sexta-feira, setembro 09, 2011

Queer cinema (8/30): O enfant terrible que veio do Canadá

A dar seguimento a um realizador cuja primeira obra projectava parte da sua própria intimidade (Tom Ford com Um Homem Singular), importa referir o jovem canadiano Xavier Dolan(-Tadros), que com o filme J’ai tué ma mère (um Tudo sobre a minha Mãe que estuda sobre as relações familiares na sociedade contemporânea, focando-se particularmente na de um adolescente de dezasseis anos, atrevido e explosivo como é dado na idade, fervilhante em ideias e criações, apaixonado pelo namorado e que discute constantemente com a mãe) comemorou no Festival de Cannes a sua estreia no cinema, com 20 anos acabados de fazer. 

Em boa verdade, podemos considerar este autêntico benjamim uma espécie de ícone de toda uma nova geração de realizadores que se tem vindo a formar na era do culto da rapidez no consumo da imagem e do audiovisual. Nascido em 1989 no Quebeque, a sua incursão pelo universo das câmaras foi precoce. Aos cinco anos, representou pela primeira vez numa série televisiva e em anúncios publicitários e, em 1997, estreou-se como actor no cinema, à semelhança do que fez o pai, acabando por ter mais projecção no filme de terror franco-canadiano Martyrs, de 2008. No entanto, a decisão de entrar no cinema de um ponto de vista mais criativo e autoral fez-se relativamente tarde, aos 17 anos, quando conheceu "as diferentes pessoas" que o "inspiraram e mostraram o caminho" e a obra de grandes nomes como Abbas Kiarostami, Gus Van Sant e François Truffaut (este último que, lembra Xavier, os amigos viam já com nove anos enquanto ele se divertia ainda com o Sozinho em Casa). 

A ele, chamam-lhe de hipster, um rebelde egocentrêntrico que só se quer filmar e falar de si. E, de certa forma, é verdade. Apesar da sua destreza no plano da realização e argumento (fruto de uma cinefilia tardia vista em deslumbramento e de uma experiência pessoal semelhante à de tantos outros adolescentes – e daí a facilidade da identificação com os seus filmes), Dolan é uma voz singular agregadora de muitas outras. Ou, como já escrevi, “um Gus Van Sant que se casa com Wong Kar-Wai e tem Pedro Almodóvar como amante”. 

Contudo, não retiremos mérito à sua segunda longa-metragem, Amores Imaginários, que saiu há poucos dias no mercado português de DVD. Amores Imaginários, que segue um triângulo amoroso (do qual, evidentemente, Dolan faz parte) parte de uma busca – do amor, de uma forma de reenquadrar a realidade, de um estilo que possa dizer “é meu e de mais ninguém”. Enfim, de uma identidade, se quisermos por nestes termos. 

Apesar de não devermos subestimar as qualidades cinematográficas da jovem obra de Xavier Dolan, há a certeza de que é preciso um amadurecimento. E, no seu caso, parece que tentar é a única solução (da sua autoria, esperamos Laurence Anyways, longa-metragem sobre o amor impossível entre um transexual e uma mulher, e Letters to a Young Actor, vão estrear em 2012 e 2014, respectivamente) . De certa maneira, é precisamente essa pulsão para fazer, sem medo de errar, que mais podemos apreciar no seu cinema, carregado de uma energia que só um jovem poderia oferecer.

A edição em DVD de Amores Imaginários pode ser comprada aqui. Este texto congrega partes de dois artigos publicados no blogue aqui e aqui.

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