The Universal, dos Blur
Realização: Jonathan Glazer
1995
Autores de uma das mais consistentes obras discográficas do pop/rock alternativo dos anos 90, os Blur cedo descobriram uma forma igualmente competente de encarar a imagem como complemento directo para as suas canções. As capas dos primeiros singles e álbum sugeriam já esse relacionamento que, com o tempo (e os orçamentos mais nutritivos que o sucesso lhes deu), ganhou forma ainda mais notável em telediscos nos quais vincaram a vontade de expressão de um olhar cinematográfico. Em To The End, assinado por David Mould em 1994, citaram em concreto o clássico O Último Ano em Marienbad, de Alain Resnais. Mais tarde, em No Distance Left To Run (1999), chamaram Thomas Vinterberg a assinar a realização de um teledisco que observa os quatro elementos da banda de noite, às escuras, durante o sono. Entre os seus feitos maiores da sua videografia conta-se ainda The Universal, teledisco rodado por Jonathan Glazer (então ainda longe de se estrear na realização de longas-metragens). Tomando como evidente referência visual o espaço do Korowa Milk Bar de A Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, o teledisco faz dos quatro elementos do grupo uma materialização da memória do pequeno “gang” que vemos no filme. Mas mais interessante ainda que este jogo de citações é a construção de um conjunto de situações centradas numa mão cheia de personagens que, sem experimentar sequer uma ideia narrativa, constroem em conjunto um quadro que define assim um ambiente e caracteriza um espaço. Há legendas que sugerem fragmentos de diálogos, olhares que traduzem estados de alma e, perto do final, um segredo que vemos, mas não escutamos, e que desencadeia um momento que podia morar num instante de um filme. Notas igualmente de destaque para a soberba direcção de fotografia e para um trabalho de montagem que sabe, mesmo numa canção de toada lenta, manter vibrante o ritmo dos olhares, gentes e gestos que se cruzam durante o teledisco.
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Nuno Galopim
Viðrar vel til loftárása, dos Sigur Rós
Realização: Stefán Árni Þorgeirsson e Sigurður Kjartansson
2001
Contextualizado na Islândia dos anos 50, dois clubes júnior de futebol confrontam-se em campo e, ao vencer o jogo, dois colegas da mesma equipa celebram beijando-se, expondo a sua intimidade aos pais, que os separam. A ideia partiu de Ágúst Ævar Gunnarsson, baterista fundador da banda Sigur Rós (que, entretanto, desiste em integrar o grupo em 1999, antes do seu sucesso internacional), e foi concretizada pela dupla de realizadores Stefán Árni Þorgeirsson e Sigurður Kjartansson. Teledisco sobre o amor e a violência, este é um dos grandes casos de como a forma poética da música (e da respectiva letra, como a tradução em inglês do teledisco disponibilizado em cima nos faz compreender) encontra paralelo com a do vídeo. A separação do protagonista das suas bonecas feita pelo pai representa assim a antítese que vive neste pequeno filme: o comportamento natural contra o que é imposto; o colectivo contra o individual; a sociedade contra um certo tipo de amor. A bela fotografia (situada em Reiquiavique), e o slow motion (que existe do início ao fim) parece querer chamar a atenção para estes pequenos acontecimentos, comportamentos e sentimentos – e são os próprios Sigur Rós, apologistas da liberdade, a apresentarem-se como parte dessa observação, surgindo no teledisco em diversos cameo. Jón “Jónsi” Þór Birgisson (vocalista e guitarrista) é o treinador da equipa vencedora; Georg "Goggi" Holm (baixista) é o árbitro; Kjartan "Kjarri" Sveinsson (teclista) é um dos espectadores; Orri Páll Dýrason (baterista) é quem aponta os golos. Este é ainda citado como um dos telediscos mais relevantes para a comunidade homossexual, por mostrar a pureza e a violentação do seu amor.
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