quarta-feira, novembro 03, 2010

Lola

Chove, para duas Lolas, a grave ideia de continuidade de vida. Se ambas se entrecruzam por uma morte passada, também ambas se entrecruzam por uma luta que acaba, sem que queiram, por uni-las. Ambas querem que a vida continue, caia e se purifique, tal como a chuva. O que, também, acaba por justapô-las numa só Lola é, sem dúvida, o facto de essas lutas não serem directamente por elas, mas pelo outro, pelos netos, traçando assim uma compaixão e descentração imensas, santificadas pelos grandes planos de Brillante Mendoza, cuja impecabilidade na realização e fascínios por tons amargos de azul tornam inevitável este trocadilho: a sua câmara é tudo, mais alguma coisa e também brilhante. E o seu jogo com opostos é de uma habilidade genial. Entenda-se por opostos a poesia do seu realismo social; o distanciamento emocional com que filma, de perto, as protagonistas; o humor que encontra nos contextos mais dramáticos (relembro a cena dos peixes, ou da casa de banho avariada). Mas a mesma câmara enche, à medida que se desenrola o moroso processo de luto aliado à presença opressiva da água, uma vaga e triste ideia de eterno retorno, de que tudo voltará ao mesmo, de que tudo aquilo não passa de uma história que voltará a acontecer de novo, e de novo, e de novo. Como a chuva.

3 comentários:

  1. Ainda bem que gostaste, é muito bom filme :) Agora vê o Kinatay que, certamente, também vais gostar ;)

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  2. Obrigado Natálio, também me lembrei do teu quando acabei de ver o filme ;)

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