terça-feira, maio 04, 2010

Brokeback Mountain

Perpetua-se, na montanha de Brokeback, uma criação clandestina, de proporcionais dimensões à verde geografia daquele espaço – a naturalidade do mais prezado sentimento do ser humano e a condenação milenar da componente mais sacrificada por este. Em Brokeback, a fronteira entre o aprovável e a realidade é ténue – tão ténue que se acaba por figurar mortal. Vivem-se os tempos do ódio, da intolerância e incompreensão. Mas que importam os tempos do homem se a montanha, a natureza e o amor permanecem imutáveis e espectadores de um devir secundário? Não importam, claro. Daí se acaba por justificar a mestria com que Lee filma a leveza e importância de cada gesto e olhar, a contraposição entre o meio social, corrompido, horrível e insanável, e o meio orgânico, belo, transcendente e seguro, o amor numa particular faceta. E é com exemplar subtileza e calma que o exerce, como que, ainda que seguro do papel activo da sua grandiosa obra de arte na nossa contemporaneidade em ideologias e público, sabendo da universalidade e simplicidade da mesma, como que despreocupado pelo estranhamento presente. Assim decorrem as maiores interpretações de duas outras portentosas figuras – Hedger, com a sua contenção emocional e envolvimento supranormal; Santaolalla, com os acordes místicos e profundos de uma longínqua guitarra, compondo os sons do futuro, os sons de uma vaga noção de esperança...

17 comentários:

  1. Não gostei. Lá está, é como o Milk, muito sensacionalista, artificial e pretensioso. A única coisa a que dou valor no filme é a realização que, não sendo nada de excepcional, é competente. Ang Lee já fez melhor, mas muito melhor.

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  2. Álvaro, discordo, claro. Apesar de já sabermos a opinião que temos do Milk, penso que este Brokeback Mountain se insira num registo diferente, apesar de tratar o amor entre dois homens... Se já aceitava "sensacionalista" para o de Van Sant (porque assim era necessária), neste rejeito essa categoria... Penso que sensacionalista foi o modo como pegaram no filme e o instrumentalizaram para os direitos dos gays etc (como escrevi: Lee estava "seguro do papel activo da sua grandiosa obra de arte na nossa contemporaneidade em ideologias e público")... Se virmos de fora, reparo como este Brokeback Moutain é um romance delicado, subtil e trágico. Lida com alguns clichés mas assim tem que ser (é uma adaptação literária). A realização de Ang é tão boa como a banda sonora do Gustavo e a performance do Heath, eu acho. ;)

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  3. (referes-te a que filmes, dele, já agora? Achei o último «Sedução, Conspiração» magistral)

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  4. Um grande filme, belíssimo. Penso que a única coisa que há de pretencioso nele é não conseguir ver o quão desprestencioso ele é. E isso tem vindo a acontecer pelas razões que o Flávio identificou - as exteriores, do público.

    Abraço

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  5. Concordo com o Flávio e com o Marcelo. O filme é de facto muito muito delicado e subtil - e nas primeiras vezes que o vi não me consegui aperceber dessa carga intrínseca - delicada e subtil, como disse.

    Um filme belíssimo, trágico e doloroso. 5*

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  6. Esse ainda não vi, mas estava a falar de Ice Storm e Comer Beber Homem Mulher.

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  7. Eu sempre vi as pessoas a enquadrarem este filme nos filmes-gay, penso que isso é um estúpido e mal argumentado preconceito. Não existem filmes-gay mas filmes que retratam a homossexualidade e, pelo que me dizem, este é espectacular!

    Abraço
    Cinema as my World

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  8. Não recomendo nem este, nem o Milk. Concordo com a opinião do Álvaro. Já "Sedução,Conspiração" é um belo filme.

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  9. Manuela Coelho,

    desculpe a impertinência, mas não recomenda porquê? São assim filmes tão maus?

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  10. São os chamados "filmes de encher chouriço", este e o Milk. E o ser sobre dois homossexuais não tem nada a ver, melhor, se não fosse isso isto nem tinha tido a popularidade e a comercialização que teve. Basicamente é uma história de um amor proibido, mas é uma história de amor lamechas, previsível, já "gasta" e sobretudo mal desenvolvida narrativamente. Os tais clichés de que falas Flávio são evidentes, se são necessários ou não isso já me ultrapassa mas, quanto a mim, o próprio filme é que é desnecessário. Isto é filme, como disse o Álvaro, pretensioso e sensacionalista, diria mais, lamechas, novelístico e ridículo. É filme para vender, mainstream.

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  11. Bruno, mesmo o "retrato da homossexualidade" é uma categoria enganadora ;) Vê que vais gostar.

    Manuela, não consigo concordar... quer este, quer o Milk são bons filmes. E Sedução, Conspiração sim, é um belo filme.

    JR, se concordo em absoluto contigo é no facto de que caso este filme não tratasse o amor entre 2 homens, não teria a popularidade que teve. Não deixaria, contudo, de ter a sua enorme qualidade - o amor poderia ser entre 1 homem e 1 mulher e proibido na mesma socialmente. É um filme político se visto de forma interna, mas sublime na sua essência. Discordo totalmente do que dizes depois.

    Cumps

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  12. Esforcei-me para ver e sinceramente não gostei... mesmo nada de especial.

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  13. Roberto,
    porque não gostei. Provavelmente, estava à espera de mais, principalmente no caso do Milk. Concordo com tudo que o Álvaro e o Jr disseram.Para não me estar a repetir:)

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  14. Acho que a questão é mesmo estar a dar ao filme a carga que Ang Lee não pretendia e que alguns quiseram que tivesse. Não o acho nada pretensioso.

    O Heath e o Jake têm uma performance conjunta magistral.

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  15. Também vejo que há críticas específicas a este filme, mas ainda assim acredito que ele foi capaz de transmitir verdades e causar algum impacto independente do modo como estas foram assimiladas. ;)

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  16. Izz, tens de o rever nesse caso. ;) Penso que tem mais que se lhe diga.

    Manuela, em relação ao "Milk" acho que é compreensível. É diferente mas não perde pontos na minha perspectiva.

    Beijos para as 2

    Carlos, concordo contigo em tudo, como disse antes. :)

    Renato, sem qualquer dúvida. Aliás, este filme é duplamente importante. Embora não fale de como foi socialmente pertinente para abrir discussões e debates, reconheço-lhe também esse valor.

    Abraços para os 2

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