Durante os noventa minutos decorrentes de uma das múltiplas jornadas na estrada da vida, não só acompanhamos a fábula de Gelsomina e Zampanò, mas um ponto de viragem para Fellini, que ganhou grande projecção ao filmar “La Strada”.
Vencedor do Óscar de melhor filme estrangeiro e do Leão de Prata, em Veneza, a película versa-nos, num tom de profunda melancolia, o desenvolvimento da relação de uma mulher pobre e sonhadora e de um homem escabroso que ganha a vida fazendo o mesmo espectáculo de rua, após esta lhe ter sido vendida pela mãe. Contextualizada numa Itália desencantada, decadente e esfomeada, o neo-realismo d’A Estrada, presente, também da época, em, por exemplo, Ladrões de Bicicletas de Vittorio de Sica, é o ponto de partida para uma viagem que será, para os dois, memorável. A ilusão circense que, paulatinamente, é retirada de Gelsomina, magnificamente interpretada por Giulietta Massina, afigura-se como um espectro inatingível que quer a protagonista como Zampanò lutam, juntos, ainda que através de uma relação disfuncional, alcançar. E assim é, através de uma narrativa episódica, os dois viajam e descobrem novos mundos e figuras, que se fundem na mesma visão pessimista e desiludida da realidade. Para a cobrir, A Estrada é o óptimo exemplo de como o amor, a esperança, a arte e o retornar a uma infantil inocência e pureza que ainda pode perdurar vencem a intragável e irreversível morte e passagem do tempo. Tendo-o e não o tendo, o filme mantém, num estranho paradoxo, uma surrealidade e energia inegáveis, que fazem dele um pedaço de cinema imperdível a qualquer amante da vida. Contudo, e engolido na mesma decepção com que tentava combater, a melancolia apodera-se da recta final, desacreditando todos os esperançosos esforços dos protagonistas precedentes a esta.
É uma fita tão mágica (Nino Rota sabe torná-la na perfeição) como dotada de um cru realismo, que merece ser reflectida com lentidão - quem sabe para até o fim da vida, onde reside o final da estrada.
9/10
Já fiz o meu comentário no blog! ;)
ResponderEliminarThe Star,
ResponderEliminarjá li e posso dizer-te que concordámos em pleno. Também te digo que decidi, para já, não fazer crítica ao A ESTRADA que está, agora, em exibição nos cinemas, porque não é um filme muito fácil de digerir (com o livro foi a mesma coisa). É fiel a este, e vale pela fotografia e interpretações belíssimas.
Quanto a esta publicação, refere-se ao filme A ESTRADA de Federico Fellini, que de certo também gostarás.
Beijinhos!
Vi que publicaste um post com este nome e como não tinhas publicado a crítica ainda, pensei de facto que te referias ao filme com Viggo Mortensen, agora nos cinemas.
ResponderEliminarMas não. É o título de Fellini ;P
Gostava tanto de encontrar o DVD! Alguém sabe onde o posso encontrar?
Deste uma excelente nota e pelo que li é mais um grande filme. Tenho que ver paaa deixaste-me cheio de curiosidade.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Acho que não vou conseguir ver este a tempo da iniciativa, mas fica a sugestão! :)
ResponderEliminarÉ o meu Fellini favorito!
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