quarta-feira, junho 29, 2011

Que luz é esta que abre e fecha A Árvore da Vida?


Encontrando paralelo com o enormíssimo destaque que a revista Cahiers du Cinema fez para este mês de Junho sobre o realizador (cuja obra recebeu classificações, por parte dos críticos que integram a sua redacção, que viajam da bola preta – “inutile de se déranger” – para as quatro estrelas – “chef d’oeuvre”), a revista semanal norte-americana The New Yorker publicou, na edição de 27 de Junho, um pequeno texto sobre a imagem com que a Palma de Ouro de Terrence Malick, que está a ser projectado em sala entre nós, abre e encerra. Segundo a publicação, os críticos variaram na sua interpretação dessa imagem, uma chama ondulante e cintilante encarnada e amarela, chamando-a “uma bolha de cor de gema” (Robert Koehler, Variety), “um grande o-que-é-isto” (Amy Taubin, ArtForum) e “um vislumbre de uma luz insondável” (Anthony Lane, The New Torker). Já A. O. Scott, do The New York Times, considera que “apenas pode representar o Criador”.

O conteúdo deste plano, atribuído erradamente ao (silencioso) Malick, é da responsabilidade do artista Thomas Wilfred (nascido na Dinamarca em 1889 e falecido em 1968 em Nova Iorque). Na sua “Opus 161” (1965-66; em cima), Wilfred cria mais uma das suas composições luminosas, obras de arte abstractas e etéreas gravadas a partir de uma série de lâmpadas e lentes, reflexões de espelhos e pedaços de metal e vidro pintados.

A produção de “A Árvore da Vida” contactou o coleccionador Eugene Epstein, que conheceu Wilfred nos tempos de estudante no MoMA, e que recorda o objectivo da equipa em “captar algo acerca da criação”. Permitindo a utilização da obra do artista, Epstein conheceu o realizador que estava acompanhado da sua mulher, considerando-o “um homem inteligente, muito cordial e nada pretensioso”.

Que levou, então, Terrence Malick a citar a obra de Thomas Wilfred, que pensava representar a “energia rítmica do universo”, para abrir e finalizar o seu filme? A bem dizer, esta imagem derradeira e desafiante provavelmente resume a beleza e, acima de tudo o resto, o mistério em que invariavelmente o filme se encerra e resume, confrontando o espectador com a sua angústia e necessidade de se transcender absolutas.

2 comentários:

  1. Pois, é uma boa questão não resolvida no filme, como muitas outras, aliás. Mas também deve ser esse a intenção do realizador: deixar em aberto as dúvidas para o espectador poder fazer a sua própria interpretação ou explicação.

    Eu vi hoje apenas o filme e deixei umas breves impressões no meu blog -http://ohomemquesabiademasiado.blogspot.com/

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  2. Sim, Victor, essa será porventura uma das intenções de Malick. Li o texto com atenção e acho que merece, daqui a algum tempo, uma segunda ou terceira visualização, nem que seja para consolidar um "não gostei" ;)

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