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sábado, dezembro 17, 2011

Double Feature [8]:
Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor e O Atalho

O Double Feature é um espaço de opinião sobre dois DVDs lançados (ou reeditados) pelas distribuidoras portuguesas. Os comentários que seguem foram publicados na edição n.º 38 (Novembro 2011), na revista Premiere.

Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor, de João Canijo
Midas Filmes 
Filme: ★★★ / Extras: 

Antes de João Canijo ter estreado em Portugal, no passado dia 5 de Outubro, o monumento cinematográfico Sangue do meu Sangue, a oitava edição do festival IndieLisboa apresentou, na secção Director’s Cut, este pequeno documentário que revela e reflecte o processo de criação entre o realizador e o elenco do qual nasceu o guião. É por isso que, através de um lado cronológico, ilustrativo e eminentemente lúdico (Canijo chegou a afirmar que o estudo deste objecto seria importante para as escolas de teatro e cinema, na antestreia do documentário em Lisboa que contou com a presença de Rita Blanco, Cleia Almeida e Nuno Lopes), acompanhamos o desenvolvimento das personagens e respectivos conflitos e cruzamentos dramatúrgicos. Muito embora tenhamos ficado com a sensação de que este filme, não obstante a sua relevância, não ficaria mal enquadrado como um extra de um DVD, parece difícil tornarmo-nos indiferentes à singularidade da metodologia incomum e empenho visionário dos actores de Sangue do meu Sangue

O Atalho, de Kelly Reichardt
Alambique 
Filme: ★★★ / Extras:  

Se o minimalismo foi continuamente uma característica apontada ao cinema de Kelly Reichardt (autora de Wendy e Lucy), então O Atalho afirma-se possivelmente como o exemplo mais demonstrativo. Não nos importemos também de chamar a Reichardt uma paisagista norte-americana, cuja pulsão contemplativa (tornada real pela direcção de fotografia de Christopher Blauvelt) encontra alguma semelhança com a de pintores como Frederic Church (1826-1900). Assim, a narrativa, inspirada num caso verídico situado em meados do século XIX, segue três famílias guiadas por Stephen Meek, um explorador que contratam e que afirma conhecer um atalho para a sua viagem (este percurso está identificado entre os trilhos históricos do Oregon). Apesar de registar um espírito histórico e primitivo de povoamento, união e descoberta, a câmara desta cineasta é consciente do seu tempo e não deixa de filmar algo que permanece profundamente contemporâneo: como o ser humano reage (e se revela) face ao desconhecido e a situações-limite.

quinta-feira, junho 09, 2011

Double Feature [2]: Cisne Negro e Caché - Nada a Esconder

O Double Feature é um espaço de opinião regular sobre dois DVDs lançados (ou reeditados) pelas distribuidoras portuguesas. O comentário que segue foi publicado no dia 4 de Junho de 2011, na revista Notícias Sábado integrante do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias.

Cisne Negro, de Darren Aronofsky
Fox
★★★

Foi depois de Pi, do avassalador A Vida não é um Sonho e do fracasso de bilheteira de O Último Capítulo que Darren Aronofsky decidiu partir para um cinema voltado para as personagens, materializando os seus maiores conflitos na sua relação com o corpo. Cisne Negro é, por isso, uma continuação, felizmente mais interessante, do que o realizador fez com O Wrestler. Caminhando pelos trilhos do melodrama maniqueísta, que acaba por se esgotar ao fim do deslumbre que proporciona um primeiro visionamento, este thriller psico-sexual não deixa de ser um interessante exemplo da extraordinária capacidade de montagem de Aronofsky e de filmar a decadência das suas personagens. Vencedora do Óscar de melhor actriz, Natalie Portman apresenta-nos aqui o melhor papel da sua carreira.

Caché – Nada a Esconder, de Michael Haneke
Atalanta
★★★


A rigidez com que Michael Haneke, um dos autores actuais mais interessantes, filma esta obra-prima (que mereceu reedição em DVD) pode facilmente equiparar-se à de uma câmara de segurança. No entanto, o espectador adopta o terrífico (e activo) papel de vigilante ou, se quisermos ir mais perto da verdade, de espião. Baseado num documentário sobre o massacre de imigrantes da Algéria na França de 1961, acompanhamos uma família que começa a receber, em casa, cassetes de vídeo que mostram o protagonista a ser secretamente filmado e desenhos perturbantes e pessoais. Politicamente crítico, Haneke constrói uma pertinente reflexão sobre a sociedade ocidental contemporânea, observando a violência, a intolerância, a privacidade e a omnipresença da comunicação social.

quarta-feira, maio 25, 2011

Double Feature [1]: O Mágico e Paranoid Park

Esta publicação abre a rubrica Double Feature, um espaço de opinião regular sobre dois DVDs lançados (ou reeditados) pelas distribuidoras portuguesas. O comentário que segue dos primeiros dois discos foi publicado no dia 21 de Maio de 2011, na revista Notícias Sábado integrante do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias.

O Mágico, de Sylvain Chomet
Castello Lopes Multimédia
★★★

Criado a partir de um argumento que o espantoso Jacques Tati (1907-1982) deixou sem concretizar e utilizando a sua mais célebre personagem – Monsieur Hulot –, o realizador francês Sylvain Chomet, nomeado para os Óscares da Academia com Belleville Rendez-vous, conta-nos a história de um mágico que tenta sobreviver à ausência de protagonismo e que se empenha em deixar feliz uma pobre rapariga que conhece na Escócia e com quem estabelece um autêntico amor paternal. Desolar mas profundamente tocante, Chomet cria, com minucioso detalhe e beleza, uma das melhores animações dos últimos anos, explorando, através do silêncio, o âmago das relações humanas.




Paranoid Park, de Gus Van Sant
Atalanta Filmes
★★★

Depois de deslumbrar com a sua inovadora trilogia da morte (constituída por Gerry, Elephant e Last Days), o versátil cineasta norte-americano Gus Van Sant mostra, em Paranoid Park, um olhar sobre a adolescência no presente, que crê estar perdida. Adaptado do romance homónimo de Blake Nelson, que por sua vez invoca Dostoiévski, este objecto cinematográfico de notável singularidade formal debruça-se sobre a decadência moral e psicológica de um skater de 16 anos após ter matado acidentalmente um segurança. Montado a partir de uma narrativa não linear e experimentando uma conjugação hipnótica de músicas e ritmos distintos, o realizador atinge nesta obra um estado de graça, cujo DVD mereceu uma nova reedição que inclui um estudo sobre a obra do autor.