Apesar de incorrer a esquecimentos vários, bastante próprios na feitura deste tipo de listas, decidi participar na iniciativa do blogger Samuel Andrade e publicar, no seu Keyzer Soze’s Place, «os 10 filmes da minha vida». Não eram os mesmos há um ano atrás e, posso quase adivinhar, não os serão, na totalidade, no próximo. Escolher dez é tarefa hercúlea, impossível, mas ei-los. Farão sempre parte da minha vida; sem eles, não, ela não seria a mesma.
domingo, abril 17, 2011
Iniciativa «Os 10 filmes da minha vida»
Apesar de incorrer a esquecimentos vários, bastante próprios na feitura deste tipo de listas, decidi participar na iniciativa do blogger Samuel Andrade e publicar, no seu Keyzer Soze’s Place, «os 10 filmes da minha vida». Não eram os mesmos há um ano atrás e, posso quase adivinhar, não os serão, na totalidade, no próximo. Escolher dez é tarefa hercúlea, impossível, mas ei-los. Farão sempre parte da minha vida; sem eles, não, ela não seria a mesma.
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quinta-feira, abril 14, 2011
Cannes 2011 [ii]
O Festival de Cannes deste ano, que decorrerá entre 11 a 22 de Maio deste ano, já divulgou, durante a conferência de imprensa realizada por Gilles Jacob e Thierry Frémaux no Grand Hôtel, em Paris, a sua Selecção Oficial e os Júris. Robert DeNiro presidirá o conjunto dos mesmos, contando com Emir Kusturica na secção Un Certain Regard. O filme que abrirá o festival será Midnight in Paris, de Woody Allen, e contará, entre muitos outros grandes competidores, com realizadores como Bruno Dumont (Hors Satan), Pedro Almodóvar (La Piel Que Habito), Jean-Pierre e Luc Dardenne (Le Gamin au Vélo), Terrence Malick (The Tree of Life), Nanni Moretti (Habemus Papam), e Lars Von Trier (Melancholia). Na secção Un Certain Regard, Gus Van Sant abrirá Cannes com o seu mais recente Restless, competindo com cineastas com Kim Ku-Duk (Arirang). Jodie Foster (The Beaver) marcará presença no festival fora de competição. Interessante também será relembrar que, no dia 19 de Maio, Cannes projectará uma restauração da responsabilidade da Warner Bros. do mítico A Clockwork Orange. O dossier de imprensa pode ser consultado aqui.
Podemos, por isso, contar com grandes nomes e uma edição bastante promissora para este ano. Cá se esperam tos filmes ansiosamente.
sábado, abril 09, 2011
O tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores
Quando, no ano passado, Tim Burton atribuiu a Apichatpong Weerasethakul a prestigiada Palma de Ouro no Festival de Cannes, considerou O tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores um «sonho belo e estranho», localizado nas fronteiras da fantasia que ele próprio produz. Poder-se-á porventura receber esta criação, chamaremos onírica (ainda que tal não confirme no final) do cineasta tailandês, com os horizontes devidamente abertos como um filme que se quer, pela originalidade, fundamental.
A história, ou a antítese da mesma (parece não importar), é resumida no título, como que simplificando todo um processo de descoberta infantil, no sentido em que as fábulas do género fazem o mesmo e servem de ponto de partida para o que será contado. O filme é composto por diferentes fragmentos, viajando livremente nas vidas passadas do protagonista que se prepara para abraçar a morte, filmados, também todos eles, de maneira distinta, quebrando uma desejada continuidade, quer no argumento como na forma. E é precisamente aqui que reside o meu principal problema com este surrealismo, onde vale tudo e mais alguma coisa, e atentado à unicidade estética e narrativa: Apichatpong filma objectos diferentes, somando-os sem gerar um todo. Ainda que passe por tolerável o seu imaginário tão mitológico e religioso como realista e cru, composto por fantasmas e estranhas aparições e criaturas, caminhando pela floresta adequando a câmara à disposição da sequência, torna-se quase insuportável acompanhar a imposição dos enquadramentos após abandonarmos o nosso tio-protagonista.
O realizador abandona, assim e com este estranho filme (golpe político, puro panteísmo visual ou devaneio budista), provido de um fim irritantemente desarmonizado, uma identificação, justificada pelo mito da reencarnação / renovação. É cinema duro, para certas sensibilidades, sim, mas que não convence.
A história, ou a antítese da mesma (parece não importar), é resumida no título, como que simplificando todo um processo de descoberta infantil, no sentido em que as fábulas do género fazem o mesmo e servem de ponto de partida para o que será contado. O filme é composto por diferentes fragmentos, viajando livremente nas vidas passadas do protagonista que se prepara para abraçar a morte, filmados, também todos eles, de maneira distinta, quebrando uma desejada continuidade, quer no argumento como na forma. E é precisamente aqui que reside o meu principal problema com este surrealismo, onde vale tudo e mais alguma coisa, e atentado à unicidade estética e narrativa: Apichatpong filma objectos diferentes, somando-os sem gerar um todo. Ainda que passe por tolerável o seu imaginário tão mitológico e religioso como realista e cru, composto por fantasmas e estranhas aparições e criaturas, caminhando pela floresta adequando a câmara à disposição da sequência, torna-se quase insuportável acompanhar a imposição dos enquadramentos após abandonarmos o nosso tio-protagonista.
O realizador abandona, assim e com este estranho filme (golpe político, puro panteísmo visual ou devaneio budista), provido de um fim irritantemente desarmonizado, uma identificação, justificada pelo mito da reencarnação / renovação. É cinema duro, para certas sensibilidades, sim, mas que não convence.
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Flávio Gonçalves
O fim do mundo em 2011
Lars Von Trier está prestes a lançar Melancholia, o seu Solaris e a sua mais recente longa-metragem que, para além da conhecida Charlotte Gainsbourg (Antichrist), contará com o protagonismo de Kirsten Dunst, que, parece, terá a oportunidade para mostrar o seu talento à semelhança de como Nicole Kidman o fez com Dogville. O trailer lançado ontem parece aproximar-se do registo fotográfico do filme precedente do realizador, mantendo algumas características da sua forma de filmar (vejam-se, a título de exemplo, os zoom in como forma de intensificar a acção) e manipulação dos diálogos.
No entanto, Von Trier parece não ser o único cineasta a enveredar por uma aproximação do Apocalipse e da compreensão do fim do mundo e do homem, como se pairasse uma espécie de medo crescente por algo que há-de vir. Terrence Malick, com A Árvore da Vida, e Béla Tarr, com O Cavalo de Turim, anunciaram o "fim" filmado e imaginado pelo olhar de ambos. Poderemos ver estes três filmes, e as respectivas semelhanças, ainda este ano. Pisca-se o olho às referências do grande mito de Dezembro de 2012, enquanto se assiste a estreias profícuas financeiramente para o público mais mainstream.
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quarta-feira, abril 06, 2011
domingo, março 27, 2011
Mel e o seu realismo espiritual
«Mel» é um daqueles raros acontecimentos cinematográficos que não se esperam - manter uma proximidade com a Natureza, a família e a infância num tom panteísta forte e belíssimo é coisa difícil nos tempos que correm. A crítica que se segue foi escrita por Nuno Carvalho e foi publicada na edição última da revista NS do Diário de Notícias.
«Primeira parte de uma trilogia construída ao contrário, 'Mel' venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2010
De vez em quando aparece um filme que nos relembra que o cinema pode ser uma nobre arte. É o caso de Mel, do cineasta turco Semih Kaplanoglu (n. 1963). Vencedor do Urso de Ouro na penúltima edição do Festival de Berlim, este filme constitui a última parte de um tríptico autobiográfico a que o realizador deu o nome de ‘Trilogia de Yusuf”, e que explora diferentes fases da vida de uma mesma personagem. Mas fá-lo, porém, numa ordem cronológica invertida, ou seja, começando pela idade adulta de Yusuf (em Egg, de 2007), passando pelos seus tempos de estudante universitário (em Milk, de 2008), e terminando na infância deste. Os três filmes têm nomes de alimentos de origem animal, mas, a avaliar por Mel, é de um autêntico alimento espiritual que se trata.
Kaplanoglu definiu o estilo do seu cinema como “realismo espiritual”. Um termo perfeito para designar um cinema que, sendo pura e simplesmente realista, não o é todavia num sentido literal, banal ou empobrecedor. Trata-se aqui de um realismo sublimado, espiritualizado, que encontra na realidade (e sobretudo no real natural) uma espiritualidade imanente, em boa parte decorrente de um olhar poético sobre as coisas. É uma poética da simplicidade que se desenha neste filme que, afinal, é mais do que um filme: é um milagre, uma epifania cinemática, um sopro de ar puríssimo.
Numa remota região do Mar Negro, Yusuf (Bora Altas), um tímido e frágil menino de seis anos, que se encontra na primeira classe, tem dificuldades em ler diante dos seus colegas de turma (é acometido de uma súbita gaguez, porventura de origem emocional, de cada vez que tem de o fazer). Porém, em casa, consegue quebrar esse bloqueio verbal, sobretudo junto do pai – mas a única forma que encontra para contornar a sua inibição é sussurrar as palavras ao ouvido deste, com quem tem uma ligação especial. Todavia, quando este, que é apicultor, desaparece nas entranhas de uma floresta aonde foi armar as suas colmeias, Yusuf deixa de falar, o que acentua ainda mais a ansiedade da sua mãe.
O lugar de Mel na ‘Trilogia de Yusuf’ é similar ao de Pather Panchali na ‘Trilogia de Apu’, de Satyajit Ray. Mas, no caso desta “prequela” de Semih Kaplanoglu, são traçadas as origens de uma alma que, futuramente, e em larga medida devido à sua relação conturbada com as palavras, se tornará poeta. Vivemos sempre muito em função dos que nos falta, e no caso de Yusuf, como aliás na maior parte dos casos, é da superação de uma insuficiência que nasce a virtude. Não sabemos até que ponto a Trilogia de Yusuf é autobiográfica; sabemos apenas que Kaplanoglu é um poeta das imagens e que Mel é um autêntico maná cinematográfico.»
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