segunda-feira, janeiro 02, 2012

A palavra (1): Gonçalo Tocha



(...) Eu acredito nos criadores, nas pessoas que fazem. Mas o problema não está aí, está na contínua descredibilização da própria criação artística. Eu não gosto de falar em apoios porque nem tive nenhuns para fazer os meus filmes, por opção própria, mas os apoios são sempre uma arma apontada contra a própria cultura pelo Governo e que a descredibiliza. Cortar ou estar sempre a cortar na cultura é bem visto, toda a gente acha bem, todos aplaudem. É como a função pública, que foi utilizada como arma. Somos os parasitas e os subsídiodependentes. 
E perante isso, o que devem fazer os artistas? 
Eu acredito no trabalho, no fazer. Não conheço ninguém que trabalhe no cinema, na música, nas artes plásticas, em todas as artes, que fique sentado à espera. Toda a gente trabalha e faz coisas, mas na precariedade total. Não há condições de trabalho sequer, uma pessoa tem de ser muito imaginativa. Mas no plano do cinema, especificamente, em 2012, temos Guimarães Capital Europeia da Cultura, que está a financiar filmes, ainda são uns 20 e tal, por isso ainda vai haver alguma criação. O deserto total será em 2013. Mesmo assim, o cinema português está muito forte no estrangeiro, está a circular muito. Por isso, e como os ministros andam a dizer, ainda vamos todos é lá para fora. 
 in Diário de Notícias de 29 de Dezembro de 2011 (entrevistado por Eurico de Barros)


A rubrica, cujo título é emprestado do filme de Carl Dreyer, propõe-se a divulgar excertos recolhidos em meios de comunicação social e que digam respeito ao cinema e audiovisual.

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