segunda-feira, julho 07, 2008

O Incrível Hulk


Antes de começar a crítica propriamente dita ao filme, devo dizer que não vi, por falta de oportunidade (até porque gostei de outros trabalhos do realizador) o filme concebido por Ang Lee em 2003 acerca do Herói verde, pelo que não me poderá ser possível estabelecer qualquer comparação entre os dois. Sei, porque li, que a versão de 2003, com um elenco totalmente diferente daquele visto em “The Incredible Hulk”, era mais voltada para os sentimentos e conflitos entre as personagens principais, e menos centrada nas cenas de acção. Gostava de o ver, verdade seja dita, mas hoje estou cá para falar do Hulk vivido pelo excelente Edward Norton.

Seguindo uma ideologia semelhante àquela que fundamenta (e inicia) a história do Homem-Aranha, encontramos em Hulk alguém que ganhou os seus poderes devido a um incidente, e não por ganância ou ambição, factor indispensável para que se estabeleça uma empatia entre o herói e o espectador. O conflito interior em Bruce Banner, o duelo entre a besta e o ser humano, a contrariedade de sentimentos despoletada pela vontade de se ver livre daquele dom indesejado ao mesmo tempo que se este lhe vai surgindo como um “mal necessário” e, claro, o amor que o une à bela Betty Ross: são esses, essencialmente, os principais ingredientes que compõem a estrutura dramática do filme. Claro que, sem as explosões, não seria a mesma coisa, daí a necessidade de introduzir no baralho o jogo de interesses que levam à perseguição do gigante por parte do General Ross, pai de Betty.

As personagens são-nos apresentadas inicialmente enfrentando as consequências que resultaram da experiência em Bruce: enquanto ele se refugiara numa favela brasileira (ver Norton falar português, dizendo coisas como “Não me queira ver com fome”, trocadilho inteligente e compreensível derivado da semelhança entre os vocábulos “angry” e “hungry”) enquanto procurava uma “cura”, Betty cortara relações com o pai e começara uma nova relação com outra pessoa, o General, por sua vez, concentrara-se na procura dele. E tudo assim continuaria, não fosse por um erro que leva a que Bruce seja descoberto.

A partir daí, a intriga amorosa é desenvolvida (confesso que foi algo que me agradou bastante, quer a relação entre Bruce e Betty, quer a relação desta com o pai, captada de forma brilhante quando ela se vê forçada a intervir para tentar salvar o amado numa determinada situação). Aliás, confesso que toda essa situação me lembrou um pouco a história de Cneu Márcio Coriolano: a semelhança entre Cneu e o General, dois traidores – Cneu, do seu povo, o General da confiança da filha –, o desespero da mãe do primeiro que encontra aqui paralelo com o desespero da filha do segundo… Ou se calhar sou eu a ver relações onde elas provavelmente não existem, mas o momento em que Betty se vê forçada a chamar “Pai” a um homem que nem conseguia encarar é poderoso, e a actriz Liv Tyler, que me espantara já na trilogia “Senhor dos Anéis” foi uma excelente escolha para o papel.

Ao mesmo tempo, como não podia deixar de ser, decorrem a perseguição e a procura pela cura, o conflito entre Hulk e um dos soldados, vivido por Tim Roth, que mais tarde se transforma no verdadeiro rival ao gigante verde, tudo criando um bom equilíbrio entre o drama e as cenas de acção que se vão intensificado até ao momento em que passam a ter como pano de fundo a cidade de Nova Iorque.

E é esse equilíbrio que faz de “The Incredible Hulk” um melhor filme que o “Iron Man” (6.5/10), a meu ver: aqui as cenas de acção são genuinamente emocionantes (a cena em que Bruce se lança de um helicópetro, mesmo sem certezas sobre se se irá transformar ou não é um bom exemplo disso), o conflito interior da personagem é melhor abordado e as cenas de romance existem em número suficiente sem caírem na lamechice vista em “Spiderman 3”. No final, não deixa de ser mais um filme dito “popcorn”… é leve, sim, e não exige muito do seu espectador – sabemos desde o início quem são os bons e os maus, por exemplo –, mas é um excelente filme de Super-Heróis, e, na minha opinião, o melhor, logo a seguir a “Spiderman 2” (9/10). Espero sinceramente que façam sequela porque, se sim, não vou esperar quatro semanas para a ver…

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