domingo, julho 17, 2011

O cineasta dos múltiplos nomes


Apesar de já ter estreado nos EUA há dois anos, 'Confissões de Uma Namorada de Serviço' estreou-se esta semana nas salas de cinema portuguesas e já foi anunciado como um dos últimos filmes de Steven Soderbergh, que já não quer ser um contador de histórias. Este artigo foi publicado originalmente no dia 16 de Julho de 2011 no Diário de Notícias.
Há dois anos, numa entrevista feita pelo jornal The Guardian, o realizador Steven Soderbergh, hoje com 48 anos, parecia resignado: "Quanto à minha carreira, eu já consigo ver o fim. Tenho uma lista das coisas que quero fazer, e, logo que estejam concluídas, posso simplesmente desaparecer." A peremptória declaração seguia o desgosto sentido pelo épico biográfico de Che Guevara, que lançou em 2008: "Um ano depois de termos acabado de rodar, ainda acordava de manhã a pensar: 'Graças a Deus que não estou a filmar aquele filme.'" No dia 11 de Março deste ano, Soderbergh repetiu num programa de rádio que se retiraria da indústria cinematográfica. Segundo disse Matt Damon ao LA Times, o realizador "quer dedicar-se à pintura", revelando ainda que "ele não está interessado em contar histórias".

Antes de fazer as produções de Hollywood e de se divorciar da carreira que formou, Steven Andrew Soderbergh (apelido que os pais suecos, Söderberg, foram obrigados a adoptar quando imigraram para os EUA), nascido a 14 de Janeiro de 1963, em Atlanta, realizou vários filmes numa Super 8 emprestada enquanto era adolescente, inspirado por Andrei Tarkovsky. Estudando no Luisiana, ganhou maior projecção quando, em 1985, filmou e montou 9012 Live para a banda de rock Yes.

O realizador, que também desempenha os papéis de montador, argumentista, produtor ou de director de fotografia, deve a proeminência da sua carreira à longa-metragem que escreveu em oito dias. Sexo, Mentiras e Vídeo, lançado em 1989, valeu a Soderbergh a Palma de Ouro (ficando na história como o mais jovem cineasta a vencer o Festival de Cannes), entre outros prémios. Além do mais, a obra veio a ter repercussões no panorama cinematográfico global, impulsionando a estreia de mais filmes com baixo orçamento.

Estreando-se como uma das maiores promessas do cinema norte--americano, Steven Soderbergh lançou depois fracassos de bilheteira: Kafka (1991), O Rei do Bairro (1993, nomeado para a Palma de Ouro em Cannes) ou Schizopolis (1996, filme experimental que realizou, filmou, escreveu, interpretou, compôs, montou e dirigiu a fotografia, sem exibir nenhum crédito no início ou no fim do filme). Mais tarde, Steven Soderbergh obrigar-se-ia a assinar funções com variados pseudónimos - Mary Ann Bernard, montadora; Peter Andrews, director de fotografia; Sam Lowry, argumentista - para contornar a Writers Guild of America, que o proibia de tomar conta de várias funções.

A sua filmografia ganha um novo ritmo a partir de Romance Perigoso (1998), O Falcão Inglês (1999), Erin Brockovich e, sobretudo, com Traffic - Ninguém Sai Ileso (2000), vencedor de quatro Óscares, incluindo o de melhor realizador (nesse ano Soderbergh passou a ser o terceiro realizador alguma vez nomeado para a categoria com dois filmes ao mesmo tempo).

Após ter realizado o sucesso de bilheteira Ocean's 11 em 2001, Steven Soderbergh realiza o remake de Solaris (2002), com George Clooney. Confirmava-se, na indústria de cinema de Hollywood, que Soderbergh era daqueles raros casos que tanto se permitia fazer filmes mais experimentais como outros dirigidos a um público mais alargado.

Quando Bubble (2006) gerou polémica ao estrear simultaneamente nas salas de cinema, DVD e televisão, Soderbergh preparava Confissões de Uma Namorada de Serviço, que estreou esta semana nas salas de cinema portuguesas, e O Delator! (2009).

O cineasta lançará, antes de desaparecer, como promete, do mundo do cinema, mais três filmes: Contagion, thriller com um elenco de luxo (Kate Winslet, Matt Damon e Jude Law), Liberace, com Michael Douglas, e um filme com George Clooney.

Depois disso, podemos esperar pelo seu trabalho... como pintor.

Sexo, Mentiras e Vídeo (1989)
A primeira ficção de Steven Soderbergh, que a escreveu e realizou, debruça-se sobre a sexualidade vivida por diferentes mulheres. Vencedor da Palma de Ouro, impulsionou uma nova vaga do cinema independente.

Traffic – Ninguém Sai Ileso (2000)
Galardoado com 4 Óscares da Academia, este filme adapta uma série britânica sobre o tráfico de droga. Contado sob múltiplos pontos de vista, Soderbergh monta o filme auxiliando-se na fotografia e na cor.

Solaris (2002)
Remake da ficção científica realizada por Andrei Tarkovsky, que Steven Soderbergh admira desde adolescente, esta é a história de um psicólogo (George Clooney) que viaja para perto de um misterioso planeta.

Bubble (2007)
Filme digital, sem argumento, experimental, com baixíssimo orçamento e sem actores profissionais, Soderbergh toma a polémica decisão de o distribuir simultaneamente nas salas de cinema, na televisão e em DVD.

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