Foi quando inúmeras câmaras de filmar e de fotografar foram empunhadas em riste pelas dezenas de curiosos que se concentraram ontem, pelas 17 horas, no fórum da FNAC no Chiado que se percebeu quem tinha por fim tinha chegado. Terminada, no dia anterior, a rodagem de As Linhas de Torres Vedras, o encontro com o ator John Malkovich (moderado pelo produtor Paulo Branco) durou pouco mais de meia hora e concentrou-se fundamentalmente em Raúl Ruiz (1941-2011) e naquela que seria a sua derradeira longa-metragem.
Começando por evocar a sua primeira colaboração do ator com o realizador chileno (O Tempo Reencontrado, adaptação do romance de Marcel Proust estreada em 1998 e que também foi produzida por Paulo Branco), John Malkovich recordou Ruiz como um realizador sábio, tranquilo e que muito atento ao trabalho dos atores, “ao contrário de muitos outros realizadores”. Para além disso, o ator (que também trabalhou com o cineasta em As Almas Fortes e Klimt, de 2001 e 2006 respetivamente) reconheceu que “ninguém filmava como o Raúl”.
Depois de ter dirigido a adaptação do romance de Camilo Castelo Branco Mistérios de Lisboa (em 2010), Ruiz começou a conceber As Linhas de Torres Vedras a partir do argumento original de Carlos Saboga, cuja história se situa em princípios do século XIX. Falecido em agosto do ano passado e em plena produção do filme, a realização foi tomada pela viúva Valeria Sarmiento (também montadora dos filmes de Ruiz).
Apesar de ser recetivo a novas ideias, Malkovich (que interpreta a personagem do General Wellington) relembrou que Ruiz era alguém que sabia precisamente aquilo que queria quando filmava, considerando-o assim “o pensador mais independente no cinema”. Não é por isso de estranhar que o ator ache “impossível” que a visão de Sarmiento seja fiel à pretendida por Ruiz com As Linhas de Torres Vedras.
O encontro foi também marcado pela comparação de Raúl Ruiz com o cineasta português Manoel de Oliveira, com quem Malkovich também trabalhou. Apesar de serem semelhantes ao nível da experiência acumulada, conhecimento e singularidade das suas visões em cinema, aquilo que os distingue é, essencialmente e na sua opinião, o modo como trabalham a forma dos seus filmes (sendo que Oliveira prefere os planos fixos e de maior duração).
As Linhas de Torres Vedras, que tem estreia marcada ainda para este ano, conta com a participação de outras estrelas internacionais como Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Michel Piccoli ou Marisa Paredes. Já o elenco português é constituído por nomes como Soraia Chaves, Maria João Bastos, Nuno Lopes ou Afonso Pimentel (estes dois últimos presentes no encontro).
(Este texto foi publicado no Diário de Notícias - 21 de Fevereiro de 2012)
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