quinta-feira, dezembro 01, 2011

O que é o cinema (versão 3D)?

[ver também Que futuro para o 3D?]

No passado dia 27 de Novembro, o portal Deadline publicou uma entrevista com Martin Scorsese centrada na sua mais recente longa-metragem, A Invenção de Hugo (que tem estreia nacional no dia 16 de Fevereiro do próximo ano). Nela, o autor de filmes como Touro Enraivecido ou Shutter Island confessa ter desejado trabalhar com as três dimensões no cinema desde 1953 (ano em que viu o primeiro filme a três dimensões) e ter sido sempre fascinado pelas possibilidades do 3D (que “deve ser encarado como um elemento e uma ferramenta narrativos sérios, sobretudo contando uma história com profundidade como narrativa”). Agora que concluiu Hugo (título original; trailer aqui), Scorsese admitiu preferir filmar, no futuro, apenas com esta tecnologia pensando que, caso tivessem sido produzidos dessa forma, as narrativas de Taxi Driver e O Aviador teriam sido beneficiadas. 

Comecemos por ignorar as possíveis reacções de tom provinciano que ou 1) justificassem as declarações do cineasta com o facto de poder estar, única e exclusivamente, a promover o seu filme, ou 2) rejeitassem a validade das respostas por desagrado pessoal ao 3D. E pensemos: quando Martin Scorsese compara as três dimensões com o Technicolor (que durante mais de uma década “foi relegado para musicais, comédias e westerns. Não era destinado aos géneros sérios, mas agora tudo é a cores”), quando comparamos (nós) o advento do som com o 3D, que quer tudo isto significar? Scorsese só tem uma resposta: que os filmes estereoscópicos são uma evolução da própria imagem cinematográfica. "A tecnologia avançando e podendo eliminar os óculos, que são um empecilho para alguns espectadores, então por que não? É apenas uma progressão natural". 

Posto isto, e tendo presente que a noção de imagem cinematográfica se transformou ao longo do seu tempo de existência, questionamos: para onde caminha o cinema? Ou, mais uma vez, uma questão-limite: o que é o cinema? 

As ideias de tridimensionalidade e de profundidade estiveram, desde a sua origem, sempre assentes naquilo que entendemos que é o cinema. E o 3D parece apenas revelar uma espécie de desejo de imersão, que atenue o distanciamento entre o espectador e as imagem e/ou narrativa apreendidas e que auxilie aquilo que conhecemos como suspensão voluntária da descrença

Assim sendo, importa que estejamos permanentemente atentos à evolução da tecnologia relativa à realidade virtual, cujos testes e resultados têm sido mais notórios na área ligada ao videojogo. E porquê? Porque é a sua evolução determinante que poderá responder aos limites que poderão existir, ou não, na imagem cinematográfica. No futuro, poderemos considerar cinema um espaço virtual conceptualizado por um individuo, no qual decorra algum tipo de narrativa e que possamos assistir “estando” lá? As possibilidades são infinitas. 

Para já, temos as notícias que envolvem a progressão da realidade virtual e seus derivados e obras invulgares, que nos fazem repensar tudo aquilo que é audiovisual, como a do francês Maurice Benayoun. Não querendo, contudo, ir mais além daquilo que temos (o 3D), ficamos com a ideia de que o 3D é, tão-somente, um indício de que o cinema ainda não parou na busca de uma definição e das suas fronteiras.

3 comentários:

  1. Na minha opinião, todas as evoluções tecnológicas são bem vindas, desde que, obviamente, venham a ser utilizadas como forma de expressão artística. Mas isso dependerá sobretudo do talento dos cineastas. Venham elas... P.S. Óptimo e pertinente texto que coloca as perguntas certas. :-)

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