domingo, janeiro 11, 2009

:Changeling - A Troca

photo_11_hires
Escusado será talvez dizer que muita era a expectativa para este novo filme de Eastwood: recebido calorosamente em Cannes e aclamado pela crítica, “Changeling”, traduzido para Portugal como “A Troca”, foi visto no dia depois da estreia portuguesa com amigas minhas (e que muitos lembrarão pela neve que na sexta caiu).
Nos finais da década 20, Los Angeles é capitaneada por, ainda que não combatida ou desvendada, uma Polícia corrupta e deteriorada, compelida em manifestar-se perante a sociedade com a imagem falsificada de que é um conjunto de, a meu ver, semideuses capazes de solucionar pronta e eficazmente os problemas que se lhes vão emergindo. Quando Walter Collins desaparece, a sua mãe diligente Christine reporta a ausência às autoridades que prometem ajudá-la. Quando um rapaz é encontrado, passado uma época de buscas infrutíferas, comunica-se imediatamente a comunicação social para registar o suposto término de um caso que tem exigido um certo mediatismo pela imprensa (lembramo-nos um pouco do caso de Maddie McCann, não?). O que acontece, contudo, é que a criança não é, verdadeiramente, o filho de Christine. Quando se apercebe de tal (que é logo que vê o rapaz), recusa-se a aceitá-lo mas os agentes insistem em pô-la “à experiência”, roçando uma situação que, aos olhos de qualquer um dotado de razão, é, francamente, ridícula e quase improvável. Poderia muito bem falhar e pecar a partir desse momento (o que desviaria uma série de situações de índole altamente dramática), mas, como bem saberão, em certa medida, este trabalho de ficção baseou-se muito numa história verídica, o que faz com que o filme passe a ser uma certa denúncia e uma advertência a todos. Durante a película, J. Michael Straczynski conta-nos uma autêntica odisseia emocionante e delirante, passando pelos horrores de um instituição que pretende, na carta de intenções, curar todos aqueles que sofrem de problemas mentais (talvez piorem lá), por um sombrio e impensável infanticídio, e por um comovedor e esperançoso caso judicial, que vai deixar qualquer um de olhos bem abertos.
Angelina Jolie entrega-se ao papel como ninguém provavelmente o faria, deixando uma marca consistente, perfeita e exemplar no ramo da representação, soltando um pouco para trás a sua imagem estereotipada de “sex symbol” que surge apenas nos filmes que realçam o seu (deslumbrante) físico. No entanto, como personagem, em termos corpóreos e de caracterização, Christine Collins resulta bastante bem, afigurando-se como uma personagem poderosa, uma pessoa com muita classe, lutadora, convicta e resignada, transpondo de forma perfeita a dor insustentável de uma mãe que acaba de perder o filho (reinventando um papel familiar no cinema; quem não se lembra dos constantes e sofredores gritos, “I want my son back”?). Outras interpretações brilham na película: falo, obviamente, de John Malkovich, que veste o papel do reverendo Gustav Briegleb, e que surge simplesmente com um verdadeiro salvador e anjo da guarda (difícil será não simpatizar, pelo menos, com a figura), e Jeffrey Donovan, que, como contraponto, representa o abominável e lerdo Capitão J.J. Jones: ambos merecedores de vários prémios.
Surpreendentemente, como já o tinha feito com “Mystic River” e outros projectos, o realizador e produtor aparece também como o compositor da banda-sonora original, transportando para o filme uma balada harmoniosa e inesquecível entre o piano, o violino e, por vezes, a guitarra para aprofundar momentos de maior tensão ou, em contrapartida, de felicidade (a pouca que é vista no filme). Quem se lembrar da sequência final lembrar-se-á da sensação que ficou a ver aquele autêntico plano geral esplêndido aliado ao tema principal enternecedor.
Como espectadores, entramos por completo na história que se vai desenrolando e, revoltantemente, vemo-nos como a inaudível e impotente assistência daquela sequência de acontecimentos aliciantes e, em certa medida, repulsivos, o que já é por si um grande feito: captar a atenção de quem vê e envolvê-lo na trama foi sempre um dos grandes objectivos da indústria hollywoodesca.
Se é digno dos globos de ouro a que foi nomeado? Penso que sim: mas também a minha opinião encontra-se um pouco limitada pelo facto de não ter visto as outras fitas que foram apontadas. No entanto, “Changeling” é, sem dúvida alguma, um daqueles filmes que não me importava de ver mais uma vez nas salas de cinema, já que é uma obra-prima extremamente bem escrita, realizada e fotografada; uma história inspiradora, que entretém, e que é, sobretudo, memorável.
9/10

1 comentário:

  1. Esperança. É tudo sobre esperança: esperança de encontrar o filho, esperança de acabar com a corrupção e com os cruéis interesses das instituições públicas, esperança que se faça justiça e que se diga a verdade, esperança de conseguir seguir com a vida em frente. Que me lembre, poucos foram os filmes que, até à data, abordaram o tema com tamanha profundidade.

    Grande filme 5/5

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

    ResponderEliminar