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segunda-feira, setembro 12, 2011

Um filme português vindo de Hollywood

Foi inteiramente filmado nos EUA, conta com actores americanos… mas é um filme português. Pouco depois de lançar o DVD, o realizador Fernando Fragata revela ao DN como foi a experiência de viver em Contraluz. Este texto foi originalmente publicado no Diário de Notícias, no dia 6 de Setembro de 2011.
Homem da publicidade, da televisão e dos telediscos, Fernando Fragata é hoje também um dos realizadores portugueses mais invulgares da sua geração. Depois de realizado o telefilme Pulsação Zero em 2002, o cineasta atingiu a notoriedade comercial com Sorte Nula (2004), 10º filme português mais visto em Portugal. Apesar do sucesso, o realizador foi consciente de que havia que voltar “à estaca zero”. E assim surge a sua obra maior, em produção e em êxito comercial: Contraluz, que levou no ano transacto nada menos que 83.724 espectadores.

O facto de ser o nono filme português mais visto torna ainda mais peculiar o facto de Contraluz, filme centrado em histórias paralelas ligadas pelo destino, parecer mais ter vindo de Hollywood que de qualquer outro local em Portugal.

O realizador justifica a afluência às salas de cinema por “uma conjugação de vários factores.” Na sua opinião, os espectadores “gostaram do trailer” e o “assunto de que o filme trata cativou-os. De outro modo não tinham lá posto os pés nas salas de cinema”, opina.

Inteiramente filmado nos EUA, tem um elenco que mistura actores norte-americanos (caso de Scott Bailey e de Skyler Day) e portugueses (Joaquim de Almeida, Ana Cristina Oliveira e Evelina Pereira) e é falado em inglês (a sua primeira longa-metragem, a comédia romântica Pesadelo Cor de Rosa, era também falada na língua estrangeira). Fernando Fragata não vê como criar um “star system” nacional sem actores de televisão, declarando que “o dinheiro que existe em Portugal para fazer filmes é tão pouco que nenhum actor poderia sobreviver só a fazer filmes portugueses.”

Para além de realizador, Fragata vestiu a pele de argumentista (“Tento escrever algo que me agrade e me entusiasme e que me faça acreditar que o público também irá gostar”, revela ao DN) e, também, de director de fotografia, operador de câmara, montador e produtor.

Após ter tido a oportunidade de ver o filme antes da sua estreia comercial, o actor António Feio (que trabalhou com o realizador em Sorte Nula) comentou Contraluz num vídeo que alastrou na Internet. “Se há coisa que eu costumo dizer é ‘aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento, agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer’. Esta é uma das fortes mensagens deste filme”, reconheceu o actor, que viria a falecer no dia 29 de Julho de 2010, pouco depois de Contraluz ter estreado no cinema.

“Dias antes dele falecer eu liguei-lhe e disse-lhe que lhe ia dedicar o filme, facto que o deixou emocionado e a mim também”, relembra o realizador ao DN. “Foi uma dedicatória ainda em vida, o que me traz algum conforto emocional, por ter tido ainda essa oportunidade de lhe expressar a minha admiração e agradecimento pela generosidade que sempre o caracterizou.”

Por um cinema mainstream que chegue ao seus espectadores

O drama Contraluz, que estreou em Portugal a 22 de Julho ao lado de A Origem, de Christopher Nolan, ilustrou, apesar dos bons resultados, a dificuldade por que passa um filme português para chegar ao público nacional.

Apesar de considerar que existe espaço para um cinema dito mainstream (ou dirigido ao grande público) em Portugal, Fragata critica ao DN a falta de financiamento: “os incentivos para quem consegue levar publico ao cinema são irrisórios”.

O realizador demonstra igualmente uma preocupação quanto à selecção na exibição dos filmes nas salas de cinema, referindo que “o mundo inteiro compra filmes americanos e pouco se interessa por filmes provenientes de outros países. São capazes de pagar mais por um filme rasca americano do que um bom filme doutro país qualquer”, conclui.

Em Contraluz, o realizador passou por uma autêntica aventura, tendo filmado em Los Angeles, nos lagos secos da Califórnia, no deserto de Mojave, no Monument Valley no Utah e ainda no rio Colorado e no lago Mead, no estado do Nevada.

Embora Fernando Fragata considere que ter filmado em Hollywood representa um valor acrescentado para uma eventual exportação daquele que é o seu quarto filme, opina do mesmo modo que “não há espaço” para o cinema nem “português, nem francês, nem italiano, nem espanhol, nem mais nada, a não ser americano.” Na sua perspectiva, “existem muito poucas excepções de filmes não americanos que tiveram sucesso comercial internacional. Mesmo essas excepções nunca chegam a ter sucesso que se equipare ao sucesso de filmes americanos.”

Apesar de tudo, Fernando Fragata afirma que “não existe grande diferença” entre filmar nos EUA e em Portugal. “Mas se há algo que deva frisar são os requisitos legais e o peso burocrático para se filmar nos EUA”, algo de “verdadeiramente aterrador em comparação com Portugal”.

Após a estreia bem-sucedida em território nacional, Contraluz viu recentemente ser lançada uma versão do filme em DVD.

quinta-feira, junho 30, 2011

Os números do cinema português

01 – «O Crime do Padre Amaro», Carlos Coelho da Silva (380.671 espectadores – 1,643 milhões de eur)
02 – «Filme da Treta», de José Sacramento (278.853 espectadores – 1,092 milhões de euros)
03 – «Call Girl», de António-Pedro Vasconcelos (232.581 espectadores – 1,034 milhões de euros)
04 – «Corrupção» (230.741 espectadores – 1 milhão de euros)
05 – «Amália – O Filme», de Carlos Coelho da Silva (214.259 espectadores – 929 mil euros)
06 – «Uma Aventura na Casa Assombrada», Carlos Coelho da Silva (124.936 espectadores – 558 mil eur)
07 – «A Bela e o Paparazzo», de António-Pedro Vasconcelos (98.748 espectadores – 435 mil euros)
08 – «Second Life», de Alexandre Valente e Miguel Gaudêncio (90.194 espectadores – 403 mil euros)
09 – «Contraluz», de Fernando Fragata (82.426 espectadores – 373 mil euros)
10 – «Sorte Nula», de Fernando Fragata (74.095 espectadores – 305 mil euros)
Carlos Coelho da Silva
No seguimento da publicação anterior, será interessante debruçarmo-nos sobre os filmes que mais receita e espectadores fizeram até agora no cinema português. Pedindo emprestadas as palavras de João Botelho, há uma falta de “educação” cultural que apetece dizer que é promovida pelo próprio Governo que, na minha perspectiva, deveria estar mais atento, para além de outros aspectos como as formas de distribuição, na divulgação do seu cinema como parte da identidade nacional. Ou será que o povo português é o espelho de “O Crime do Padre Amaro”, do “Filme da Treta” ou do “Call Girl”? A questão é contudo mais profunda do que aqui parece querer fazer-se parecer. Na verdade, António-Pedro Vasconcelos e Fernando Fragata representam a tentativa de transformar a pouca produção cinematográfica em Portugal em indústria, conceito que está a anos-luz de encontrar uma forma como a que existe nos Estados Unidos da América. E o escasso e comum consumidor do cinema português, alheio às produções independentes, procura aquilo que os exibidores mais gostam de projectar em sala, tendo em atenção o número de bilheteiras: uma fórmula próxima do protótipo norte-americano, que lhe garante entretenimento. Será por isso urgente, ao mesmo tempo que se implementem medidas baseadas na produção de mais filmes e sobretudo de jovens realizadores (e não tanto de veteranos), que a política governamental relativa ao cinema nacional co-relacione os sectores da Educação e da Cultura, implementando programas nas escolas que levem aos alunos, com a mesma urgência com que aprendem as ciências e a literatura, novas formas de artes visuais, como é o caso do cinema, divulgando a sua História, os seus principais objectos e aquilo que é o cinema português, expressão que se encontra cada vez mais esbatida pelo esquecimento, ódio e incompreensão.