Apareceu no Festival de Cannes como um extra-terrestre – Alain Cavalier, que com Thérèse, drama espiritual sobre a freira carmelita Teresa de Lisieux, venceu o prémio do júri em 1986, apresentava Pater (na secção competitiva), que foi reconhecido como o OVNI da passada edição do festival e que teve direito a estreia nas salas de cinema portuguesas (a 20 de Outubro).
Aqui, Cavalier e Vincent Lindon, amigos próximos, decidem vestir um fato e uma gravata, filmar-se e interpretar as suas próprias personagens (realizador e actor), acabando por dialogar um com o outro fingindo serem presidente da república e primeiro-ministro. “É uma brincadeira”, resumiu o realizador e protagonista, sendo que a questão ontológica fundamental quanto a este objecto básico, à partida respondida, parece restar-se a “é tudo a fingir?” (tal e qual Cópia Certificada, de Abbas Kiarostami).
Será uma brincadeira com o espectador? Após um divórcio com a ficção, o autor de Pater parece demasiado preocupado com a mentira quer na indústria do cinema como na França de Nicolas Sarkozy. Anulando a transparência de que teorizou André Bazin e afundando-se numa mise en abyme pouco original, Cavalier esconde-se por detrás das câmaras digitais de vídeo à procura de uma verdade que nunca parece ser atingida.
Sem nunca esquecermos a sua intenção e liberdade conceptual, este making of e filme ao mesmo tempo nunca nos chega a despertar o interesse – não pela sua forma aparentemente inédita, mas por ser, apenas e só, preenchido por um jogo de diálogos vazios e um retrato de uma amizade que tudo tem de palavroso e de falso.
Esta crítica foi publicada originalmente na revista Premiere (n.º 38 / Novembro 2011).
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