quarta-feira, maio 12, 2010

Arte & Deus

Na tentativa (escusada, já se viu) de não escrever nada a respeito da visita papal ao nosso minúsculo país, foram hoje realizadas, após a sua estadia e discurso no Centro Cultural de Belém, como podemos observar na fotografia de cima, perante centenas de reconhecidos artistas e intelectuais portugueses, algumas reflexões sobre a relação da Arte com Deus (esclareça-se: o todo-poderoso preconizado pela Bíblia), como esta aqui: E se a arte voltasse a aceitar Deus? O nosso Manoel de Oliveira não hesitou em afirmar, a título de exemplo, que os tipos de arte, como o cinema, estão “intimamente voltados para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina” (isto num contexto de discurso cristão, como ele frontalmente o assumiu). Nas restantes intervenções, incluindo na exercida pelo santo padre, podemos com facilidade encontrar dois pontos de encontro: o assumir de um divórcio entre a Igreja e a Arte (e, por conseguinte, a urgência de as voltar a unir), e de uma aparentemente necessária relação entre ambas, como se a verdadeira expressão artística tivesse sempre que envolver um lado com Deus (como a imagem cristológica que Tarkovsky procurara, quando vivo, nas suas obras). Será, portanto, no mínimo lógico julgarmos um filme crítico da religião e ateu como anti-filme, anti-cinema, anti-artístico – e então entramos no universo supostamente idílico, o da rejeição que presenciamos tão bem até o século XIX (com todas as perseguições, etc.). Há aqui toda uma enjoativa contradição que se prende, única e exclusivamente, na minha perspectiva, aos dogmas, também eles nauseabundos e paradoxais, que a Igreja Católica patrocina, sufocada nos seus próprios pecados, se esse é o termo que usam ainda, sufocada numa arte do passado, procurando na contemporaneidade a falsa salvação do abismo que tem caído nas últimas décadas. Essa contradição, se ignorada, poderá cair sob a ideia, poderosa e perfeitamente plausível, de que a arte, como o cinema, deverá procurar a cerne da condição do criador e da sua alma, reflexiva de uma humanidade que terá, isso sim com urgência, de deixar de procurar resposta e comodismo numa exterior e superintendente invenção que, no final de contas, é a sua mais misteriosa criação.

4 comentários:

  1. Penso que a própria religião prendeu-se aos dogmas passados sem possibilidade de evoluir, ora, a arte é algo em evolução, portanto não é a arte que tem que se reter ou fazer as pazes com Deus mas um pouco ao contrário, ou seja, Deus evoluir com arte, fazer as pazes com a arte.
    Depois, os filmes anticristo. Acho uma total barbaridade. Tal como não existem filmes gay, também não existem filmes religiosos. Existem filmes que retratam a religião e não é pela diferença dessa mesma com o espectador que este deva recusá-la.
    Eu por mais que seja ateu ou cristão, não julgo uma obra pela sua religião.

    Abraço
    Cinema as my World

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  2. opaa vlw por seguir la...
    se tiver afim de parceria...vo botar seu blog la nos links

    abraçaoo

    http://publicandobr.blogspot.com/2010/05/senhoras-e-senhores-sterling-hayden_13.html

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  3. A arte acompanha as vidas. Não é a arte que se está a divorciar da religião, são as vidas que se estão a divorciar da religião.

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