Filme-sensação da rota dos festivais pelos quais passou, chegou ontem o título que esgotou a sessão de abertura do Queer Lisboa 16. É um facto secundário mas que não deixa de carregar uma força irónica: Weekend já tem edições domésticas no estrangeiro em DVD e Blu-Ray (uma delas é da Criterion – o que pode demonstrar o seu sucesso entre o público com mais exigências) e percorre há algum tempo o circuito de torrents na Internet. Não admira que fossem muitas as segundas (ou terceiras...) vezes de alguns espectadores, ansiosos por ter uma experiência de intimidade em grande ecrã.
Foi, afinal, isso que aconteceu: uma espécie de espectáculo da realidade em que dois homens se cruzam durante algumas horas e ficam no fim na solidão de onde vieram. O filme vai crescendo, sem dúvida, como se a mera imagem de uma cama com os lençóis vividos nos revisitasse a querer dizer-nos alguma coisa: estás sozinho, a vida é cruel, procuras o amor para te compreenderes. Uma imagem que nos diz isso só pode estar carregada de realidade. Weekend balança-se entre o “social” (que entra nas conversas sobre o assumir a homossexualidade ou nas imagens sobre a tensão entre agarrar ou não agarrar uma mão) e qualquer coisa de mais profundo, aquilo que é a força motriz deste filme. Isso é a intimidade, vista como a consumação sexual, o confronto a partir do diálogo (elemento-chave no filme – por vezes destroçado pela fraqueza das falas e inverosimilhança) – enfim, a partilha do tempo.
A segunda longa-metragem de Andrew Haigh pede mais disso – e, no entanto, somos por vezes confrontados com um horror ao cliché. O filme preocupa-se tanto em servir de reação (ao ser antirromântico, ao investir as suas energias no realismo e dar espaço a diálogos que façam alusões ao indesejado – como o momento Notting Hill) que parece esquecer-se de que pode estar perante um novo cliché: o homem de barba, urbano e solitário, visto com um olhar que faz ponte com uma "estética Tumblr".
O problema, importa relembrar, não é este novo lugar-comum (a nós não nos importa se corresponde ou não à norma) – é, justamente, o seu tratamento. Apesar disto, os protagonistas já têm mais humanidade que muita da produção que caminha por aí e que consegue facilmente uma estreia comercial em sala. Mas falta-lhes mais. Porque sentimos, cada vez mais, que as personagens do cinema gay precisam de deixar de falar do facto de serem gays.
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