terça-feira, abril 06, 2010

Twentynine Palms

Um homem e uma mulher viajam, de carro, por Twentynine Palms, onde o deserto e os abertos planos demonstram ser o palco da sua união bipolar e secreta. Tudo e nada sabemos dos dois, tudo e nada eles sabem de si. Assim é que Bruno Dumont, o francês que assinou este outro ensaio sobre a humanidade, filma, com uma câmara clínica, fria, atenta, sem pudores e (acima de tudo) sincera, o sexo, o amor ou as suas intenções, a amizade, a compaixão, a entreajuda e, sobretudo, o que de pior o ser humano pode demonstrar, afastando-se da moral de um lugar que deixa de ter, progressivamente, nome. Pois, perante uma belíssima fotografia, a Morte é quem governa e nos envolve – numa primeira parte, vendo-se inimiga de dois seres que teimam em ignorá-la (seja na estrada, seja numa piscina), numa segunda, vendo-se vencedora ante uma separação, destrutiva (por se antever na progressão relacional que se dava) e horrível (por via de uma catalisadora e inesperada circunstância). É, efectivamente, um filme difícil, amoral na mais profunda essência. Os longos e contemplativos enquadramentos do homem em interacção com uma natureza quase morta, fazem-me crer que esta grande obra não é nem percepciona o vazio ou o niilismo, de todo. E aí reside a sua basilar importância – por subsistir uma humanidade que, tendo que se consciencializar da sua capacidade orgânica de tudo fazer, pode escolher o caminho que há-de seguir. Twentynine Palms é, apenas, um desses destinos.
8/10

3 comentários:

  1. Obrigado, João! "Flandres" é o que menos me cativa daquilo Dumont já fez, mas vou vê-lo com certeza, daqui a algum tempo e depois de ver outros que quero ver dele.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. Já o encomendei na Fnac, e, portanto, não tive oportunidade de ver. Mal posso esperar, guardo grandes expectativas!

    ResponderEliminar
  3. Sim, Marcelo, deste vais gostar. É um filme cru, mas belíssimo se visto ao pormenor. Porque o mundo é horrivelmente belo.

    ResponderEliminar