Numa altura em que a televisão tem uma importância quase, diria eu, terminante na comunicação social e na sociedade ocidental na generalidade, e numa época em que outros tipos de drogas (as mais próximas do conceito), consideradas, em termos legais, ilícitas, também se encontram em voga, torna-se imperativo ver este autêntico “Requiem”, desta vez não musical, mas cinematográfico, e crucial também se torna, claro, no meu caso em particular, escrever uma pequena opinião sobre filme.
Voltando-me, antes de mais, para a sinopse, deparamo-nos com três (ou quatro, dependendo da perspectiva, que pode ser mais abrangente) histórias entrosadas, situadas numa Brooklyn contemporânea: a de uma mãe dependente do seu programa televisivo preferido, o de um concurso semelhante àqueles que podemos ver nas tardes dos nossos canais generalistas, interpretada magnificamente por Ellen Burstyn (nomeada, com este filme, para um Óscar) e que, ao se ver perante uma oportunidade de aparecer no programa, inicia um desregrado vício por supostos medicamentos que diminuem o seu peso; a do seu filho (Jared Leto) e amigo que iniciam um perigoso e descuidado processo de tráfico de drogas (e o vício das mesmas, por conseguinte, sob o triste pretexto de experimentar para garantir a “qualidade”), e a da sua namorada, aspirante a estilista, representada por Jennifer Connely, presenteando-nos com uma actuação de prender a respiração (possivelmente, a meu ver, a melhor da sua carreira). É com isto que tudo se coaduna, improvável mas brilhantemente, dirigindo-nos a uns trinta minutos finais do mais dramático que alguma vez vi: aliás, torna-se, a certo momento, interessante reflectir sobre tantos momentos concentrados trágicos e emocionalmente pesados, como uma bomba a detonar lentamente. Será que a vida, para além de não ser, como o título o diz, um sonho, está delineada para atirar-nos com uma pedra de desditas a certa altura da nossa existência? O filme é, identicamente, um bom motivo para reflectir sobre os nossos próprios pensamentos sombrios e vícios (realço um, que parece ser a dependência invisível e incorpórea do novo século: o computador e, como consequência, a Internet) e para termos, mais uma vez, uma visão (terrivelmente) negativa sobre as drogas.
De qualquer das formas, é sempre bom, a meu ver, apreciar filmes que explorem a psique do homem, a obscuridade das suas acções e as respectivas motivações e consequências, mas nunca nenhuma história me tinha feito sentir tão culpado e baixo como este. De outro modo, as sequências não teriam a intensidade que lhes é concebida se não fosse também papel peremptório que teve a banda sonora. E que dizer dela? Clint Mansell é um génio, e comprova-o novamente, mais tarde, com “The Fountain” (“Death is the road to Awe”) não admira mesmo nada que quisessem já utilizar a “Lux Aeterna” em vários trailers e anúncios televisivos.
Tão arrojada e inovadora como a trama, só apenas, muito provavelmente, o próprio Aronofsky (já agora, alguém notou influências de Kubrick neste projecto?), que demonstra, mais uma vez, a sua versatilidade e talento (e futuramente, espero que “The Wrestler” esteja ao nível dos dois últimos projectos). Os vários planos, meticulosamente planeados ao seguir o argumento sublime, demonstram bem uma originalidade e ousadia característicos do realizador. No entanto, e não avultando isto como um ponto negativo, é uma fita muitíssimo deprimente e que deixa, infelizmente, um grande sentido derrotista à vida na sua generalidade, sem qualquer tipo de mensagem esperançosa que possa, de alguma forma, confortar o espectador. E, bem vos posso garantir, é um autêntico murro no estômago, a não querer repetir muitas vezes. Não há melhor forma de descrever “A Vida não é um Sonho”, um filme que não é só um trabalho artístico, mas sim uma verdadeira e quase perfeita análise da humanidade actual, demonstrando a sociedade em toda a sua deterioração, imperfeição e hediondez. Não é para todos, mas para quem não viu, aqui fica o desafio de ver "Requiem". Depois opinem!
Tão arrojada e inovadora como a trama, só apenas, muito provavelmente, o próprio Aronofsky (já agora, alguém notou influências de Kubrick neste projecto?), que demonstra, mais uma vez, a sua versatilidade e talento (e futuramente, espero que “The Wrestler” esteja ao nível dos dois últimos projectos). Os vários planos, meticulosamente planeados ao seguir o argumento sublime, demonstram bem uma originalidade e ousadia característicos do realizador. No entanto, e não avultando isto como um ponto negativo, é uma fita muitíssimo deprimente e que deixa, infelizmente, um grande sentido derrotista à vida na sua generalidade, sem qualquer tipo de mensagem esperançosa que possa, de alguma forma, confortar o espectador. E, bem vos posso garantir, é um autêntico murro no estômago, a não querer repetir muitas vezes. Não há melhor forma de descrever “A Vida não é um Sonho”, um filme que não é só um trabalho artístico, mas sim uma verdadeira e quase perfeita análise da humanidade actual, demonstrando a sociedade em toda a sua deterioração, imperfeição e hediondez. Não é para todos, mas para quem não viu, aqui fica o desafio de ver "Requiem". Depois opinem!
10/10
Sem comentários:
Enviar um comentário