skin That I Inhabit," Pedro Almodovar
  14. "Sleeping Beauty," Julia Leigh
  15. "La Source des femmes," Radu Mihaileanu
  16. "This Must Be the Place," Paolo Sorrentino
  17. "The Tree of Life," Terrence Malick
  18. "We Have a Pope," Nanni Moretti
  19. "We Need to Talk About Kevin," Lynne Ramsay

Selecção Oficial Un Certain Regard (Competição)
  1. "Arirang," Kim Ki-duk
  2. "Bonsai," Cristian Jimenez
  3. "The Day He Arrives," South Korea, Hong Sang-soo
  4. "Et maintenant on va ou?," Nadine Labaki
  5. "Halt auf freier Strecke," Germany, Andreas Dresen
  6. "Hors Satan," Bruno Dumont
  7. "The Hunter," Bakur Bakuradze
  8. "Les Neiges du Kilimandjaro," Robert Guediguian
  9. "L'exercisce de l'etat," Pierre Schoeller
  10. "Loverboy," Catalin Mitulescu
  11. "Martha Marcy May Marlene," Sean Durkin
  12. "Miss Bala," Gerardo Naranjo
  13. "Restless," U.S., Gus Van Sant
  14. "Oslo, August 31st," Joachim Trier
  15. "Skoonheid," Oliver Hermanus
  16. "Tatsumi," Singapore, Eric Khoo
  17. "Trabalhar cansa," Juliana Rojas, Marco Dutra
  18. "Toomelah," Ivan Sen
  19. "The Yellow Sea," South Korea, Na Hong-jin
Selecção oficial - Fora de competição
  1. "The Beaver," Jodie Foster
  2. "The Artist," Michel Hazanavicius
  3. "The Conquest," Xavier Durringer
  4. "Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides," Rob Marshall

sexta-feira, agosto 06, 2010

Hannah e as suas Irmãs

É já sabido pelos leitores deste espaço que Woody Allen se mantém como uma referência minha quando falo do cinema como arte, do cinema como procura essencial do que somos e das grandes questões da vida. E da morte. Penso que ele é dos pouquíssimos cineastas que consegue vislumbrá-las essenciais, com um olhar muito preocupado e, ao mesmo tempo, relaxado, reflectindo e rindo-se delas. É precisamente sobre elas que, muito à semelhança do que se fez com outros trabalhos do norte-americano (como Nem Guerra, Nem Paz, etc.), esta comédia se debruça, sem, contudo, as colocar como principal pano da trama. A razão pela qual o tom das suas obras se mantém a referida é simples e única, mas eficaz – o facto de Allen se defrontar com uma vida enigmática e impossível de resolver, e que assim permanecerá até o fim dos seus dias, com toda a tragédia e ironia que lhe é inerente. É, precisamente, com Hannah que isto se demonstra com mais clareza, por via da personagem secundária encarnada pelo homem, um hipocondríaco neurótico que busca o significado da vida com Sócrates, Nietzsche, a religião católica, uma tentativa de suicídio, um filme de infância e o achado novo amor. É, também, este que sintetiza a essência desta obra que viaja por dentro de várias cenas de casamento, passando pela traição, a lealdade, a irmandade, o valor da família e a paixão – tudo sabe a um tragável (mas misterioso) conjunto de acasos, como se a própria vida fosse assim mesmo, para ser, só e simplesmente, vivida.

domingo, fevereiro 14, 2010

14 filmes para o dia de São Valentim

Sendo hoje dia de São Valentim (ou dos namorados), apresento hoje uma lista de catorze sugestões cinematográficas para este domingo. Tentei mantê-la variada e versátil: filmes para todos os gostos, sejam eles mais indicados para ver ao lado do(a) parceiro(a) ou mesmo sozinho. A qualidade, posso garanti-lo, existe em todos eles. Desafio também a todos os leitores para nos deixarem sugestões de romances propícios para este dia tão peculiar!

Chaplin, no corpo do corajoso vagabundo, perde-se de amores por uma florista cega — assim se constrói o mote de um dos mais brilhantes filmes de sempre, a obra-prima do cineasta norte-americano que, tendo um dos melhores finais de sempre, conseguiu redefinir e fundir a comédia com o romance, na sétima arte.
Um épico e clássico romântico sem precedentes, necessário e influenciador, exemplo maior da globalização, que colocou Victor Fleming no patamar de um dos maiores cineastas de sempre.
Magistralmente escrito e interpretado, “Casamento Escandaloso” constituiu-se como um excelente exemplo de como uma comédia romântica pode ser construída com o objectivo de roubar ao espectador grandes gargalhadas e sem cair nas banalidades que afundam as actuais salas de cinema.
Um dos maiores trunfos de Woody Allen e Diane Keaton, que juntos embarcam num neurótico, cómico e penetrante romance, captando, tal como em “Manhattan”, a essência nova-iorquina das contemporâneas ligações amorosas.
Terrence Mallick é o mestre da subtileza, captando a ardente e proibida relação amorosa das personagens de Richard Gere e Brooke Adams com uma sensibilidade e quietude extraordinárias. Um brilhante exercício de cinema, com espantosas fotografia e linha narrativa, que, mais do que visto, merece ser sentido.
Gus Van Sant consolida, neste grande filme que viaja entre o experimentalismo simbólico, os temas que mais o fascinam na urbe contemporânea, criando uma importante obra de culto LGBT e um romance que eternizou River Phoenix e Keanu Reeves.
Ang Lee, que viria a realizar o puro e sensitivo romance “O Segredo de Brokeback Mountain”, realizou, em 1993, o precedente e hilariante “O Banquete de Casamento”, uma comédia moderna e socialmente crítica que trata o casamento por conveniência de um homossexual coreano residente nos EUA, de forma a manter as aparências aos seus conservadores pais. [crítica]
“Pocahontas”, recontado pelas produções da Disney, não é mais do que uma brilhante alegoria e ensaio sobre a aceitação, a diferença, o multiculturalismo, o amor sem fronteiras, com poderosas mensagens ecológicas e humanistas transmitidas com um sensacionismo imagético e sonoro imbatível e de necessária visualização.
Um dos maiores romances cinematográficos recentes pertence a Kar Wai Wong que desconstrói uma linguagem que lhe é própria, narrando brilhantemente as imposições morais que se intrometem na relação de duas pessoas casadas que, juntas pelo mesmo motivo, acabam por lutar contra este, quando a barreira invisível que aos dois separa se torna insustentável.
Sob o espectro de uma magnífica banda sonora, “Garden State”, escrito, realizado e protagonizado por Zach Braff chega-se-nos como uma comédia romântica “indie”, apartado de um universo de películas teen superficiais e desprovidas de conteúdo. Repleto de imagens emblemáticas do amor, da liberdade, da vida e da morte, Braff e Natalie Portman representarão um dos mais adoráveis casais vistos na grande tela.
Um dos dramas românticos mais freneticamente originais e fantásticos do cinema, primando, mais do que qualquer outra coisa, pelo brilhante argumento recheado das desventuras próprias do sonho, aliado às interpretações inesquecíveis de Winslet e Carrey.
O luto de um amor perdido, a pluralidade das expressões da intimidade e da sexualidade do ser humano e a inadvertida descoberta de uma nova ligação romântica numa sociedade regida pelas instituições e por normas informais que rejeitam o poliamor, a liberdade relacional e as orientações sexuais minoritárias. Tal como “Rent” ou “Os Sonhadores”, de tudo isto trata o musical francês, arrojado e melindroso, de Christophe Honoré. [crítica]
Uma chamada de atenção necessária para os novos casais e um belíssimo ensaio sobre o compromisso, a rotina e a durabilidade de uma relação amorosa. Com o magnífico olho de Sam Mendes, Kate Winslet e Leonardo DiCaprio unem, de forma madura e invejável, esforços após o épico “Titanic”, trabalho que merece ser analisado até termos a ideia de que não é com um dia só, como o de São Valentim, que as relações deverão subsistir. [crítica]
O mais recente “indie” romântico coaduna tudo o que é preciso para o tornar numa obra maior e inovadora — um boy meets girl disfuncional, infeliz e a fugir aos convencionalismos (pelo menos os mais evidentes). O amor não correspondido e a fábula do esquecimento: eis o que 500 dias de paixão, dor e amor conseguem fazer, construindo a verdadeira comédia da vida.

quarta-feira, setembro 30, 2009

:Quando a imoralidade e a arte se encontram



Era, apenas, uma questão de tempo para que o adormecido mas nunca esquecido "caso Polanski" fosse reactivado numa altura inesperada - fugido das autoridades norte-americanas desde 1978,  foi preso em Zurique (onde receberia um prémio pela carreira) o cineasta, agora com 76 anos de idade, que nos trouxe "Chinatown", "Rosemary's Baby" ou o inesquecível "The Pianist", por ter tido relações sexuais com uma rapariga de 13 anos (que, doravante, não era já virgem). E foi no despoletar da sua detenção que as opiniões explodiram e dividiram-se, quer na comunidade artística como política: por um lado, temos os que defendem o realizador (Woody Allen, Pedro Almodóvar, Martin Scorsese, David Lynch, Luc e Jean-Pierre Dardenne e a própria vítima, Samantha Geimer) e, por outro, os que defendem a punição judicial do crime de "Humbert Humbert" (Luc Besson, vários deputados e ministros do Parlamento Europeu e Francês). Parte-se do pressuposto que a lei é, de forma a garantir estabilidade e funcionalidade na Justiça, universal para todos e é um facto que o que cineasta fez era e é punível judicialmente. Por outro lado, temos o perdão de Geimer o seu desejo de, visto que foi algo ocorrido há trinta anos atrás, esquecer o passado; o alegado consentimento evocado por Polanski aquando do acto. Sendo assim, sendo este caso particular e único, diante estas circunstâncias, será legítimo continuarmos a considerar moralmente incorrecto o ocorrido?, será que é legítimo condená-lo?, não bastará o perdão de Samantha para que o crime seja absolvido ou será que, como muitos referem, "um pedófilo é um pedófilo" e tem que pagar pelo que fez? É uma problemática que, mais do que legal, é sobretudo de ordem ética - e não, os que defendem a libertação de Polanski (que deixou  pendente "The Ghost", o seu novo filme que estava a ser produzido), não defenderão, certamente, os abusos sexuais. A minha opinião não se encontra, ainda, formalmente formada, mas agora peço-vos que partilhem a vossa em relação a este caso, que anda na ordem do dia na comunicação social e não só.

segunda-feira, abril 20, 2009

:Apenas algumas notas para encher



Sim, não tenho escrito no blog. E, sim, tenho estado ocupado. Desta vez, é com a peça do clube de teatro lá da escola, já que estou encarregue de a escrever (muito sob pressão, para variar), com o argumento de uma curta-metragem que brevemente vou começar a filmar (e que provavelmente vai a concurso de curtas-metragens escolares como este aqui ) e, como não podia deixar de ser, com os testes e trabalhos de escola. Felizmente, o cansaço ainda não se evidenciou: pelo menos nunca estou parado e isso faz com que não comece uma vida sedentária e deprimente :P
Anyway, venho anunciar três coisas. Uma relaciona-se directamente comigo: esta sexta-feira vou a Londres! Sim, aqui o Flávio aqui vai encontrar o Woody Allen a olhar para o Big Ben e a inspirar-se para o seu novo filme. E por falar em novo filme: Sofia Coppola e Gus Van Sant têm retorno marcado. Coppola, que nos presenteou com um magnífico "Lost in Translation", vai voltar com "Somewhere", cuja premissa se assemelha bastante ao filme que acabei de referir. Já o nosso mais-que-tudo Van Sant vai adaptar uma obra literária de Tom Wolfe, "The Electric Kool-Aid Acid Test", com o argumento encarregue (imaginem lá quem!) a Dustin Lance Black. Duas excelentes notícias para me alegrarem a semana! Não percam, também, a nova colecção de DVDs do jornal "Público", todos os sábados. A primeira tiragem saiu no sábado passado, ao lançarem "Paranoid Park" (para meu grande contentamento). Os próximos filmes parecem igualmente prometer.
Até breve!

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

:Something Just Clicked


Vicky Cristina Barcelona (2008)
Ainda não tinha visto, mas valeu a pena a espera. Eis o excelente portefólio hollywoodesco da Vanity Fair com o tema dos Oscar deste domingo.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Nem Guerra, Nem Paz

love-and-death1

"You know, some men are heterosexual and some men are bisexual and some men don't think about sex at all, you know... they become lawyers." Começar o texto com uma citação não é original, nem propriamente trabalhoso. Porém, é a forma mais directa de elogiar aquilo que de melhor este "Love And Death - Nem Guerra, Nem Paz" tem para oferecer: o argumento.

Boris, a personagem vivida por Woody Allen, é, como não podia deixar de ser, um neurótico socialmente desajustado a viver na Rússia, no início do séc. XIX, aquando das campanhas napoleónicas. Tem uma prima, Sonja, por quem está apaixonado desde que era criança; Sonja, por sua vez, está apaixonada pelo rústico Iván, irmão de Boris, embora diga que só seria capaz de se entregar a um homem que encarnasse as três facetas do amor: intelectual, sensual e espiritual. A guerra acaba por chamar Boris ao campo de batalha e depois... bem, é melhor não estragar.

Desta vez, acho que vale a pena elogiar quem traduziu o título para português por, ao invés de optar por uma tradução literal (que não ficaria má), fazer uma alusão ao "Guerra e Paz", de Lev Tolstoi. Aliás, as menções à literatura russa estão presentes no próprio filme, umas mais evidentes do que outras - a cena que melhor exemplifica isto é o diálogo entre Boris e o seu pai, lá para o fim, quando ele lhe pergunta se se lembra do vizinho Raskolnikov, que matou duas mulheres, numa clara referência à história do excelente "Crime e Castigo", de Fiódor Doistóiesvski, o qual, de resto, Woody já homenageou em "Match Point".

Posto isto, não será desadequado falar do elenco. Allen interpreta a sua habitual figura, o que, por si só, garante um resultado hilariante; Diane Keaton, por sua vez, divide com ele igual protagonismo, e confere classe e inteligência à prima Sonja, sem deixar de divertir. As melhores cenas são aquelas em que estas duas personagens interagem, e as "deep conversations" que Boris menciona no início são um primor. Já a banda sonora enquadra-se perfeitamente, recriando uma Rússia alegre, sempre em festa. Quanto à realização, destaca-se a cena em que Sonja e a mulher de Iván conversam, e os rostos delas ficam justapostos (ela própria, ao que parece, uma homenagem).

Sem dúvida que se trata de um filme "leve", em que Woody focou a sua vertente mais cómica, mas isso não justifica o esquecimento a que tem sido vetado. Não me lembro de me ter rido assim noutro filme qualquer, e, parecendo que não, há aqui uma mensagem sobre a vida que, embora passada de uma forma mais despretensiosa, não deixa de ser interessante de ouvir. Em suma, "Love And Death" é um filme que cai muito bem numa tarde aborrecida, com um argumento extremamente bem escrito (cada fala parece ter sido escrita para provocar o riso) e que merece ser visto (quanto muito, para perceber que Diane Keaton já foi, em tempos, capaz de participar em fitas de qualidade muito superior àquelas que tem vindo a fazer ultimamente). É um filme cujos méritos ainda não vi devidamente reconhecidos e de que decidi falar aqui um pouco, na tentativa de incentivar outros a descobri-lo. Caso não tenha conseguido com estas linhas, deixo aqui um derradeiro argumento, directamente retirado do IMDb: "Allen claims that of all the movies he's done, this is his favorite and most personal".

quinta-feira, agosto 21, 2008

:Vicky Cristina Barcelona

Trata-se do novo filme de Woody Allen (de trabalhos como "Scoop" e "Match Point" que adorei) que nos mostra a história de Vicky (a estreante Rebecca Hall) e Cristina (a espectacular e actual musa de Allen, Scarlett Johansson), duas amigas americanas que vão no Verão de férias para Barcelona onde acabam por conhecer um pintor que as seduz (Javier Bardem - "Mar Adentro"). Enquanto que Cristina se entrega de imediato aos encantos dele, Vicky resiste visto estar de casamento marcado com um homem nos EUA mas apaixona-se por ele secretamente. Entretanto, a ex-mulher (Penélope Cruz) dele chega à cidade e Cristina tem um caso com ela. Tudo isto resulta, evidentemente, numa grande confusão sem um fim aparente à vista, mas podêmo-lo ver, espero eu, muito brevemente no cinema!