segunda-feira, janeiro 19, 2009

Férias em Roma

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A comédia romântica é um género ingrato. Nos dias de hoje, tem contra si o facto de ser direccionada muito acentuadamente ao público feminino (o que afasta muitas vezes o público masculino da sua visualização), e o de ser um género onde a inovação é muito pouca; aliás, arrisco-me até a dizer que, se ao filme lhe fosse dado a optar, decerto que a comédia romântica seria das últimas escolhas que ponderaria. Isto, hoje, porque, na sua golden age, Hollywood produziu comédias românticas que podem muito bem ser consideradas alguns dos melhores filmes de sempre.

É o caso deste "Roman Holiday - Férias em Roma". Esqueçam "Love Actually" ou "The Holiday"; por muito que as comédias românticas contemporâneas divirtam, "Roman Holiday" está numa liga completamente diferente, à qual pertence também o incontornável "The Philadelphia Story".

Realizado por William Wyler, este foi o filme-catapulta para Audrey Hepburn, que recebeu um Oscar pela sua interpretação de Ann, uma princesa jovem e cansada de todas as obrigações implicadas pela sua posição na sociedade. A história, resumidamente, segue as suas aventuras em Roma a partir da sua fuga nocturna, em que lhe é possível fazer coisas com que sempre sonhou, com a ajuda de Joe Bradley (Gregory Peck), um jornalista que vê na entrevista com ela a solução para os seus problemas financeiros e Irving Radovich (Eddie Albert), o companheiro fotógrafo dele.

O argumento é uma delícia. As personalidades das personagens, que os diálogos rápidos e perspicazes que estabelecem entre si vão revelando, e as situações originadas pelos seus actos formam um cocktail imperdível. A mestria com que Hepburn se transforma de uma cena para a seguinte, retratando ora a curiosidade juvenil e a vivacidade de Ann, ora a tristeza da castração a que é submetida, merece ser aplaudida. Gregory Peck confere charme a um Joe Bradley perto da ruína, mas mesmo assim fascinado pela companhia da princesa; já Eddie Albert encarna o terceiro elemento deste triângulo, criando com Peck um estado de conflito hilariante entre as duas personagens. Tudo isto acompanhado por uma realização impecável, que se adapta às diferentes fases do filme e respectivas exigências.


"Roman Holiday" é um clássico imperdível, que consegue fazer-nos rir com uma inteligência graciosa, e que nos comove sem se tornar piegas ou recorrer ao habitual melodrama. Durante grande parte da sua duração, trata-se de um filme alegre, contagiado pelo estado de espírito da sua própria protagonista, à medida que ela descobre a vida e, mais inesperadamente, o amor. A cena da mota é um ponto-chave da história, uma vez que personifica a liberdade à qual Ann sempre aspirou, e a imagem do casal em cima do veículo é memorável. Isto só para exemplificar.



Porém, é nas últimas cenas que o filme se torna verdadeiramente comovedor, à medida que o dia "de sonho" chega ao fim e os protagonistas voltam à realidade. A cena no carro, por exemplo, é das mais poderosas a que já assisti. Conseguindo despertar no espectador emoções distintas daquelas até aí proporcionadas, o final é a prova derradeira de que filmes como este são cada vez mais uma raridade. "Roman Holiday" brinda-nos com uma cena magnífica e que significa, para as duas personagens principais, a promessa incerta de algo improvável de acontecer, e tem a coragem de terminar numa nota realista e séria, que merece também ser louvada. Os últimos segundos do filme, o último plano, são, a meu ver, algo de fenomenal, e compõem um dos melhores finais que o Cinema já produziu.
Em suma: uma compra obrigatória.

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