No dia em que se comemora um ano da morte do Prémio Nobel Português José Saramago e a Cinemateca prepara uma homenagem ao lado da FNAC e da SIC, chegam boas notícias: Clarabóia, romance inédito escrito pelo escritor em 1953 (e depois caído no esquecimento quando entregue à presente editora), será publicado entre Outubro e Novembro deste ano pela Caminho. Debruçando-se sobre a vivência dos habitantes de um prédio (cujo último andar é iluminado por uma clarabóia), "nota-se que já tem ali algumas coisas que o José Saramago viria a desenvolver mais tarde... e tem até um personagem que, de alguma maneira, é o Saramago debatendo-se com os seus próprios problemas e, nomeadamente, com um problema que ele nunca resolveu, que é o optimismo e o pessimismo: se a humanidade é recuperável ou não", diz Zeferino Coelho à Lusa. Em 2012, será também publicado as primeiras 20 páginas do novo romance que Saramago preparava sobre o comércio de armas: Alabardas, Alabardas! Espingardas, Espingardas!, que cita um verso de Gil Vicente. Depois da 23ª edição de Viagem a Portugal, será publicada a correspondência completa entre o escritor e os seus leitores; Palavras para José Saramago (que reúne textos publicados após a sua morte); e o infantil O Silêncio da Água (retiro dAs Pequenas Memórias). Ainda falta decidir o que fazer com "contos inéditos" e "peças de teatro incompletas".
Quanto ao cinema, e numa breve recordação a um post antigo, lembro qual era o cinema predilecto do escritor:
O Sal da Terra (1954)
Helbert Biberman
"vi em Paris no final dos anos 70 e que me comoveu até às lágrimas: a história da greve dos mineiros chicanos e das suas corajosas mulheres abalou-me até ao mais profundo do espírito."
Blade Runner (1982)
Ridley Scott
"visto também em Paris num pequeno cinema do Quartier Latin pouco tempo depois da sua estreia mundial e que, nessa altura, não parecia prometer um grande futuro"
Amarcord (1973)
Federico Fellini
"desse, ninguém teve nunca dúvidas, estava ali uma obra-prima absoluta, para mim talvez o melhor dos filmes do mestre italiano."
A Regra do Jogo (1939)
Jean Renoir
"(...) que me deslumbrou pela montagem impecável, pela direcção de actores, pelo ritmo, pela finura, pelo “tempo”, enfim"
Pat & Patachon
"um filme que me acode à memória como se viesse da primeira noite da história dos contos à lareira, “Pat & Patachon” moleiros, aqueles sublimes (não exagero) actores dinamarquese que me fizeram rir (tinha então seis ou sete anos) como nenhum outro. Nem Chaplin, nem Buster Keaton, nem Harold Lloyd, nem Laurel e Hardy. Quem não viu Pat & Patachon não pode saber o que perdeu…"
O Peregrino (1923)
Charles Chaplin
"O sorriso de Chaplin não é um sorriso feliz, pelo contrário, aventuro-me a dizer, sabendo ao que me arrisco, que é tão inquietante que ficaria bem na boca de qualquer drácula. Se eu fosse mulher, fugiria de um homem que me sorrisse assim. Aqueles incisivos, demasiado grandes, demasiado regulares, demasiado brancos, assustam. São um esgar no enquadramento rígido dos lábios. Sei de antemão que pouquíssimos vão estar de acordo comigo. O caso é que, uma vez que foi decidido que Chaplin é um actor cómico, ninguém lhe olha para a cara. Creiam no que lhes digo. Olhem-no de frente sem ideias feitas, observem aquelas feições uma por uma, esqueçam por um momento a dança dos pezinhos, e digam-me depois o que viram. Chaplin levaria todos os seus filmes a chorar se pudesse."
Volver - Voltar (2006)
Pedro Almodóvar
"(...)creio não equivocar-me muito imaginando Pedro Almodóvar, referente por excelência da “movida” madrilena, a perguntar à sua pequena alma (as almas são todas pequenas, praticamente invisíveis): “Que faço eu aqui?” A resposta vem dando-a ele nos seus filmes, esses que nos fazem rir ao mesmo tempo que nos põem um nó na garganta, esses que nos insinuam que por trás das imagens há coisas a pedir que as nomeemos. Quando vi “Volver” enviei a Pedro uma mensagem em que lhe dizia: “Tocaste a beleza absoluta”. Talvez (seguramente) por pudor, não me respondeu."
Que interessante a lista de filmes de Saramago!
ResponderEliminarO Falcão Maltês
Sim, é, de facto.
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