Férias em Roma, de William Wyler |
No seguimento da sua maratona de realização de vários filmes, sendo que a maior parte deles insere-se no género da comédia romântica (uma por ano), Woody Allen prepara-se para estrear To Rome with Love, que ainda não tem data de estreia prevista para as salas de cinema portugueses (especula-se, contudo, uma estreia no Festival de Cannes - a lista dos filmes selecionados é divulgada amanhã em conferência de imprensa).
A memória do desinspirado Meia-Noite em Paris ainda está bem presente e, na primeira parte do trailer (em baixo), não é também de admirar que venham à memória os planos deste primeiro: os planos do monumento a Vítor Emanuel II, do Coliseu de Roma ou das Termas de Caracala podiam facilmente ser substituídos pelas primeiras imagens do trailer (aqui) de Midnight in Paris (a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo…). Ora se já incomodava esta insistência básica de contextualizar o público, com imagens profundamente banais, no local em que a ação decorre, teme-se, cada vez mais, que Woody Allen repita os lugares-comuns a ele associados (se não contarmos com Londres, o drama das duas cidades europeias que ele filmou – a saber: Barcelona e Paris – parece ser resultado de uma série de circunstâncias relacionadas com os clichés dos habitantes destas capitais). E digo “cada vez mais” exatamente porque nos têm chegado notícias que em nada ajudam a expectativa para este To Rome with Love.
De acordo com o El País, a crítica italiana devastou o filme ao ponto de o considerar medíocre e o pior título da carreira do cineasta norte-americano. Citando o artigo do jornal espanhol:
La principal acusación que le hacen a la cinta: el ser una sucesión de tópicos de la Italia más pintoresca, en la que no falta la mozzarella, la buena cocina, las secretarias de grandes tetas y marcando culo en minifalda que se entregan felices a su jefe, la pareja de provincianos recién casados, las insoportables notas del acordeón entonando el 'arrivederci Roma'...
Para piorar o cenário, o Diário de Notícias publicou, no passado dia 16 de abril, uma notícia que confirma o pior dos receios. Evidência perturbante: a nossa reação é surpreendente precisamente porque... já não ficamos surpreendidos.
Italianos dizem que Woody Allen filmou um país que já não existe
‘ To Rome With Love’ perpetua estereótipos sobre a Itália, dizem os jornalistas
Woody Allen quis fazer um filme que fosse uma declaração de amor a Roma, mas na ante- estreia de To Rome with Love, na sexta-feira, na capital italiana, o americano teve de explicar aos jornalistas porque é que os filmes estrangeiros perpetuam os antigos estereótipos da Itália como o país do dolce far niente.
“Os americanos têm uma relação muito afetiva com a Itália”, disse Woody Allen. “Pensam na Itália como um país que é muito acolhedor, um sítio onde é fácil viver porque aqui se aproveitam todas as coisas boas da vida.”
Este olhar tão positivo e superficial sobre um país que enfrenta uma crise económica, com pesadas medidas de austeridade, incluindo mais impostos, subida do desemprego e aumento da idade da reforma, provocou algumas objeções entre os jornalistas italianos que estavam na conferência de imprensa. O realizador respondeu que apenas tentara fazer um filme de entretenimento cuja ação se passa em Roma, e não fazer qualquer retrato social do país. “Quando venho fazer um filme para um local, dou apenas a minha impressão dele, as coisas que me tocam por serem dramáticas ou cómicas. Não conheço a política ou a cultura italianas”, admitiu.
Além do próprio Woody Allen, que regressa ao grande ecrã depois de Scoop ( 2006), To Rome With Love conta com as participações da espanhola Penelope Cruz, do italiano Roberto Benigni ( realizador de A vida é Bela) e dos americanos Alec Baldwin e Jesse Eisenberg. Todos estiveram na apresentação do filme, em Roma, e Baldwin corroborou a visão do realizador sobre a cidade que aos olhos americanos não pode deixar de parecer exótica, intrigante e ao mesmo tempo confusa.
Faltou à conferência de imprensa a atriz Ellen Page que interpreta o papel de filha de Woody Allen – um encenador de ópera que viaja até Roma para conhecer o noivo da filha e que descobre que o pai deste é, afinal, um grande cantor de ópera mas que até então só tinha oportunidade cantar no chuveiro. A partir daqui, várias histórias se vão cruzar.
Nos últimos dez anos, este é o sétimo filme que Allen realiza numa cidade europeia – depois de Matchpoint, Scoop, O Sonho de Cassandra, Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos ( Londres), Vicky Cristina Barcelona (Barcelona) e Meia Noite em Paris ( Paris), com que este ano ganhou o Óscar de Melhor Argumento Original. E agora, Roma. “Estas cidades são muitos semelhantes a Nova Iorque no que toca a energia e a cultura. É fácil morar aqui e encontrar histórias”, explicou o realizador. No entanto, revelou que o seu próximo filme será rodado sobretudo em São Francisco mas também em Nova Iorque, nos EUA, e não em Copenhaga ( na Dinamarca), como chegou a ser falado.
Para Roma com Amor estreia em 600 salas italianas na próxima sexta- feira. A partir de junho, o filme chega aos Estados Unidos e a outros países. Mas ainda não é conhecida a data estreia em Portugal.
Maria João Caetano
Isto faz lembrar a história dos "planos televisivos" de Woody Allen, os quais foram criticados por Godard na presença do próprio Allen nesta conhecida entrevista-filme:
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=uDgDYTU8N9Y
Não percebo muito bem estas críticas: Woody Allen não se propõe a fazer filmes com grandes implicações sociais ou dramas frios, mas farsas, comédias com algum cinismo. A própria ligeireza de que se fala reflecte, no fundo, o olhar turístico que as suas personagens têm das cidades que visitam - é importante não esquecer que, apesar de serem ambientados em grande cidades europeias, todos esses filmes são focados em americanos fora do seu ambiente.
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