... Enganaram-se. Alexandre Aja é um prodígio do terror moderno (quem viu o remake e "Haute Tension" sabe do que falo) e, apesar de compreender a escolha dele em não se envolver nesta sequela - seria um passo atrás na sua carreira, afinal -, fazê-la sem ele foi um erro crasso. O argumento, da autoria de Wes Craven e do seu filho - escrito num mês - é fraco, não explica - a menos que achem aquelas linhas introdutórias alguma espécie de explicação - o que aconteceu aos sobreviventes do primeiro, está repleto de clichés, maus diálogos e personagens estereotipadas. É claro que, se o argumento contém tantas falhas, o resto do filme sofrerá inevitavelmente.
O filme começa logo com uma cena bastante intensa a envolver um parto - um pouco semelhante com aquela que inicia "Texas Chainsaw Massacre: The Beginning" (7.5/10), mas mais repugnante -, no qual nos é explicado o porquê de os mutantes terem uma certa tara por violações (novamente, quem viu o remake sabe do que falo). Sim... pensavam que eles violavam mulheres - aparentemente - indefesas por prazer? Nada disso! O seu objectivo, como nos é repetido - desnecessariamente - várias vezes ao longo do filme é procriar! Infelizmente para nós - e para a grávida em questão -, o bebé morre à nascença. A seguir, uma cena semelhante à do remake e conhecemos então as personagens principais, um grupo de soldados - bastante inexperientes, ou estúpidos, cabe-vos a vós decidir, julgando as suas acções ao longo do filme - sobre os quais pouco ficamos a saber: há o mexicano, há uma que tem tatuada no braço o nome do filho, há outro que faz piadas, há aquele que é contra a guerra e é gozado pelos outros, enfim, nada de novo. Também, não é isso que importa a este filme, desenvolvimento de personagens. O que lhe importa realmente é as death-scenes e os confrontos que se vão sucedendo entre soldados e mutantes, agravados quando uma personagem principal decide, após o ataque de um mutante, "aliviar-se", afastando-se dos outros sem os avisar, e é capturada por um mutante que, tal como os camaleões, detém a distinta capacidade de se camuflar - falarei disso mais à frente - sendo de imediato levada para dentro das grutas onde a seita vive. Cabe aos outros - sem a ajuda do seu general, que entretanto morre no calor de um confronto - salvá-la, mas acho que não é difícil adivinhar que tudo acaba por correr bastante mal a todos.
Mencionei no parágrafo anterior as death-scenes e, quanto a elas, pouco há a dizer. A body-count do filme é enorme, mas isso não quer dizer que as personagens morram de formas originais, dramáticas, tensas, ou qualquer coisa do género. Não, a maior parte morre baleada, ou caindo de uma ravina, ou simplesmente desaparecendo arrastada para as grutas. Mas descansem aqueles que pensam que não há gore no filme: há, e bastante, talvez mais do que no primeiro. E devia ser esse o objectivo tanto do realizador como dos argumentistas, mas só isso não é, pelo menos para mim, suficicente. Lá para o meio do filme, tentando combater a mediania com que as personagens vão sendo despachadas, foi incluída uma violação - nojenta - que em nada se compara à do remake, onde havia uma ligação com a personagem e torcíamos para que escapasse. Aqui, apenas assistimos, enojados pelo liquído - estranhamente semelhante a esperma - que teima em sair da boca do mutante que atemoriza a mulher, mas pouco mais. O grande problema é que as personagens são todas tão unidimensionais que não há qualquer uma que nos faça sentir pena do seu destino.
Para além de não terem personalidades realistas - talvez o que é contra a guerra, Napoleon, se perfile como a personagem principal, quer pelas atitudes, providas de um grau de inteligência ligeiramente superior à dos seus comparsas, quer pela sua caracterização -, as personagens estão continuamente a cometer decisões idióticas que só as arrastam para situações mais complicadas. Dispersam-se uns dos outros - propositadamente -, vão explorar o terreno sem as armas, tentam fugir sozinhos, não se agrupam - como seria de esperar, dado que são soldados - e tentam aniquilar os inimigos com alguma estratégia - excepto naquela cena em que duas personagens servem de isco para um mutante -, enfim, nada. A meio do filme - ou mais cedo - já se torna fácil saber quem irá sobreviver e quem irá sucumbir às mãos dos mutantes.
Ah, falando em mutantes, não esperem criaturas muito assustadoras, mas sim imbecis. Sim, a maquilhagem fá-los parecer minimamente perigosos - principalmente aquele parecido com um camaleão -, mas as suas atitudes são incrivelmente previsíveis e não muito inteligentes. Eles limitam-se a lançar-se aos protagonistas - que, por burrice, vão gastando munições desnecessariamente ou vão perdendo as armas - e normalmente ganham o confronto devido à sua força física. Apesar de tudo, apenas um mutante consegue, em certa cena, criar um alvoroço enorme entre o esquadrão de soldados!
Depois de uma cena em que três personagens principais se vingam de um dos mutantes - sim, são precisos três, e admirei-me como não foram todos mortos ali mesmo -, o filme acaba com um cliff-hanger bastante semelhante ao do remake, deixando a porta aberta para uma sequela. "The Hills Have Eyes 2" foi, como vêem, uma desilusão tremenda, e em nada se compara ao remake de 2006, bastante superior. Felizmente para todos, o filme pouco rendeu na bilheteira, limitando trementamente as hipóteses de uma terceira parte alguma vez ser feita!
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