segunda-feira, novembro 30, 2009

:Tudo Bons Rapazes



Pouquíssimos são os filmes que conseguimos dizer, com toda a segurança, que nos agarram desde a primeira instância até à última e mais memorável, pela profunda qualidade que lhes são intrínsecos. Goodfellas apresentou-se, qual delirante dinamite, como um exemplo perfeito e explosivo do que referi. Não há palavras que melhor descrevam um argumento tão envolvente e tão bem estruturado com uma trama deliciosamente relatada — o nome de Nicholas Pileggi é exaltado entre nós, desta forma, com toda a justiça, antes de qualquer outro. Por sua vez, um Scorsese, determinado e consciente do seu valor e talento, filma, em constantes e grandiosos long takes, de forma perfeita, a essência da experiência de vida do nosso carismático protagonista, tão bem encarnado por Ray Liotta. A juntar ao aparato, Joe Pesci e Robert DeNiro juntam forças para que os bons companheiros brilhem com toda a intensidade merecida. Enfim, uma lição de autêntico cinema, um clássico luzente, que bem termina com a iniciativa Novembro & Martin Scorsese, levada a cabo, também, pelos blogues CINEROAD, e Split Screen e o convidado Cinema is my Life.
9/10

domingo, novembro 29, 2009

:Moon - O Outro Lado da Lua



Absolutamente surpreendente. Uma gema da ficção científica e do cinema independente que não contava ser tão poderoso. O primeiro e ambiciosíssimo filme de Duncan Jones deixa suspensa, mais ou menos, e mais mais do que menos, uma sensação rara, daqueles que fiquei com pouquíssimos filmes. Não excluindo dos pontos fortes do argumento temáticas que são abordadas subtilmente como as fronteiras da ciência e da tecnologia no futuro, o que verdadeiramente campeia neste pequeno grande filme é a forma deliciosa e audaciosa como, tragicamente, somos confrontados com o vazio e a nulidade da existência do nosso protagonista, interpretado por um magnífico, versátil e crível Sam Rockwell. E a relação entre GERTY e Sam, apesar de toda a plasticidade que poderíamos, num julgamento apressado e injusto, exaltar, torna “Moon” uma das mais humanas fitas do ano. Influenciado de forma clara pelo “2001” kubrickiano (e, até mesmo, “The Island”, de Michael Bay?), aliado a uma narrativa inteligente e quase provocatória, a ambiência que nos proporciona Clint Manssel, eternizado pelas composições musicais de “Requiem for a Dream” e “The Fountain”, traduz-se numa inesquecível viagem à lua em noventa minutos, pautada por uma belíssima fotografia e direcção artística. Em suma: a ver e a rever, com urgência, para todos aqueles que gostam de cinema em pleno.
9/10

:Chinese



"Chinese" ou como tranformar uma música em algo tão idílico.

terça-feira, novembro 24, 2009

:Gangs de Nova Iorque



Tínhamos tudo para que “Gangs of New York” fosse um filme, no mínimo, grandioso. Nomeado para dez Óscares sem sequer conseguir conquistar um, o caso da Academia evidencia, desta vez bem, como o filme, que reúne elementos irrepreensíveis como é o caso da excelência interpretativa do elenco (a qual não inclui Cameron Diaz), uma banda sonora heterogénea mas magnífica (e que ambienta uma das melhores cenas finais de sempre) e uma esplêndida fotografia, não conseguiu ir para além da ambição. O esforço e investimento tidos na representação das cenas de combate e de confronto entre as mais diversas ideologias acaba por não se manifestar na fraca linha narrativa com que se vai movendo, vagarosamente, o filme. Tendo como base uma história pouquíssimo sólida e um desenrolar de eventos igualmente frágeis em termos de profundidade e autenticidade, a realização conseguinte acaba por transparecer todas essas falhas que enunciamos. Estamos, portanto, perante uma obra apenas interessante que, felizmente, nos deixou com mais uma interpretação inesquecível de Daniel Day-Lewis.
7,5/10

segunda-feira, novembro 23, 2009

:Perguntas #2


Quem não gostava de realizar um biopic de Variações?

quarta-feira, novembro 18, 2009

:O Aviador



Foi em 2004, altura em que O Aviador arrecadou cinco Óscares, onde o nosso Scorsese, saiu, mais uma vez e na má tradição da Academia, de mãos a abanar. E com toda a legitimidade podemos exaltar a ocorrida injustiça porque estamos perante uma obra simples e unicamente surpreendente. Excelente e interessantíssimo do ponto de vista histórico e cultural, o filme é um total triunfo técnico (a cinematografia e a direcção artística são muito bons) e performativo — Hepburn está deliciosamente viva no corpo de Blanchett, e poucos conseguiriam entrar na complexa mente de Hughes como DiCaprio conseguiu entrar. Aliado ao cineasta, os dois exploram, nesta biografia, e com grande impecabilidade, o pantanoso terreno da fobia, da obsessão e do desejo da perfeição. Pecando pela ausência de algum ritmo no decorrer do filme, dada a sua duração que consegue ser algo fastidiosa e exagerada, este regista o que tudo deveríamos saber e compreender da extraordinária vida de um dos mais ricos homens do mundo.
8/10

segunda-feira, novembro 16, 2009

:Aleflavismo #5



A diferença entre o real aparentemente lógico e o irreal aparentemente ilógico

domingo, novembro 15, 2009

:Grandes Momentos #4


Recheado de deliciosas e belíssimas sequências musicais escritas com uma delicadeza e cuidado inegáveis e com um elenco deslumbrante, é com segurança que reafirmo que, desde que o vi, Les Chansons D'Amour é, para mim, o melhor dos musicais românticos. Aqui fica uma conversa bem poética para animar este cinzento fim-de-semana.

sexta-feira, novembro 13, 2009

:Touro Enraivecido




Tudo em Raging Bull é perfeito. Parecer-nos-ia algo incongruente sabê-lo não víssemos nós o filme, mas não há que negar nem desmentir um facto que é por demais evidente. Aliados a um argumento que, claramente, foi terna e sinceramente redigido, a uma fotografia e montagem magníficos e a uma banda-sonora belíssima encontramos uma parceria que nunca se encontrou em tão boa forma — Martin Scorsese e Robert DeNiro fundem-se num só (apreendemos com clareza que os dois estiveram para o filme em pleno) e fazem com que Jake La Motta se mostre na sua completude para o espectador mais atento. E, acima de todos os seus problemas relacionais e profissionais que vamos observando com uma necessária compreensão e tensão, acompanhamos, com ele, a luta mais importante — a que ele tem consigo mesmo, frente ao espelho da sua angústia existencial, meticulosa e literalmente traduzida numa cena final inesquecível. Um clássico do cinema absoluto e imperdível, que se coloca, indubitavelmente, no topo dos melhores filmes alguma vez feitos.
10/10

:A Lucidez



Muito mais é preciso para que prevaleça o bom senso e a lucidez. Para que se debele a cegueira, o folclore, o ódio. Muito mais. E nós? Nós fizemos de tudo... e assistimos a tudo isto, com orgulho e felicidade...!

segunda-feira, novembro 09, 2009

:Taxi Driver




Nova Iorque nunca foi tão solitária como em Taxi Driver. Scorsese oferece-nos, com este estranho, melancólico e pessimista mas belo ensaio sobre a perda do indivíduo na multidão, uma vagarosa deambulação pelas ruas da sociedade urbana, conduzida por um metamorfósico Robert De Niro que dificilmente esqueceremos. A dor do anónimo Travis é a dor que se sente mas que não se verbaliza, causada pela pesada apreensão pessoal de que a anomia social está em constante ebulição, transformando a sociedade num só massificado e decadente — e as suas acções conseguintes vêm a justificar-se como símbolo da sua vontade de criar, de alguma forma, uma “limpeza” que se afigura por demais necessária. Mas ele, tal como tudo e todos, permanece anónimo, apesar de todo o esforço que dele assistimos durante duas horas, perdendo a sua individualidade em prol da fria e imposta massificação. Tal como a própria tagline do filme refere, on every street in every city, there's a nobody who dreams of being a somebody. E é, entre os outros elementos estruturantes, na melodia de Herrmann e na fotografia de Chapman que tudo parece coadunar, finalizando uma respeitosa viagem onde o taxímetro da moralidade e da censura pareceu ter estado sempre desligado.
8/10



:Aleflavismo #4



Morrer

domingo, novembro 08, 2009

:Grandes Momentos #3



Perturbador, real e avassalador - o ataque dos EUA em Hiroshima, em dolorosa câmara lenta, em "Gen Pés Descalços", um dos melhores registos documentais e histórias de sobrevivência que a sétima alguma vez viu.

sábado, novembro 07, 2009

:Campanhas



Decidi partilhar hoje convosco um vídeo promocional realizado para a lista B que concorre, na minha escola, para a Associação de Estudantes, e na qual sou secretário. A campanha oficial aproxima-se, como também as eleições - agora falta saber de tudo isto funcionará e poderemos, realmente, mudar aquilo.

quinta-feira, novembro 05, 2009

:Frank Sinatra a triplicar




Qual das seguintes três celebridades, que pelo papel disputam, escolheriam para encarnar o mítico ícone da História da música, no próximo biopic de Martin Scorsese (realizador que, como é sabido, está a merecer um especial este mês de Novembro aqui, no CINEROAD, Split Screen e no Cinema is my Life): Leonardo DiCaprio, George Clooney ou Johnny Depp? Personalidades díspares que também se contrapõem pelo talento diante da câmara. Mas para se ser Frank Sinatra não há só que ser bom - há que ser perfeito.


quarta-feira, novembro 04, 2009

:Há que repetir?


Quando se equivale um referendo a um instrumento máximo da democracia, então penso que entramos no domínio do absurdo, e por duas simples razões. Por se ter conhecimento a priori de qual seria o resultado deste, e porque um referendo desta natureza é antidemocrático (já que implica a sublevação e tirania da maioria que se caracteriza ainda, infelizmente, pela sua irreflexão, ignorância e egocentrismo). Os Direitos Humanos não são, simplesmente, discutíveis - são algo, à partida, deveriam nascer com todos os presentes e futuros cidadãos. A sondagem do lado foi retirada do online jornal Público (a qual poderão votar clicando aqui), surgindo num contexto em que o Partido Socialista, pondo de parte a hipótese de deixar que a população portuguesa tenha a última palavra, apresentará, em breve, uma proposta de legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo (pondo, contraditoriamente, de parte a adopção, o que bastante me indigna - não é este o mesmo partido que se propôs a remover quaisquer discriminações baseadas na orientação sexual?), e num contexto em que associações familiares, feministas e religiosas lutam para referendar esta matéria (elas só querem impedir que se torne uma realidade, nada mais).

terça-feira, novembro 03, 2009

:Novembro & Martin Scorsese




É o grande injustiçado da Academia, tal como era chamado antes de vingar um Óscar para melhor realizador com o aclamado The Departed - Entre Inimigos. Falo, pois, de cineasta norte-americano Martin Scorsese que eu e os habituais CINEROAD e Split Screen (convidado especial: Cinema is my Life) faremos neste outonal mês de Novembro. Não conheço muito dele, mas mal posso esperar para o fazer - desta forma, esperem críticas, artigos e homenagens diversas. Bom mês de Novembro para todos!


:Outubro & Lars Von Trier: quadro-síntese



(Clicar na imagem para aumentar)

segunda-feira, novembro 02, 2009

:Grandes Momentos #2



A cena que hoje, esta marcante segunda-feira, vos indico provém do (re)conhecido musical Tarzan, provavelmente o último grande clássico animado tradicionalmente da Disney. Nesta sequência, uma Jane muito british consegue irritar os animais, sendo salva por Tarzan, conhecendo-o momentos a seguir. É por demais interessante os vários detalhes que, coadunados, nos trazem um momento de grande riqueza visual e narrativa - a personalidade forte e inflexível de Jane (que se encontra, apesar da sua auto-determinação, em constante diálogo interior) que leva, como consequência feliz, a falas rápidas e hilariantes por parte da personagem; o confronto do homem "civilizado" com a selva e o desconhecido; o interesse do homem-macaco em salvar, por curiosidade, um semelhante - e aquilo que começa a ser a aculturação irreversível, depois de um contacto mais próximo. A união das mãos que se apresenta como o último quadro simbólico (e muito romântico) do vídeo, vem a demonstrar as desigualdades latentes no nosso meio social e relacional que nos tornam, acima de qualquer outra coisa, tão iguais. Tal evidencia, por conseguinte, a necessária aceitação dessas diferenças, sejam estas de que ordem for - os meus sinceros parabéns àqueles que conseguem fazê-lo!

domingo, novembro 01, 2009

:Au revoir les enfants



Vários são os excelentes filmes tentam retratar o holocausto nazi, pela via da ficção ou do documentário, do drama e da comédia, da homenagem das vítimas e dos que dele sobreviveram ou passaram ao lado. Au revoir les enfants, vencedor do Leão de Ouro em 1987, assume-se, contudo, como um atípico e belíssimo filme que nos perspectiva no quotidiano de um colégio católico para rapazes provenientes de famílias ricas francesas, em 1944, numa época em que França se encontrava ocupada pelos soldados alemães. No seio da inocência e das brincadeiras, por onde passa despercebida todo o preconceito, vemos nascer, progressivamente, uma amizade entre o protagonista, interpretado por Gaspard Manesse, e uma criança judia, encarnada por Raphael Fejto, refugiada no internato de forma a escapar à perseguição nazi. Unidos pela literatura e pelas vitórias pessoais que juntos vão atingindo, e sob a iminência de uma tragédia desconhecida, os dois ultrapassam todas as barreiras ideológicas e culturais que se lhes põem defronte. Louis Malle escreve e realiza, desta forma, uma obra-prima quase autobiográfica que, paulatinamente, demonstra uma sensibilidade e humanidade dolorosamente comoventes, que dificilmente serão apagadas da nossa memória.
9/10