Numa terra onde a fé não se apresenta mais que uma fantasia de crianças e num mundo sem espaço para Deus, a humanidade entrega-se a si mesma, tomando toda a responsabilidade pelo seu fatídico destino. E Bresson não hesita, nesta simples alegoria lírica, em esclarecê-lo sob o olhar protagonista de um burrinho chamado Balthazar, santificado e divinizado até onde seria possível. Ver o naturalista e ascético Au Hasard Balthazar é, duplamente, sentir poesia em estado bruto e redefinir a perspectiva sobre a nossa própria existência. Isto porque a jornada “dúmbica” do burro, que assiste, em paralelo com as narrativas sociais que confluem com a dele, não é mais que uma contemplação do horror e crueldade humanas, do absurdo a que se fica sujeito desde a nascença. Mas o espectador não é livre de culpa. O espectador é parte, diria quase activa, daquele sofrimento e de toda aquela ridicularização e barbaridade, muito simplesmente por deixar que a desumanização prossiga com uma aparente e vil naturalidade. E a comoção que se nos dá, e as lágrimas que se deixam cair naquele esperado fim com o Bem rodeado do rebanho do Mal, tão certo como o correr de um rio, não são mais que os evidentes sinais de que é preciso, com urgência, rever a nossa fé, o nosso destino, a nossa estrada e o nosso final. Sim… grande, grande filme.
Nunca vi este filme, é dos poucos do Bresson que ainda não vi apesar de o ter aqui já há muito tempo. Shame on me :(
ResponderEliminarA sério, Álvaro? Estou chocado :P
ResponderEliminarTenho a certeza de que vais gostar. Vê-se muito facilmente, ainda para mais é curtinho. Depois não te esqueças de nos dizer o que achaste.
Esse é dos que está na lista de espera.Tenho que ver:)
ResponderEliminarOlá,
ResponderEliminarFlávio, ainda não vi este filme, mas o que queria dizer é que estimei deveras a perspectiva a que abres a porta quando dizes..."O espectador é parte, diria quase activa, daquele sofrimento...". a OBRA como ESPELHO.
Abraço!
Desculpa, Flávio, trapalhão como sou, enviei o comentario anterior sem me identificar; é só mesmo para assinar o comentário que seguiu como "anónimo". Desculpa o jeito trapalhão :)
ResponderEliminarAbraço!
Zé, nada que pedir desculpa ;) Aconselho-te vivamente o filme. Senti mesmo isso, senti-me mesmo agente activo, como escrevi. Penso que verás o mesmo, e apreciarás bastante. A obra como espelho.
ResponderEliminar1 abraço ;)
Vi-o ontem à noite e é sim senhor um grande filme. Mais um grande filme do Bresson. Fiquei sem palavras. É verdade, gostei muito da tua crítica e tomei uma certa liberdade ;)
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